Literatura | Notas

Série Câmara Hermética, da GLAC edições, lança livros inéditos

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Série Câmara Hermética, da GLAC edições, lança livros inéditos Capa. Foto: Kulturális/Divulgação

A circulação mundial de uma doença, ao romper o cotidiano e mudar a ordem das coisas, tem um efeito incontrolável no contexto sócio-político e precisa ser encarada como um acontecimento que tanto bloqueia quanto acelera processos sociais em curso. Estes livros acreditam que o pensar crítico-filosófico-político é capaz de ir além das narrativas convencionais, que enxergam na atual pandemia da Covid-19 apenas um problema médico-sanitário e econômico, o que de fato é: uma intrusão totalizante e incomensurável na rotina do planeta, que pode dar lugar a uma nova ética do comum e do cuidado, ou mesmo uma potência anormal de solidariedade transversal. Mas, o esperado, é que o dispositivo de controle, disciplinamento e manutenção opressiva dos governos e mercado se alastre ainda mais às populações do mundo.

Inter-relacionados, os livros Ofensivas e O Vírus como filosofia encaram o problema por meio de profunda análise dos eventos atuais e propõem, na prática, tanto uma nova política de organização social como um novo modus de pensar. Seremos capazes de ampliar dimensões coletivas de cuidado e, ao mesmo tempo, produzir um novo pensamento?

O Ofensivas – a potência do não retorno à normalidade, escrito pelo cientista político Paulo Spina, como um manifesto literário-político, defende que o lado daqueles que lutam por justiça precisa ir para ofensiva e construir batalhas que disputem outras formas de organização da sociedade: transnacionais, nacionais, domésticas e, principalmente, comunitárias.

A preocupação é delinear um caminho de potência política que encontre formulações e proposições que nos atravessam por diversos espaços e tempos da sociedade sem, contudo, hierarquizá-los de forma funcionalista. Sem a dimensão na qual os próprios poderes negam a si próprios, reprodução da lógica atual, credita-se assim disputas efetivas, resistências programáticas e coalizões inesperadas.

Já o O vírus como filosofia | A filosofia como vírus – reflexões de emergência sobre a COVID-19, dos pesquisadores e professores universitários Andityas Soares de Moura e Francis García Collado, parte do entendimento de que o futuro está suspenso, com as possibilidades abertas de destituição do capitalismo ou de seu aprofundamento. Para isso, são discutidas as mais recentes e importantes interpretações filosóficas dedicadas à pandemia, de modo a destacar a insuficiência delas quando confrontadas com o radicalmente novo, pois a pandemia tem se mostrado como um limite imposto ao pensar.

Por fim, é defendido que, para enfrentá-la, é necessário – além de médicos, hospitais, drogas e medidas de segurança – atingir um estado de clareza mental que só uma filosofia da vida – e não simplesmente sobre a vida – pode constituir, indicando as zonas de fuga, as dimensões biológica-resistentes e as formas de eclosão de uma biologia da emergência, quais nos exige que mutemos, como fazem os vírus, para que possamos sobre/viver.

Enquanto o primeiro título lida com a necessidade de mudança nas ocupações humanas e propõe que pratiquemos as mais variadas desconstruções, desde o macro (planetárias) até o micro (privadas) de nossas vidas políticas, o segundo reconhece a insuficiência do pensamento filosófico contemporâneo ao inesperado evento do vírus. Ambos fazem o mesmo movimento crítico e narrativo: analisam, criticam, imaginam, propõem e praticam os próprios conflitos em direção a um “novo mundo”. São complementares porque, mesmo em campos diferentes, correm caminhos paralelos similares e apontam para um horizonte: uma prática política não se altera se os seus sujeitos não pensarem diversamente.

Paulo Spina trabalha com saúde mental no SUS, é cientista político e estuda os movimentos sociais. Mestre e doutorando da FFLCH-USP, pesquisa os grupos políticos de direita, suas ações nas ruas das cidades e nas eleições. 

Andityas Soares de Moura Costa Matos é Professor Associado de Filosofia do Direito da UFMG e autor, junto do filósofo catalão Francis García Collado, de O vírus como filosofia / A filosofia como vírus: reflexões de emergência sobre a pandemia de COVID-19, publicado recentemente pela editora espanhola Bellaterra.

Francis García Collado é doutor em Filosofia pela Universidade de Barcelona, professor de Psicologia na Faculdade de Ciências e Comunicação na Universidade Internacional da Catalunha e professor de Evolução da Educação Contemporânea e do máster de Neuro-educação da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Vic – Universidade Central da Catalunha.

Capa. Foto: Kulturális/Divulgação
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