Artigos | Marcelo Carneiro da Cunha | Série

Friends forever

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Friends forever HBO/Divulgação

Quem está vivo neste final de 2023 sabe que morreu o ator Matthew Perry, imortal no seu papel de Chandler Bing, o mais divertido de todos os personagens do seriado de humor mais popular que já houve, Friends. A surpresa e o choque não foram maiores porque quem sabia algo de Friends sabia da longa história de problemas com álcool e drogas que Perry enfrentou desde os seus 14 anos, o que não deixa de ser estranho em um sujeito que foi, nessa juventude, um tenista de primeira linha.

Com a notícia da morte viralizando em nível mundial, muita gente, e esse que vos atormenta com estas pessimamente traçadas linhas, foi rever Friends – todas as 10 temporadas estão disponíveis no seu HBO Max e Amazon Prime Video. Não sei se os leitores têm a mesma sorte e experiência, mas eu tenho um grupo de amigos inseparáveis, não importa o tempo e a distância.

Nos conhecemos basicamente na universidade, pra nunca mais parar. E víamos juntos os episódios de Friends nos anos 1990, achando divertido que houvesse gente sendo paga para fazer exatamente o que nós fazíamos de graça – que era praticar essa coisa chamada amizade de um jeito tão inteiro.

A série criou rugas em parte, caducou em parte, e segue sendo televisão e vida de primeira qualidade no resto. Nada feito nos anos 1990 deixa de ser esquisito nos dias de hoje, especialmente quando se olha os primeiros episódios e primeiras temporadas, mais mergulhadas ainda na década dos cabelos esvoaçantes e blazers com ombreiras. Lembram?

Algumas piadas soam grosseiras, machucam minorias e renderiam cancelamentos à mancheia nos dias mais puros de hoje, mas Friends é uma reunião incomum de argumentos, textos brilhantemente escritos e a química perfeita entre um grupo de atores que se transformou nos personagens, ao ponto de nunca mais terem se livrado deles, com a pequena compensação de saírem com fortunas de atores da lista A de Hollywood. Eles foram os primeiros a ganhar 1 milhão de dólares por episódio – cada um deles.

Quem aproveitou a lição, como vemos, foi a Millie Bobby Brown pro cachê de Stranger Things. Assim se muda realidades nesse mundo vasto mundo.

Para a minha homenagem a Matthew Perry e seu Chandler eu consegui achar uma pessoa adulta que nunca tinha visto Friends pra valer, e assistimos juntos aos primeiros episódios da temporada inicial, de 1994.

HBO/Divulgação

É incrível como tudo estava ali, desde os minutos iniciais. Ross se tornando um ex-marido de uma mulher que o trocou por outra. Monica obsessivamente sendo obsessiva, Phoebe levitando pelo cenário, sendo uma mistura de hippie com ex-homeless, algo nunca dantes navegado, Joey já fracassando no mundo da atuação antes mesmo de ter entrado nele, Rachel gloriosamente entrando em cena vestida de noiva que fugiu do altar e do marido dentista, e ele, Chandler, glorioso na sua esquisitice semi geek, semi menor abandonado, semi ser absolutamente desprovido
de auto estima, nos fazendo gostar dele pelo que não era.

A vida, ela pode ser assim, gasta com os amigos num sofazão de um café, jogando conversa fora, enquanto se tenta resolver o resto dela, filhos, casamentos, empregos, dores de cotovelo e o time do Grêmio. Friends é meio como O Poderoso Chefão menos, bom, a máfia. A gente pode ver, rever, rever, rever, ad infinitum, que sempre acha alguma coisa, pelo menos para fazer o mundo doer menos.

Pra quem acha antidepressivo inevitável, eu recomento cinco episódios e um pote de sorvete. Pelo menos tentem, pode ser?

Friends segue firme, nas duas plataformas de streaming, e vocês podem conferir. Lá, Chandler Bing não se sente nem um pouco afetado pela morte de seu alter ego, Mattthew.

Friends é meio como um enorme e eterno bandeide pros nossos sentimentos e nossas vidas. A gente coloca e ele, de alguma maneira, torna tudo menos doído, menos na hora de tirar.

Portanto, não tirem.

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