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“Clube Zero” faz sátira com a hipocrisia social

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“Clube Zero” faz sátira com a hipocrisia social Pandora Filmes/Divulgação

Exibido na seleção oficial do último Festival de Cannes, Clube Zero (2023) marcou o retorno da cineasta austríaca Jessica Hausner ao celebrado evento francês quatro anos após Little Joe: A Flor da Felicidade (2019), no qual a britânica Emily Beecham levou o prêmio de Melhor Atriz. Agora, é a vez de entrar em cartaz a obra controversa protagonizada pela australiana Mia Wasikowska sobre uma escola onde os jovens alunos são induzidos a parar de comer com o objetivo de encontrar a evolução espiritual.

A diretora e roteirista Jessica Hausner prossegue em seus reflexões sobre falhas sistêmicas da sociedade acompanhando a manipuladora Miss Novak (Wasikowska) e seus diletos estudantes em uma história sobre alienação, doutrinação, consumismo, distúrbios alimentares e cultura da aparência. “Clube Zero analisa como os pais transferem sua responsabilidade pelos filhos à uma professora que abusa dessa confiança. Miss Novak manipula as crianças e as aliena de seus pais. Eles são obrigados a viver o maior pesadelo de todo pai: perder seu filho. Clube Zero aborda esse medo existencial e questiona: ‘Como os pais podem monitorar seus filhos quando simplesmente não têm tempo suficiente para eles?’”, pergunta-se a realizadora.

Pandora Filmes/Divulgação

Coautora do roteiro ao lado de Géraldine Bajard – roteirista francesa com quem escreveu também as histórias de Little Joe e Amour Fou (2014) –, Hausner usa da sátira para expressar na trama a falta de sintonia entre jovens e adultos, alunos e pais. O Clube Zero que dá título ao filme é basicamente uma seita liderada por uma educadora que também tem assuntos mal resolvidos consigo própria.

Em coletiva de imprensa no Festival de Cannes, Mia disse que conversou muito com Jessica Hausner no processo de pré-produção sobre a enigmática Miss Novak e o que estava por trás de suas motivações: “Chegamos à conclusão de que era muito importante interpretá-la como se realmente acreditasse em suas filosofias de vida, de uma forma que ela acreditasse que realmente estava fazendo a coisa certa, que estava ajudando a salvar aquelas crianças e que não estava conscientemente manipulando toda uma situação”.

Pandora Filmes/Divulgação

Com planos simetricamente perfeitos, construídos com rigor técnico, Clube Zero lembra filmes esquisitos do cineasta grego Yorgos Lanthimos como Dente Canino (2009) e O Lagosta (2015) ao contar uma fábula de casa de bonecas bizarra, em que os ambientes cenográficos construídos com elegância e equilíbrio camuflam famílias infelizes cujas vidas simulam a harmonia dos comerciais televisivos.

“Há um exagero humorístico em Clube Zero. De repente, você percebe detalhes, como uma flor em uma blusa, e isso o leva a pensar sobre o processo de tomada de decisão criativa. Acho isso interessante, pois preserva a capacidade do espectador de acompanhar. Eu gosto quando um filme deixa lacunas e espaço para seus pensamentos. É um dos elementos que tornam a experiência de assistir muito prazerosa”, explica a diretora.

Pandora Filmes/Divulgação

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Clube Zero: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Clube Zero:

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