Peter von Kant (2022), filme do diretor francês François Ozon que abriu o último Festival de Cinema de Berlim e foi indicado ao Urso de Ouro, estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (20/10). Baseado em As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972), obra-prima do alemão Rainer Werner Fassbinder (1945 – 1982), o longa troca a personagem Petra por Peter, um célebre cineasta que se envolve amorosamente pelo jovem aspirante a ator Amir – marcando assim a volta de Ozon à temática LGBTQIA+.
No mais recente trabalho do prolífico realizador Ozon, o diretor de cinema Peter von Kant (Denis Ménochet) mora na Munique de 1972 com seu assistente Karl (Stefan Crepon), a quem constantemente maltrata e humilha. Sidonie (Isabelle Adjani), uma grande atriz e musa do passado nos filmes de Peter, o apresenta a Amir (Khalil Ben Gharbia), um rapaz ambicioso que deseja entrar no mundo do cinema.
Peter se apaixona pelo jovem e o convida para morar com ele em seu apartamento com a promessa de lhe abrir as portas da indústria cinematográfica. O plano funciona – mas assim que Amir ganha fama, termina o relacionamento com Peter, que se vê sozinho e obrigado a lidar com seus próprios demônios.
Admirador da poderosa e ácida obra de Fassbinder – autor de quem adaptou uma peça uma peça com a comédia dramática Gotas d’Água em Pedras Escaldantes (2000) –, Ozon emulou do mestre tanto a incansável capacidade criativa quanto o gosto pelo melodrama e, sobretudo, pela implacável crítica dos costumes burgueses. Em Peter von Kant, o realizador francês presta homenagem ao ídolo não apenas revisitando com inspiração um dos grandes títulos de Fassbinder, mas inclusive substituindo a figura protagonista original, uma estilista arrogante, por uma espécie de alter ego do genial diretor de O Casamento de Maria Braun (1979), Berlin Alexanderplatz (1980) e O Desespero de Veronika Voss (1982).
As referências ao universo fassbinderiano em Peter von Kant contam ainda a participação como mãe do personagem central da grande atriz Hanna Schygulla – que participou de diversos filmes do alemão, incluindo As Lágrimas Amargas… – e a referência no cartaz do filme ao pôster original de Querelle (1982), criado pelo artista Andy Warhol.
Menos ligado ao melodrama e mais dinâmico do que o título que parafraseia, Peter Von Kant mantém-se fiel à mesma intensidade emocional e ao tom camerístico desse trabalho antológico de Fassbinder, revisitando com originalidade as dinâmicas de dominação e submissão que conduzem a trama, tanto no plano individual quanto no sociológico – expandindo-se para uma reflexão sobre a própria lógica capitalista, que acaba por determinar também as relações pessoais e afetivas.
Peter von Kant: * * * * *
COTAÇÕES
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