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“As Linhas da Minha Mão” faz retrato possível de uma atriz

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“As Linhas da Minha Mão” faz retrato possível de uma atriz Embaúba Filmes/Divulgação

Grande vencedor da Mostra Aurora do Festival de Tiradentes do ano passado, As Linhas da Minha Mão (2023), de João Dumans, é fruto de uma série de encontros entre o cineasta e a artista Viviane de Cássia Ferreira nos quais ela fala sobre a vida, o trabalho e sua própria experiência com a loucura. Dividido em sete atos, o filme é ao mesmo tempo o retrato de uma mulher e um estudo sobre as possibilidades desse perfil.

“Minha questão em relação a Viviane, minha percepção e fascinação por ela, estão muito relacionadas à clareza e à precisão com que ela é capaz de articular certas ideias sobre a vida e sobre a loucura. Com o seu poder de síntese e de explicação de realidades e estados emocionais complexos. Coisas que me parecem ser bem difíceis de formular. Seja em relação à loucura, à solidão, a questões afetivas e sexuais”, explica Dumans, codiretor com Affonso Uchoa do belo premiadíssimo drama Arábia (2017).

Atriz do núcleo Sapos e Afogados, um dos grupos teatrais mais destacados do Brasil na área de criação e saúde mental, Viviane se abre diante da câmera sobre questões delicadas como o próprio adoecimento, já que convive desde os 30 anos com o diagnóstico de transtorno bipolar. No filme, ela fala de forma aberta também sobre solidão e sexualidade, temas tabus para mulheres mais velhas na sociedade brasileira – mas de uma maneira leve e divertida, provocando o público a se identificar com sua personagem e a perceber essas questões a partir de um ângulo inusual.

Embaúba Filmes/Divulgação

“Fico pensando na depressão como uma senhora fria e triste que vai ao nosso portão todas as manhãs, como diz o verso de uma banda da minha época. Na música, a pessoa sorri e manda ela ir embora. Tenho que fazer esse exercício diário. E, cada vez que consigo, a sensação que vem é a de juventude. De que tenho mais vida. Porque a depressão é o polo oposto, é a pulsão de morte”, reflete a artista.

O diretor e roteirista Dumans também destaca a importância do improviso no filme que, para ele, “significa esse lugar específico da atuação onde a vida e o cinema se confundem”: “Para cada realizador, trabalhar com um não-ator, um ator não profissional ou um ator iniciante, improvisar, significa coisas diferentes. No nosso caso, o improviso consistia na disponibilidade de estar junto e tentar encontrar alguma coisa que nós ainda não sabíamos o que era”.

No texto de premiação de Melhor Filme, O Júri da Mostra Aurora de Tiradentes justificou assim o prêmio de Melhor Filme concedido para As Linhas da Minha Mão: “O quadro se torna a abertura de uma pessoa que a todo momento desafia a noção de bordas, expande limites e se prova uma fabuladora maior que a vida. Um sujeito que inventa a si mesmo diante de nós, plano a plano”.

Embaúba Filmes/Divulgação

As Linhas da Minha Mão: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de As Linhas da Minha Mão:

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