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Artista do Cabo Verde, Djam Neguin convida o público a decifrar “Txabeta” no Porto Alegre em Cena

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Artista do Cabo Verde, Djam Neguin convida o público a decifrar “Txabeta” no Porto Alegre em Cena Foto: Queila Fernandes

Desafiadora à leitura, a grafia do espetáculo <Tx[@]be/t_a | |=* (lê-se Txabeta) dá uma pista inicial sobre a performance que o artista cabo-verdiano Djam Neguin apresenta sábado (23/3) e domingo (24/3), às 19h, no Teatro Oficina Olga Reverbel, encerrando a programação do 30º Porto Alegre em Cena.

“As pessoas não sabem muito bem o que significa ‘txabeta’, ainda mais escrito daquela forma, que parece um código de computação. Tem três significados: é nome de um instrumento percussivo que as batucadeiras da Ilha de Santiago usam, o clímax do [ritmo musical e de dança] batuku e o nome da nave especial de Hevah”, conta o artista – em português cabo-verdiano praticamente idêntico ao brasileiro –, citando o nome da protagonista do espetáculo, interpretada por ele.

Personagem enigmática, Hevah tem ares de ciborgue e criatura não humana. Seu nome brinca com o mito de Eva, transformando-o pelas lentes de uma perspectiva queer que enxerga a figura como ser “além-biológico, a primeira mulher pós-humana”, nas palavras do artista, que investiga gêneros de dança e música tradicionais de Cabo Verde em seus espetáculos recentes.

<Tx[@]be/t_a | |=* é a terceira de uma série de performances. Em Mornatomia (2020), a morna foi a inspiração, seguida por Na-Ná (2022), que apresenta releitura de outro estilo, o funaná. Agora, o batuku e os saberes ancestrais das mulheres batucadeiras da Ilha de Santiago, no Cabo Verde, conduzem as reflexões de Djam sobre corpos e identidades, lançando mão de dispositivos tecnológicos.

Foto: Queila Fernandes

“A gente pode reciclar e ressignificar a tradição com novas linguagens estéticas, se reapropriando e reinventando, a partir da nossa ancestralidade”, afirma Djam, que aos 9 anos foi viver em Portugal e retornou à África dez anos depois. Hoje, aos 31, vivendo em sua terra natal, o artista conta que o período da pandemia foi um “black bang” repleto de reflexões existenciais: “Foi um blecaute, no sentido metafórico de um escurecimento, que costumamos associar ao medo e ao terror, mas onde tudo se revela. Foi um tempo de me descobrir como pessoa negra, uma autofagia rumo a novos ares e referências”.

Questionado sobre seu entendimento do conceito de afrofuturismo, Djam traça um breve histórico: “Partimos da premissa de que o nosso passado foi roubado a partir do apagamento da escravidão. Perdemos o rastro familiar e nos transformamos em mercadoria. Passamos séculos assim e saímos disso apenas formalmente, com o racismo estrutural no presente”.

E conclui: “O futuro é o tempo que nos resta para habitarmos e criarmos imaginários plurais e potentes, com a habilidade de sonhar, que é nossa marca como humanos. Mas tudo isso precisa ser feito agora. O futuro é daqui a 10 segundos”.

Foto: Queila Fernandes

O artista visita o Brasil pela quarta vez e destaca o papel central da intelectualidade negra do país em suas investigações: “O Brasil está muito avançado em diversas discussões. Existe um movimento negro muito forte e uma ocupação na academia e nas artes, que resulta de décadas de resistência, com pessoas muito articuladas que estão a anos-luz de Portugal e Cabo Verde. É inspirador para nós da diáspora e da comunidade de língua portuguesa”.

Performance “<Tx[@]be/t_a | |=*”, de Djam Neguin

Quando: 23 (sábado) e 24 de março (domingo) de 2024, às 19h – a sessão de domingo oferece interpretação em libras e audiodescrição
Onde: Teatro Oficina Olga Reverbel – Multipalco do Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº)
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 10 anos
Ingressos à venda no site do festival

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