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“Asteroid City” é visão bizarra dos EUA nos anos 1950

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“Asteroid City” é visão bizarra dos EUA nos anos 1950 Universal/Divulgação

Chega aos cinemas nesta quinta-feira (10/8) a nova esquisitice de Wes Anderson. Visualmente exuberante e com um elenco estelar, Asteroid City (2023) é um filme sobre o Zeitgeist dos Estados Unidos em meados da década de 1950 que aborda no estilo maneirista e fragmentado típico do cineasta ícones e temas da época como os testes nucleares, a amplidão das paisagens dos westerns, a afluência do pós-guerra, o teatro norte-americano moderno e a obsessão com extraterrestres.

Asteroid City teve sua estreia mundial no Festival de Cannes deste ano, concorrendo à Palma de Ouro. Como de hábito nas produções dirigidas por Wes Anderson, as referências metalinguísticas se somam a fim de evitar sempre o registro realista: a história é introduzida por um apresentador de TV (Bryan Cranston) que narra para o público em um especial em preto e branco como foi criada uma peça escrita por um respeitado dramaturgo (Edward Norton) sobre um grupo de pessoas que se reúne em um lugarejo perdido no deserto para uma competição científica juvenil; a encenação teatral, porém, logo vira na tela um filme coloridíssimo que remete aos faroestes dos anos 1950 rodados em Technicolor.

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A cidade fictícia da trama foi erguida em torno de um meteorito que caiu há 5 mil anos e perto de onde o governo realiza testes nucleares. É nesse lugar no meio do nada em que se reúnem jovens estudantes geniais e seus pais em uma convenção que inclui a observação de estrelas e fenômenos celestes. A aparição de um alienígena, no entanto, altera o rumo do evento e todos são obrigados pelo Exército a ficar isolados em quarentena em Asteroid City.

O caleidoscópio de tipos e situações característicos do imaginário norte-americano da época inclui um fotógrafo de guerra aventureiro (Jason Schwartzman), uma estrela de cinema blasé (Scarlett Johansson), um ricaço boa-vida (Tom Hanks), um caubói romântico (Rupert Friend), um diretor de teatro genial (Adrien Brody), um dono de motel de beira de estrada (Steve Carell), uma severa astrofísica (Tilda Swinton), um general durão (Jeffrey Wright) e um professor de teatro stanislavskiano (Willem Dafoe), entre várias outras figuras estereotipadas.

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Da mesma forma que em títulos anteriores como O Grande Hotel Budapeste (2014) e A Crônica Francesa (2021), Anderson investe no excesso e na excentricidade em seu novo longa para subverter o que convencionalmente seria aceitável nos respectivos meios em que se deslocam os personagens de suas histórias, confrontando o conceito social de normalidade. Quase ao final de Asteroid City, há uma frase repetida exaustivamente por um grupo de atores que soa como um manifesto do realizador a respeito de sua busca por um registro singular entre realidade e impostura, vida e ficção: “Você não pode acordar se não adormecer”.

Os fãs de Anderson vão se deliciar em Asteroid City com os virtuosismos técnicos característicos do cineasta: a direção de arte é rebuscada e inteligente, evocando tanto os bangue-bangues quanto os filmes B de ficção científica; a fotografia em tons pastéis e chapados remete à publicidade norte-americana, aos desenhos animados do Papa-Léguas e às ilustrações de Norman Rockwell; os planos frontais milimetricamente enquadrados alternam-se em movimentos laterais de câmera em estilo chicote. Porém, como quase sempre acontece nas obras do incensado Wes Anderson, falta ao roteiro de Asteroid City – coescrito pelo diretor com Roman Coppola – consistência e foco para além do mero exercício narcisista de verborragia e bizarrice autorreferente.

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Asteroid City – 6

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Asteroid City: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Asteroid City:

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