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Filipe Catto e Ian Ramil dividem o palco e a luta

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Filipe Catto e Ian Ramil dividem o palco e a luta Ricky Scaff/Divulgação

Filipe Catto e Ian Ramil sobem ao palco do Theatro São Pedro no próximo domingo (6/11), às 18h, para um show inédito. “HAVERÁ se estrutura sobre a laje da obsessão formal do mundo virtual e do calabouço cotidiano de 2022”, afirma Ian.

No palco, os cantores e compositores vestem figurinos minimalistas e são cortados pelas luzes expressionistas de Isabel Ramil e Mariana Terra. Já a direção do espetáculo é de Alexandre Dill, do celebrado GRUPOJOGO – que completa 15 anos em 2022.

Filipe e Ian dividem o palco e cantam histórias de suas linhas do tempo. No repertório, interpretam canções já gravadas e inéditas de ambos – além de músicas de outros compositores e compositoras. Na entrevista a seguir, a dupla fala sobre HÁVERA e a respeito do trabalho do colega de show.

Como vocês se conheceram e como surgiu a ideia desse show conjunto?

Filipe Catto – A gente se conheceu em outras vidas já. Nós somos contemporâneos aqui da cena de Porto Alegre de antes de eu morar em São Paulo. O Ian sempre me fascinou com sua poética, com a sua construção estética. Em 2011, eu gravei Nescafé no meu primeiro disco e a também participei do disco dele, Derivacivilização. Eu acho o Ian um dos artistas mais intensos, contundentes e inteligentes que já conheci, e quando ele me chamou pra essa noite no São Pedro eu aceitei na hora. É um momento especial pra gente, saindo de um regime antidemocrático pra reconstruir este país com arte e pensamento. Estávamos apreensivos com o resultado das eleições, e HAVERÁ veio dessa certeza de que, independentemente do que acontecesse, estaríamos juntos do público fazendo esse trabalho de resistência coletivo, humano, horizontal, que agora diante da vitória será mais importante do que nunca

Ian Ramil – Nos falamos a primeira vez quando Filipe gravou Nescafé e só nos encontramos pessoalmente anos depois, quando ela participou do show de lançamento do meu primeiro disco em São Paulo, em 2014. No ano seguinte, a chamei pra gravar em Derivacivilização e fui a São Paulo pra uma sessão memorável. Apesar dos pouco encontros ao longo de uma década de amizade, sempre houve uma afinidade enorme e uma admiração mútua. Esse show é uma vontade de mergulhar em arte. Juntos.

Como você define Ian?

Filipe – O Ian pra mim é um artista inteligentíssimo e um amigo muito verdadeiro. É uma pessoa muito transparente, eu adoro trabalhar com pessoas assim, comprometidas, detalhistas, que se entregam pra arte. Além de ser um gato. A gente forma uma dupla muito chique. Hahahahah.

Ian Ramil. Foto Carine Wallauer/Divulgação

Como você define Filipe?

Ian – Filipe é uma seta pra frente.

Como foi escolhido o repertório da apresentação?

Filipe – Foi escolhido através das letras, principalmente. Queríamos que o show tivesse uma narrativa que falasse dessa angústia coletiva que a gente vive no Brasil através das nossas canções e das canções de outros compositores que povoam nosso universo em comum. Então estão ali os hits, as músicas que a galera quer ouvir e também os recados poéticos que a gente quer dar pra galera.

Ian – Pensamos em nós, no que gostaríamos de cantar e no vulcão em erupção desta última década.

Quais músicos e participações especiais dividirão o palco com vocês?

Filipe – A gente acabou desistindo das participações, na verdade. Tínhamos alguns amigos que queríamos chamar, mas pelo destino acabaram não podendo participar, então resolvemos assumir o duo, é estarmos sós no palco, tocando todos os instrumentos e matando no peito. É um show intimista, mas muito dinâmico, com vários tons e moods.

Há planos desse projeto se desdobrar também em um disco colaborativo entre vocês?

Filipe – Com certeza. Eu tô cheia de coisa até o final do ano. Tô gravando disco de estúdio, preparando um espetáculo baseado no meu primeiro EP, Saga, pro fim do mês em SP, e tem ainda a estreia do show. Mas a gente vai gravar essa apresentação de domingo e depois vamos ver o que a gente pode inventar com esse material. Mas hoje tudo é conteúdo, com certeza teremos vários highlights do espetáculo nas redes.

Ian – Tudo é possível. Adoramos trabalhar juntos, e o processo de criação do show tá sendo muito prazeroso.

O título HAVERÁ acena para o que está por vir depois desse período trevoso que ainda vivemos no Brasil. Como vocês veem o futuro?

Filipe – Olha, eu vejo um futuro de muita batalha. O obscurantismo não acaba assim, e nosso papel como artistas neste país é marcar uma posição clara contra o autoritarismo que está entranhado na nossa sociedade. Tudo foi revelado. Acho que agora com Lula poderemos respirar um pouco e plantar sementes pro futuro, recuperar a dignidade da nossa profissão, que foi tão atacada durante o desgoverno fascista, mas nada está dado. Estaremos na linha de frente pela democracia e civilização de agora em diante. Eu percebi que está é a luta de uma vida inteira.

Ian – Por mais que tudo desmorone, a gente haverá. Somos indestrutíveis. Depois da vitória do Lula, eu vejo que tem futuro. Um futuro difícil, de reconstrução, de retomada da inteligência e da sensibilidade.

Filipe Catto. Foto: Lucas Silvestre/Divulgação
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