![“A Estrela Cadente” traz o humor torto de Abel & Gordon “A Estrela Cadente” traz o humor torto de Abel & Gordon](https://www.matinaljornalismo.com.br/wp-content/uploads/bfi_thumb/dummy-transparent-ot8zwe1ak3nhdsp6rv144h9upxur8ftb4n7tcg1j0u.png)
Parceiros na vida e na arte, Fiona Gordon, canadense nascida na Austrália, e o belga Dominique Abel trabalham juntos desde 1980 com teatro físico. No cinema, já dirigiram, escreveram e estrelaram vários curtas e longas, como o sucesso Perdidos em Paris (2016). A dupla divertida volta agora com A Estrela Cadente (2023), saborosa comédia de erros de poucos diálogos e muitos estranhamentos que lembra o estilo peculiar do cineasta finlandês Aki Kaurismäki.
Exibido no Festival de Locarno, a história gira em torno do bar em Bruxelas que dá nome ao longa, onde Boris – interpretado pelo próprio Abel – tenta deixar para trás seu passado de terrorista trabalhando como barman ao lado da esposa Kayoko (Kaori Ito), com a cumplicidade do dono do estabelecimento, Tim (Philippe Martz). O passado de Boris, porém, finalmente o alcança quando um estranho misterioso aparece no bar, armado e querendo vingança.
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A saída surge por acaso, quando o casal topa na rua com um sósia de Boris – também vivido por Abel – e resolve colocá-lo no lugar do ativista fugitivo. O plano vai dando certo até que entra em cena Fiona (Gordon), ex-esposa do deprimido Dom e detetive particular atrapalhada, que começa a investigar o paradeiro do ex-marido.
Segundo Abel & Gordon, A Estrela Cadente reflete a turbulência social da atualidade: “Cada vez que abrimos a porta podemos ouvir um apelo: um mundo sem consciência está destruindo o mundo”. Abel & Gordon lembram que seus filmes costumam ser classificados como “burlesco poético”: “Ao cruzar a estrada da comédia física para o filme noir, nós não abandonamos nosso desejo de criar humor. Nós exploramos uma paleta mais ácida. Pessimismo, niilismo e melancolia irrigam A Estrela Cadente, mas nossos personagens são moralmente ineptos e enchem o filme noir com cores vibrantes”.
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Dominique Abel e Fiona Gordon se conheceram em Paris no final dos anos 1970 na célebre escola de teatro e mímica do mestre francês Jacques Lecoq (1921 – 1999) e nunca mais se desgrudaram. Inspirados em mestres do humor físico das comédias mudas como Buster Keaton, Harold Lloyd, Max Linder e Jacques Tati, os clowns Abel e Gordon lançam mão novamente em A Estrela Cadente de seu característico humor gauche, calcado em piadas visuais minuciosamente coreografadas que quase dispensam as falas – e que pode ser conferido também em filmes como o extravagante Rumba (2008), exibido no Festival de Cannes e aplaudido mundo afora, inclusive no Brasil.
Transitando entre absurdo, romântico, hilariante e melancólico, A Estrela Cadente evoca tanto o humor áspero e desesperançado de filmes de Aki Kaurismäki quanto pureza genial de Charles Chaplin – citado explicitamente na parte final da trama em uma sequência na qual Boris acaba involuntariamente liderando uma passeata política, da mesma forma que o protagonista no clássico Tempos Modernos (1936).
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Perdidos em Paris: * * * * *
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