Música | Reportagens

Nei Lisboa canta a caixa de Pandora brasileira

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Nei Lisboa canta a caixa de Pandora brasileira Nei Lisboa. Foto: André Feltes

Após realizações ininterruptas de 2010 a 2020 e um hiato de um ano devido à pandemia, o show Nei Lispoa volta aos palcos na sexta-feira (18/3) e no sábado (19/3), às 20h, no Centro Histórico-Cultural Santa Casa. O tradicional espetáculo de Nei Lisboa – que mescla repertório menos conhecido, pedidos de hits do público, humor e leituras – acolhe em sua 12ª edição o lançamento do EP Pandora, viabilizado por financiamento coletivo e disponível desde dezembro nas plataformas digitais e no site do músico.

Outra particularidade das apresentações desta semana de Nei Lispoa, habitualmente realizadas em janeiro, é a proximidade com as comemorações dos 250 anos de Porto Alegre. “É uma cidade que já vi mais alegre, como o nome dela pede – e pode até ser um fardo a imagem de alguém sempre sorridente, à beira do Guaíba, no pôr do sol. Passar 250 anos sorrindo deixa a cidade um pouco enrugada e cansada, mas gosto também da Porto Alegre que não sorri tanto e que é de luta, que já vi muitas vezes nas ruas, brigando por avanços culturais e sociais”, reflete Nei.

“O show vai comemorar o aniversário e desejar que a gente mude para melhor essa realidade”, completa o artista, que reúne em Pandora cinco músicas compostas desde 2018, impregnadas com a história recente do país.

“O disco é todo inspirado e dedicado à era bolsonarista. Sinceramente, também gostaria que fosse esquecido junto com ela. Não me faria mal se essas músicas perdessem sentido, desde que a gente se livrasse desse Estado fascista que vem sendo construído e dessa era de desastre, retrocesso e destruição de um país. Se as músicas tiverem que se tornar anacrônicas para vivermos um momento melhor, fico muito feliz”, afirma Nei.

Na faixa de abertura, Foi Você Quem Convidou, Nei canta “… bem-vindo ao pesadelo/ Que o sonho se acabou”, em versos que narram um baile de vampiros com patifes de toda ordem. “É a mais antiga das faixas, vem da era Temer, mas se encaixa perfeitamente nesse mundo negacionista”, comenta o compositor.

Na sequência, Capitão do Mato “tem nome, sobrenome, endereço e CPF”, na definição de Nei. A faixa fala de um mito que “É na verdade um rato/ Sem nenhum juízo/ Cruza de jumento com psicopato”.

A busca de afeto em meio ao desalento encontra brechas de resistência e empatia nos versos de Nós É que Vivemos: “Na melhor cidade que há de haver/ Segue a tua sede/ Toma a minha mão/ E abandona os dias/ Frágeis como são/ Nós é que vivemos/ Eles não”.

Sobre a necessidade de um mínimo de leveza em meio ao caos da covid-19 no país, Nei recorda que “houve momentos em que se tornava insuportável saber que estávamos em uma pandemia e com Bolsonaro de presidente. Um pouco de alienação também era importante”.

A seguir, a faixa título – um “samba da mitologia doida”, nas palavras de Nei – narra a chegada de “duras pragas regadas de pavor”. Nei novamente pega a mão do ouvinte e afirma: “Se deus já deu adeus a todos seus/ Aos mouros, louros, ébrios e hebreus/ Que tenho eu a perder em crer/ Que deuses, somos tu e eu”.

O EP Pandora termina com a canção Bom Lugar, com versos sobre um lugar que cultivava sonhos, “Não o porão atroz de espantos que se abriu/ E o desencanto de quem vê e quem te viu”.

“Foi em tão pouco tempo isso tudo. Pensar que cinco, sete anos atrás vivíamos em um país que, bem ou mal, tinha rumos, projetos, reparações de desigualdades históricas… Desfazer um pouco todo o desmonte do Estado brasileiro não vai ser fácil”, lamenta Nei.

Foto: Giovanna Jung

Os shows no CHC Santa Casa contarão com Nei acompanhado de Giovanni Berti (percuteria, vocais), Luiz Mauro Filho (teclado, vocais) e Paulinho Supekovia (guitarra, vocais). Além das faixas de Pandora, o compositor antecipa que apresentará três canções ainda não gravadas por ele – as inéditas Paraíso e Berinjela e uma versão para a bossa nova Jonah, de Paul Simon. Nei também levará ao palco um pouco das lives Em Casa e (ao) Vivo, conduzidas por ele e sua esposa, a designer Cintia Belloc, durante a pandemia.

“Vamos brincar um pouco com duas telas, fazendo o caminho inverso de levar a live pro show”, conta Nei, que guarda boas lembranças das apresentações domésticas, um alívio em tempos tão difíceis – em março de 2021, Nei esteve internado por 12 dias no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre após ele e a esposa se contraírem covid-19.

“Os encontros do público no chat das lives, por si só, já era lindo de ver. Tinha gente do Macapá, de Portugal, pessoas de outros estados e países que se reencontravam”, conta o músico, que agora retoma o contato com os fãs em cima do palco.

Show “Nei Lispoa”
Onde: Teatro do CHC Santa Casa (Avenida Independência, 75 – Porto Alegre) 
Quando: 18 (sexta) e 19 (sábado) de março de 2022.
Horário: 20h
Ingressos: à venda na plataforma Sympla, entre 45 e 120 reais, com meia-entrada para estudantes, idosos, pessoas com deficiência, doadores de sangue, jovens de baixa renda, classe artística e colaboradores Santa Casa.

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