“Cartas para uma Extraterrestre” encarna a fragilidade humana
O 30º Porto Alegre em Cena começa nesta quinta-feira (7/9) e segue até 19 de setembro com apresentações teatrais para adultos e crianças, dança, música, circo e peças de rua – confira a programação completa. No sábado (9/9), às 19h30, na Sala Álvaro Moreyra (av. Erico Verissimo, 307), o festival apresenta Cartas para uma Extraterrestre, performance de Eduardo Schmidt dirigida por Leonardo Jorgelewicz – ingressos aqui.
O espetáculo tem como base textos de nove pessoas de diversas regiões do país convidadas por Eduardo e Leonardo a escreverem para um ser alienígena hipotético. “Cada uma respondeu de um jeito muito pessoal, mas há em comum uma reflexão profunda sobre a humanidade e o que estamos fazendo nesse planeta. Uma complexidade, quase um paradoxo, se instaura: olhar para fora exige olhar para dentro”, reflete o diretor da montagem.
Eduardo conta que o espetáculo nasceu de desenhos que ele havia feito e que acabaram virando performance de dança, apresentada em uma galeria em São Paulo. “Como era durante a pandemia e tudo precisava ser virtual, tive a ideia de convidar outras pessoas para escreverem a uma extraterrestre”, recorda o bailarino.
“Tinha certa brincadeira de pensar: se acabasse tudo, como poderíamos nos reportar para alguém de fora daqui? Gosto de pensar e acho muito difícil acreditar que a gente esteja sozinho num universo tão grande – mesmo que, talvez, a gente nunca se encontre com espécies de outro planeta”, reflete Eduardo. Já o diretor do espetáculo ressalta outro aspecto do endereçamento: “Vejo como uma metáfora sobre nós mesmos, como se pudéssemos nos olhar de fora”.
Os movimentos da dança butô – ou butoh – foram a linguagem encontrada por Eduardo para o espetáculo, a partir de aulas com os bailarinos Ana Medeiros e Hiroshi Nishiyama. O estilo de dança, que teve Kazuo Ohno e Tatsumi Hijikata como precursores, nasce no contexto vivido pelo Japão nos anos 1950, alguns anos após o fim da 2ª Guerra Mundial.
“Tem muito de sombra e luz no butô. É uma dança sem forma pré-estabelecida, que aborda misérias, alegrias, ridículos e fragilidades”, observa Eduardo. “A peça traz um pouco da fragilidade da pandemia, não de forma piegas, mas também a partir do ridículo e do escrachado”, completa.
Em Cartas para uma Extraterrestre, os movimentos do bailarino se mesclam com áudios das correspondências e canções de Caetano Veloso. “É um jogo das palavras com o corpo, que tenta abrir possibilidades de interpretação para a plateia. O mais importante é esse terceiro elemento que se forma nas pessoas”, afirma Eduardo, que iniciou seus estudos de cena, ainda na infância, com o ator Heinz Limaverde, e é formado em Teatro pela UFRGS.
Foi no Departamento de Arte Dramática da universidade que Eduardo e Leonardo descobriram suas afinidades e começaram a desenvolver colaborações. Com trajetórias pela dança e pelo teatro, ambos também foram alunos do Grupo Experimental de Dança de Porto Alegre.
Às vésperas da apresentação no Porto Alegre em Cena, ao final da conversa sobre corpos, palavras e extraterrestres, o diretor da montagem faz questão de afirmar: “Todo corpo dança. Isso tem muito a ver com o nosso trabalho. Às vezes as pessoas ficam com medo, vergonha. Se tem um corpo, sabe dançar, sim”.
30º Porto Alegre em Cena
Financiado com recursos da Lei Federal de Incentivo à Cultura e da Prefeitura de Porto Alegre, o Porto Alegre em Cena selecionou 17 espetáculos locais que integram a programação de sua 30ª edição. No segmento da dança, além de Cartas para uma Extraterrestre, o festival apesenta Cães, Trivial – Um Espetáculo de Bboys e Reminiscências – Memórias do Nosso Carnaval.
O teatro de sala está representado por Esperando Godot, Os Mamutes, Pigarra, Instinto, Cabaré da Mulher Braba e Em Chamas. O Em Ceninha terá Maria Peçonha, Amazônia, um Olhar sobre a Floresta e Chuá – Descobertas na Água. Já o teatro de rua reúne Na Trilha das Andarilhas, Bolha Luminosa – o Marujo e a Tempestade e Lua – Encontrando Mares. Completa a programação local o espetáculo circense Dali.
A grade nacional oferece cinco espetáculos: do Rio de Janeiro, Julius Caesar – Vidas Paralelas; de São Paulo, Vala: Corpos Negros e Sobrevidas; de Pernambuco, Transiterrifluxório; de Santa Catarina, Frágil, Ou, Essa Dança É 30 Minutos Mais Longa do que Poderia Ser para Competir; e do Rio Grande do Norte, Muximba: o Coração Sempre Permanece Criança.
A equipe curatorial do festival é formada por Adriane Azevedo, Adriane Mottola, Airton Tomazzoni, Antônio Grassi, Juliano Barros, Renato Mendonça, Ricardo Barberena e Thiago Pirajira.
sábado, 09 de maio de 2024 | 19h30
Sala Álvaro Moreyra (Av. Erico Verissimo, 307)