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“Wonka” aposta demais no lado doce da vida

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“Wonka” aposta demais no lado doce da vida Warner/Divulgação

Willy Wonka está de volta ao cinema com um novo rosto: o de Timothée Chalamet. O ator encarna o personagem – que já foi vivido por Gene Wilder em 1971 e Johnny Depp em 2005 – em Wonka (2023), comédia musical ambientada antes do surgimento da Fantástica Fábrica de Chocolate, cuja história alia a leveza de títulos do gênero como Mary Poppins (1964) à sordidez social dos contos de Charles Dickens.

Baseado no clássico da literatura juvenil A Fantástica Fábrica de Chocolate, do autor britânico Roald Dahl (1916 – 1990), Wonka conta as origens da história do jovem Willy Wonka, que desembarca em uma cidade grande disposto a oferecer para o público suas delícias depois de rodar o mundo após a morte da mãe (Sally Hawkins). Ingênuo e de bom coração, o sonhador chocolatier cai já em seu primeiro dia no novo destino na lábia de um escroque (Tom Davis), que o convence a assinar um contrato draconiano que o torna praticamente escravo na lavanderia da sádica Dona Alva – interpretada pela sempre ótima Olivia Colman.

Apesar dos contratempos, o obstinado Wonka não desiste de seus planos: auxiliado pela menina órfã Noodle (Clarah Lane), ele tenta achar uma maneira de produzir seus doces fabulosos, enfrentando um chefe de polícia corrupto manipulado por um trio de poderosos e inescrupulosos empresários que dominam um cartel local de chocolate.

Warner/Divulgação

Com uma direção de arte caprichada e nostálgica, que evoca alguma metrópole europeia dos anos 1930, e uma trilha sonora competente – mas não empolgante –, Wonka consegue criar um universo próprio envolvente. Como nas aventuras da série Harry Potter e em outras narrativas do tipo, a realidade no filme é perpassada por fantasia e magia e temperada com o típico humor desconcertante britânico – o diretor e roteirista Paul King é o mesmo de As Aventuras de Paddington (2014) e Paddington 2 (2017), produções protagonizadas por um simpático urso peruano falante que circula pelos cenários de Londres.

A comicidade, aliás, é o ponto forte de Wonka: além de um punhado de vilões caricatos engraçados, destacam-se no filme a participação do humorista Rowan Atkinson – o eterno Mr. Bean –, como um patético padre chocólatra, e o ator Hugh Grant em divertidas aparições na pele do icônico homúnculo alaranjado Oompa-Loompa, cuja missão é azucrinar incansavelmente a vida do protagonista.

Ainda que Timothée Chalamet desempenhe com convicção seu papel – o filme gira todo em torno de sua figura –, formando uma boa dupla em cena com a jovem atriz Calah Lane, falta ao personagem principal as características menos benevolentes que o personagem apresentava tanto na clássica versão de 1971 de A Fantástica Fábrica de Chocolate quanto no filme dirigido por Tim Burton em 2005, como uma boa dose de extravagância maniática, uma pitada de egoísmo imaturo e uma generosa porção de misantropia. Ingredientes que faziam, no final das contas, Willy Wonka parecer mais humano – na atual versão, o mestre chocolateiro ficou reduzido a um herói doce demais.

Warner/Divulgação

Wonka: * * *

COTAÇÕES

* * * * * ótimo     * * * * muito bom     * * * bom     * * regular     * ruim

Assista ao trailer de Wonka:

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