
Oito anos depois do último filme da franquia, Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes (2023) leva novamente aos cinemas o mundo distópico da imaginária Panem e seu cruel reality show classista. A nova produção é uma prequela, ambientada mais de seis décadas antes do nascimento da mocinha Katniss Everdeen, quando o futuro vilão Coriolanus Snow ainda é um jovem universitário dividido entre a ambição e as boas intenções.
O longa é dirigido por Francis Lawrence, responsável pelos últimos três longas da série, e é o primeiro dos cinco Jogos Vorazes sem a presença da estrela Jennifer Lawrence. A trama mostra Coriolanus Snow (Tom Blyth) na juventude, 64 anos de se tornar o tirânico presidente de Panem, quando os Jogos Vorazes enfrentam uma crise de audiência em sua décima edição.

O aplicado Snow é um dos estudantes da elite selecionados pelo criador dos Jogos Vorazes, o reitor Highbottom – interpretado pelo ótimo Peter Dinklage, o Tyrion Lannister da série Game of Thrones –, para ser tutor de um dos jovens escolhidos nos diversos distritos subjugados pela capital para participar da mortal competição, que é televisionada para todo o país. O tributo a cargo de Snow é uma garota rebelde do Distrito 12 chamada Lucy Gray Baird (Rachel Zegler, do filme Amor, Sublime Amor), que desperta o interesse do rapaz por sua beleza e coragem.
O laço entre Snow e Lucy Gray se estreita à medida que se aproxima a hora de começarem os Jogos – e a dupla terá que enfrentar não apenas os adversários na arena e fora dela, mas principalmente as manobras da sádica da Dra. Volumnia Gaul (Viola Davis), coordenadora do evento. O elenco conta ainda com Jason Schwartzman no papel do apresentador almofadinha do reality, Fionnula Flanagan como a avó de Snow e Hunter Schafer, da série Euphoria, vivendo a prima do protagonista.



Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes busca explorar as ambiguidades de caráter e motivações dos personagens, especialmente do impetuoso Coriolanus Snow – vivido com expressividade pelo jovem ator Tom Blyth. O roteiro irregular, porém, derrapa muitas vezes pela falta de sutileza: as hesitações e reviravoltas na natureza de Snow carecem de consistência dramática e parecem às vezes esquemáticas. Já a grande atriz Viola Davis padece em cena em uma caracterização que beira o ridículo, parecendo um vilão excêntrico saído de algum filme antigo de 007.
A ausência de medida também é um problema com relação à trilha sonora: o excesso de canções interpretadas na íntegra durante a ação por Lucy Gray – apresentada como uma cantora folk que lembra Joan Baez – quebram o ritmo da história e sublinham um viés musical que soa artificial e às vezes até constrangedor no filme. Por fim, a presença de muitas sequências demasiadamente longas ou mesmo dispensáveis tornam cansativas as mais de duas horas e meia de duração da produção.
Além da boa química na tela entre o casal central, vale destacar ainda em Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes a evocativa direção de arte, especialmente os figurinos e a cenografia – que remete à arquitetura grandiloquente e cinzenta do nazi-fascismo e do realismo socialista na capital de Panem e às cidadezinhas estadunidenses empobrecidas da época da Grande Depressão nos distritos.



Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes: * * *
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