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“Armageddon Time” lembra tempos difíceis de ontem e hoje

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“Armageddon Time” lembra tempos difíceis de ontem e hoje Universal/Divulgação

Indicado à Palma do Ouro no Festival de Cannes deste ano, Armageddon Time (2022) estreia nos cinemas nesta quinta-feira (10/11). Produzido pela RT Features, do produtor brasileiro Rodrigo Teixeira, o drama autobiográfico do diretor James Gray mostra o amadurecimento de um menino na Nova York do começo dos anos 1980 e tem no elenco astros como Anthony Hopkins e Anne Hathaway.

Armageddon Time se passa no bairro nova-iorquino do Queens em 1980, onde vive Paul Graff (Banks Repeta), um pré-adolescente com problemas de adaptação na nova escola pública onde estuda. Mimado pela mãe Esther (Hathaway) e cobrado pelo pai Irving (Jeremy Strong), o pré-adolescente acompanha sem muito interesse as discussões sobre planos para o futuro, sonhos e decepções de sua família judia reunida em torno à mesa em ocasiões especiais.

Em constante rusga com o irmão mais velho, Paul só consegue se relacionar emocionalmente com o simpático avô Aaron Rabinowitz (Hopkins), um judeu emigrado da Europa que foi com os pais aos Estados Unidos em busca do sonho americano. A improvável amizade no colégio com o igualmente rebelde Johnny Davis (Jaylin Webb), um menino negro pobre que mora com a avó doente, vai levar o protagonista a experimentar as aventuras do companheirismo e também a deparar com a dura realidade do racismo e da discriminação social.

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Primeiro longa rodado em digital por James Gray – diretor e roteirista de títulos como Ad Astra: Rumo às Estrelas (2019), também produzido por Rodrigo Teixeira –, Armageddon Time registra as cores e tonalidades típicas dos filmes e fotos da época da história graças às lentes da década de 1970 utilizadas pelo diretor de fotografia Darius Khondji. O título apocalíptico é uma referência ao teor das declarações de Ronald Reagan, que aparece algumas vezes no filme em cenas de entrevistas na televisão. Segundo Gray, o presidente eleito em 1980 estava “sempre mencionando o fim do mundo. Foi um trauma cultural. Isso pesou nas crianças em 1980. No clipe que você vê no filme, ele está falando sobre o Armagedom como resultado da homossexualidade, o que é uma loucura. Ele está falando sobre Sodoma e Gomorra”.

No terceiro ato da trama, quando Paul é transferido pelos pais para a escola particular de elite em que o irmão estuda, Armageddon Time completa o desenho do quadro social da época – estabelecendo ao mesmo tempo uma conexão com a realidade estadunidense de hoje, em que a insegurança econômica e o conservadorismo voltaram a pautar a agenda nacional. Oriundo de uma classe média que tenta com dificuldades superar as origens trabalhadoras para alcançar o conforto da ascensão material, o personagem percebe que a camada rica e privilegiada da sociedade não tolera a existência de quem não fazer parte do seu clube exclusivo ouvindo no colégio os discursos do empresário milionário Fred Trump (John Diehl) e da magistrada Maryanne Trump (Jessica Chastain) – respectivamente, pai e irmã do ex-presidente Donald Trump.

Merecem destaque as boas atuações do elenco, especialmente dos jovens atores que interpretam Paul e Johnny e do grande Anthony Hopkins, como sempre carismático como o avô amoroso que enxerga o potencial do neto e não se conforma com as injustiças que vê – um papel que pode render ao inglês mais uma indicação ao Oscar. Diferentemente de outros filmes sobre personagens em processo de amadurecimento, não há tragédias traumáticas ou lições de superação espetaculares em Armageddon Time: a força do filme está em mostrar o doloroso trabalho cotidiano de enfrentar com humanidade a brutalidade incontornável do dia a dia.

Universal/Divulgação

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Armageddon Time: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Armageddon Time:

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