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“Ithaka” acompanha a luta pela libertação de Julian Assange

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“Ithaka” acompanha a luta pela libertação de Julian Assange Pandora Filmes/Divulgação

A luta pela libertação do preso político mais famoso da atualidade está no cerne de Ithaka: A Luta de Assange (2021). Com direção do inglês Ben Lawrence, o documentário tem ao centro o ativista australiano Julian Assange, cuja condenação coloca em xeque a liberdade de imprensa no mundo todo.

O documentário acompanha a campanha empreendida por John Shipton, pai do fundador do site WikiLeaks, para evitar que o filho seja extraditado do Reino Unido para os Estados Unidos, onde poderá pegar 175 anos de prisão por seu papel na divulgação de arquivos diplomáticos. Shipton esteve em Porto Alegre na semana passada divulgando o filme e sua causa – leia a entrevista exclusiva do australiano à Matinal.

Criado em 2006, o WikiLeaks divulgou em 2010, entre outros, documentos secretos do exército norte-americano sobre a Guerra do Afeganistão. Enfrentando acusações criminais dos EUA por conta dos vazamentos de informações consideradas sigilosas e da Suécia devido a uma acusação de estupro, Julian Assange pediu asilo político para a embaixada do Equador em Londres – onde ficou até abril de 2019, quando foi preso pela polícia britânica, permanecendo preso até hoje na prisão de segurança máxima de Belmarsh.

Julian Assange. Foto: Les Wilson/Divulgação

A ideia do filme partiu do meio-irmão de Julian, o produtor Gabriel Shipton, que procurou Ben Lawrence com a proposta do filme. “O conceito do documentário era acompanhar o pai deles pelo mundo enquanto fazia campanha pela liberdade de Julian. Gabriel visitou Julian pela primeira vez na prisão de Belmarsh em 2019 e ficou tão impressionado com a terrível condição em que Julian se encontrava que decidiu começar o processo de contar sua história como um documentário. Então, quando cheguei no filme, no final de 2020, eles já haviam começado a filmar seis meses antes”, explica Lawrence, diretor também do drama Retratos de Guerra (2019).

Segundo o realizador, foi o próprio Gabriel que convenceu a família a se abrir diante das câmeras e contar sua história e a de Assange: “Com o apoio dele, pudemos nos aproximar dos familiares, em especial de John. Também creio que a maneira observacional pela qual construímos o filme ajudou na atmosfera de confiança e produziu um ambiente no qual pudemos filmar reuniões familiares e momentos íntimos”.

O documentarista aponta que, para ele, a ideia essencial do filme era apresentar Shipton como uma figura muito humana em meio ao caos que sua vida se transformou com a prisão de Assange. Há momentos, por exemplo, em que o pai do ativista opta por não responder as perguntas – algo que Lawrence não vê exatamente como um problema: “Essa opção é tão reveladora quanto uma resposta detalhada e prolixa. O importante é que essas perguntas foram feitas. Em alguns aspectos, as perguntas que John não respondeu e os sentimentos por trás delas seriam diminuídos por palavras. Essas questões de conexão familiar são questões complexas e profundas. Então, como começamos a realmente expressá-las plenamente? Acho que foi importante ver John se irritar com minhas perguntas. Foi um processo difícil, mas é importante dizer que muitas vezes ele acabava de chegar em casa depois de uma dúzia ou mais de entrevistas e só via seu filho à distância do outro lado do tribunal”.

Pandora Filmes/Divulgação

Lawrence, por fim, aponta que Assange pagou um alto preço por seu trabalho: “Nesse tempo em que acompanho de perto sua história, percebi um aumento acentuado no apoio a ele e ao seu trabalho, o que é encorajador. Eu realmente não acho que haja qualquer pessoa de renome que acredite que sua acusação deva continuar. Todos os principais jornais globais pediram sua libertação. Um número alto de líderes mundiais também. Milhões de pessoas em todo o mundo estão pedindo ativamente por sua libertação e todos os principais grupos globais de direitos humanos e imprensa livre estão pedindo o fim de seu processo”.

Merece destaque no filme a trilha sonora, assinada pelo lendário músico, compositor e produtor Brian Eno – nome fundamental da música eletrônica e um dos criadores da banda Roxy Music, que já produziu discos de grupos como U2.

Pandora Filmes/Divulgação

Apesar de obviamente orbitar em torno de Julian Assange e de acompanhar de perto também o cotidiano e o trabalho da advogada Stella Morris, esposa do ativista engajada em sua defesa, Ithaka concentra grande parte de sua atenção narrativa e dramática na figura de John Shipton.

Reservado, inteligente, muitas vezes esquivo e mesmo distante, o pai de Assange é um personagem fascinante e enigmático, que pouco revela sobre si e, especialmente, a respeito de sua história familiar com o filho, com quem só retomou o contato na vida adulta. O documentário, porém, não faz questão de avançar na investigação das intrigantes personalidades de Assange e Shipton, concentrando-se mais em mostrar os passos da batalha judicial pela liberdade do ativista e comprometendo muitas vezes o ritmo da narrativa com sequências lentas e reiterativas e um excesso de textos explicativos na tela – até a imagem do gato de Assange ganhou uma legenda com seu nome.

Pandora Filmes/Divulgação

Pandora Filmes/Divulgação

Ithaka: A Luta de Assange: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Ithaka: A Luta de Assange:

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