Artigos | Cinema

Disputa acadêmica é pretexto para mostrar debacle argentina em “Puan”

Change Size Text
Disputa acadêmica é pretexto para mostrar debacle argentina em “Puan” Vitrine Filmes/Divulgação

Selecionada para a 38ª edição do Prêmio Goya, que vai se realizar em fevereiro na Espanha, a coprodução argentino-brasileira Puan (2023) entra em cartaz nos cinemas nacionais nesta quinta-feira (7/12). A divertida comédia codirigida pelos argentinos María Alché e Benjamín Naishtat acompanha a rivalidade acadêmica entre dois professores universitários ao mesmo tempo em que radiografa a debacle institucional, social e econômica da Argentina contemporânea.

Na trama de Puan, o professor de filosofia Marcelo Pena (Marcelo Subiotto), que dedicou sua vida ao ensino na universidade pública, é pego de surpresa pela morte de seu mentor e chefe. Desorientado nessa nova realidade, Marcelo imagina que herdará o posto deixado pelo professor Caselli em Puan – como a Faculdade de Filosofia e Letras da UBA (Universidade de Buenos Aires) é carinhosamente conhecida, por conta da proximidade com a estação de metrô batizada com esse nome.

O que o dedicado e tímido acadêmico não esperava é que Rafael Sujarchuk (Leonardo Sbaraglia), um professor carismático e pedante formado nas melhores universidades europeias, também queira o posto. Para preservar o legado acadêmico de seu falecido mestre, Marcelo entra na competição com seu ex-colega de antigos, em uma disputa entre distintas visões de filosofia política que reflete as personalidades dos candidatos: de um lado, a solidez e sobriedade da continuidade encarnada pelo discípulo de Caselli; de outro, a modernidade disruptiva e sedutora representada por Rafael.

Vitrine Filmes/Divulgação

A precariedade profissional e econômica dos docentes serve em Puan como comentário a respeito das dificuldades enfrentadas pelos argentinos nos últimos anos. Para completar seus proventos como professor universitário cujo salário está sempre atrasado, Marcelo aceita trabalhos como lecionar filosofia para adultos em escolas de periferia e dar aulas particulares para uma milionária octogenária – situação responsável por algumas das sequências mais divertidas do filme.

Estudante de filosofia na UBA, a diretora, roteirista e atriz María Alché escreveu e dirigiu antes o belo longa-metragem Família Submersa (2018), estrelado pela atriz Mercedes Morán, que ganhou o prêmio de melhor filme da mostra Horizontes Latinos no Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha. Já o diretor e roteirista Benjamín Naishtat dirigiu o tenso thriller Vermelho Sol (2018), também uma coprodução entre Argentina e Brasil, premiado em San Sebastián como melhor direção, fotografia e ator (Darío Grandinetti).

Um dos destaques de Puan são as atuações do ótimo elenco, em especial do astro Leonardo Sbaraglia e, principalmente, de Marcelo Subiotto – perfeito como o discreto, mas apaixonado professor que se sente acuado pela transbordante figura de seu sedutor rival. O cenário onde essa disputa de egos acadêmica é travada tem um forte simbolismo: a Faculdade de Filosofia e Letras portenha é uma das instituições de perfil progressista que mais irritam a extrema-direita argentina, que acaba de ascender ao poder com a eleição de Javier Milei.

Puan é um exemplo muito bem acabado de certo cinema argentino festejado e mesmo invejado em outros países como o próprio Brasil, que equilibra com inteligência e sensibilidade o humor e a emoção em um tom agridoce, inserindo com fluidez os dramas pessoais dos personagens – em geral representantes das classes médias – com um panorama geral do país de viés histórico, político ou econômico.

Vitrine Filmes/Divulgação

Puan: * * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Puan:

PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?