Pandora Filmes/Divulgação
Para o pequeno Émile (Jules Lefebvre), o pai é um herói: suas histórias incríveis são as melhores do mundo. Esse é o ponto de partida da simpática comédia dramática francesa As Histórias de Meu Pai (2020), de Jean-Pierre Améris, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (9/2).
O roteiro, assinado por Améris e Murielle Magellan, parte da novela de Sorj Chalandon e apresenta a figura peculiar do personagem paterno André, interpretado pelo celebrado ator belga Benoît Poelvoorde – astro de títulos como Coco Antes de Chanel (2009) e Românticos Anônimos (2010). A trama se passa no começo dos anos de 1960, quando André divide com Émile suas mirabolantes peripécias – como ser campeão de judô, paraquedista, jogador de futebol, espião e, em especial, conselheiro do carismático líder francês Charles de Gaulle.
Chega o momento da missão mais importante de André: matar o famoso general, que o teria traído. O personagem pede então ajuda ao filho, que deverá se arriscar pelo pai. Mas Émile começa a se questionar: e se as histórias do pai forem mentirosas?
Em As Histórias de Meu Pai, a mitomania do protagonista é vista com ingenuidade e algo de lúdico pelo olhar do filho. O diretor e roteirista Améris conta que o livro original é muito mais soturno – mas que, para o filme, decidiu mudar o tom, aproximando a trama da comédia: “Eu queria que o filme tivesse uma espécie de fantasia que ecoasse a loucura desse pai. Inventar sua vida, às vezes pode ser mais alegre do que a vida real”.
O realizador de títulos como O Homem que Ri (2012) e A Linguagem do Coração (2014), aponta, no entanto, que há um lado bastante dramático em As Histórias de Meu Pai ao mostrar um pai que abusa do filho psicologicamente: “O pai não quer destruir seu filho, nem apagá-lo. Ele quer arrastá-la para sua loucura, para um mundo de pura ficção, mas o que acaba sendo perigoso. Tudo isso para não ficar sozinho ali, para ter um amigo. Você precisa de um ouvinte mitomaníaco”.
Améris conta que desde o início do projeto pensava em Poelvoorde – que interpretou um serial killer no excelente e ultrajante falso documentário belga Aconteceu Perto da Sua Casa (1992) – como protagonista de As Histórias de Meu Pai. “Na verdade, existe um medo hoje de fazer o papel de um homem que humilha a esposa e bate no filho. Mas, se os atores não estão ali para encarnar a escuridão humana, tudo desmorona. E Benoît faz isso muito bem, pois essa também é a nossa humanidade”, argumenta o cineasta.
As Histórias de Meu Pai coloca em foco as consequências traumáticas na vida e na saúde mental de uma família afetada pela guerra – nas caso o conflito entre França e Argélia por conta da luta de independência do país do Norte da África, entre 1954 e 1962, cujos ressentimentos históricos latejam até hoje no cotidiano de ambos os países.
As Histórias de Meu Pai: * * *
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