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“Batman” combate o mal em clima de film noir

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“Batman” combate o mal em clima de film noir Warner/Divulgação

Um dos mais populares heróis dos quadrinhos e do cinema está de volta às telas. Dirigido por Matt Reeves, Batman (2021) entra em cartaz nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (3/3) apresentando pela primeira vez o ator Robert Pattinson envergando o uniforme do personagem ícone da editora DC Comics.

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O filme acompanha o segundo ano do bilionário Bruce Wayne (Pattinson) como o vigilante mascarado de Gotham City, tocando o horror nos criminosos da sombria cidade, mas visto com desconfiança pela polícia. Contando apenas com alguns aliados de confiança como o mordomo confidente Alfred Pennyworth (Andy Serkis) e o tenente James Gordon (Jeffrey Wright) em meio à corrupção geral que se infiltra também entre as autoridades e figurões locais, o Homem Morcego se estabeleceu como a personificação solitária da justiça entre seus concidadãos.

O violento assassinato do prefeito mergulha Batman em uma investigação enigmática que gradualmente revela as ligações criminosas dos poderosos de Gotham com o submundo da contravenção. Em um jogo de gato e rato, o herói e o policial Gordon tentam decifrar as pistas enigmáticas deixadas pelo vilão Charada (Paul Dano) a cada atentado que perpetra contra políticos e policiais corruptos.

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Confrontando gângsteres das ruas em busca do paradeiro do furtivo serial killer Charada, Batman topa com a bela e perigosa Selina Kyle (Zoë Kravitz), jovem que trabalha em um antro noturno frequentado tanto pela bandidagem quanto pela elite e que acaba se tornando um misto de parceira e rival do protagonista na investigação.

À medida em que os crimes do Charada se sucedem, Bruce vai descobrindo evidências que colocam em risco sua própria integridade e as memórias que tinha sobre seu pai, Thomas Wayne, e sua família. Entre os antagonistas que cruzam o caminho do Cavaleiro das Trevas estão o chefão do crime Carmine Falcone (John Turturro) e o malfeitor Pinguim – interpretado por Colin Farrell, praticamente irreconhecível embaixo da maquiagem pesada e dos enchimentos no corpo que deixaram o ator com uma aparência deformada como os vilões dos quadrinhos de Dick Tracy.

Batman evoca o gênero noir sob os aspectos estéticos, temáticos e narrativos. Estão lá as características principais da “série negra” de filmes policiais que dominaram Hollywood entre os anos 1930 e 1950: a promiscuidade entre poderosos, políticos e bandidos; o clima decadente de uma cidade sombria e úmida; os esqueletos no armário no passado de famílias e figuras que ostentam uma fachada de falsa virtude; a femme fatale de motivações ambíguas que seduz o mocinho.

Diretor de dois filmes da série O Planeta dos Macacos, Matt Reeves reproduz também em Batman o apuro visual desses títulos. Filmada em locações de cidades britânicas como Liverpool, Glasgow e Londres, a trama se passa quase toda à noite, em ambientes escuros e exteriores molhados pela chuva, em cenários sórdidos ou góticos.

Estreando na pele de Batman, o inglês Robert Pattinson não chega a brilhar, mas também não decepciona. O astro que despontou como o vampiro galã da série de filmes Crepúsculo passa mais de 80% das quase três horas de duração do blockbuster com o rosto encoberto pela máscara do Homem Morcego, o que não contribui para matizar sua atuação.

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No entanto, o tom monocordicamente crispado de Pattinson em cena parece mais uma escolha consciente da direção do que uma insuficiência de interpretação. Falta ao protagonista um leque mais variado de humores, como a ironia e o cinismo, tão caros ao film noir que inspira esse Batman.

Merece destaque o espelhamento entre Batman e Charada, ressaltada no filme pelo arqui-inimigo do herói. A obsessão de ambos por querer “limpar” a cidade da sujeira moral que contamina tudo, ainda que utilizando métodos distintos, aproxima perturbadoramente na história os representantes do bem e do mal – uma característica comum, aliás, a boa parte dos antigos policiais noir. Por outro lado, essa linha perversamente borrada entre justiça e vingança aproxima Batman de filmes mais contemporâneos, como Taxi Driver (1976) e Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995).

No fim das contas, o personagem mais interessante em cena é Selina. Independente, provocante, poderosa e sensual, a Mulher Gato encarnada por Zoë Kravitz brilha a cada aparição, funcionando tanto quando enfrenta os malvados no muque como nos momentos em que interage com Batman – às vezes desafiando o protagonista, noutras insinuando-se para ele. Já os figurinos em couro preto e as motocicletas acrescentam um toque fetichista aos encontros entre a gata e o morcego, permeados sempre por um ar de tensão sensual.

Warner/Divulgação

Batman: * * *   

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Batman:

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