Paris Filmes/Divulgação
Vencedor do prêmio de melhor filme do Festival de Sitges – evento espanhol considerado o mais importante do cinema fantástico no mundo –, O Mal que Nos Habita (2023) apresenta um cenário inusual no gênero de terror: o interior rural da Argentina. No filme dirigido por Demián Rugna, um demônio pouco a pouco vai possuindo moradores de um ermo povoado, espalhando terror e sangrentas mortes pela região.
No longa – que teve sua estreia mundial durante o Festival de Toronto em 2023 –, os irmãos Pedro (Ezequiel Rodríguez) e Jimi (Demián Solomón) encontram em um rancho próximo de sua fazenda um homem possuído por um demônio. Segundo as crenças locais, o “encarnado” é um hospedeiro de uma entidade maligna que pretende materializar-se no mundo.
Como um possuído não pode ser eliminado de qualquer maneira, sob pena de libertar o diabo que abriga, os irmãos, sob a liderança do latifundiário local, retiram o infectado do local onde vive para abandoná-lo distante dali. A ação, porém, só contribui para que o mal se propague tanto entre animais quanto em seres humanos, provocando uma onda de mortes violentas e macabras.
Em Aterrorizados (2017), filme anterior do diretor e roteirista Demián Rugna, o maligno surgia em um bairro de Buenos Aires. Já a mudança de cenário para o campo em O Mal que Nos Habita é perturbadoramente fascinante, potencializando o medo primitivo do desconhecido e o fascínio pelas superstições que dão estofo à história.
Na primeira parte do filme, a estranheza dos episódios, o ambiente rústico onde a trama se desenrola e a explicitude gore das cenas mais violentas impressionam e prendem a atenção do espectador. No entanto, a partir da metade do longa, especialmente no ato final, o excesso de explicações inconsistentes e pouco inspiradas a respeito do fenômeno satânico desbastam o efeito do desconforto inicial, tentando iluminar sem sucesso um mistério cujo efeito era mais efetivo quando mantido pelo menos em parte nas trevas.
Mesmo perdendo muito das sua força à medida que o enredo avança, O Mal que Nos Habita logra o objetivo de impactar com suas imagens perturbadoras e sanguinolentas, emolduradas pelo pampa argentino onde a presença humana parece submetida à força da paisagem – cenário aberto ideal, quem sabe, para o sobrenatural reivindicar um lugar entre nós.
O Mal que Nos Habita: * * *
COTAÇÕES
* * * * * ótimo * * * * muito bom * * * bom * * regular * ruim
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