As várias faces de Vinicius de Moraes em exposição no Farol Santander

A vida e a obra de um dos maiores poetas brasileiros pode ser conferida na exposição Vinicius de Moraes – Por Toda a Minha Vida, inaugurada na quarta-feira (20/3), no Farol Santander. Inédita no Rio Grande do Sul, a mostra reúne mais de 350 itens, incluindo documentos inéditos e originais, como manuscritos, livros, poemas, vídeos e fotografias.

Com curadoria de Eucanaã Ferraz e Helena Severo, a exposição busca abranger a multiplicidade do artista delineando uma caminhada pelas várias faces de Vinicius, que também foi músico, letrista, diplomata, cronista e dramaturgo. Por Toda a Minha Vida ocupa a galeria do segundo andar do museu e é composta pelos núcleos Música, Poesia, Artes e Cidades, além de um espaço dedicado à obra infantil A Arca de Noé, lançada por Vinicius em 1980. 

“Todo o percurso é sobre a obra e a vida de um poeta. Estamos contando um pouco dessa vida – e quando digo um pouco é porque nenhuma vida pode ser contada em sua totalidade, ainda mais a vida de um personagem tão gigantesco como o Vinicius”, conta o curador, poeta e professor Eucanaã Ferraz. 

“Destacamos certos aspectos dessa vida, mas não exatamente o dia e hora que ele nasceu, com um retrato da escola onde ele estudou e depois uma foto dele saindo da escola. Essa cronologia cheia de detalhes e marcações biográficas não nos interessou, mas sim mostrar pontos muito mais marcantes dessa vida”, completa o curador, que já organizou diversos livros de Vinicius de Moraes, como a obra compilada em dois volumes Música, Poesia, Prosa Teatro, lançada em 2017.

A cantora e compositora Mariana de Moraes, neta de Vinicius, veio a Porto Alegre para a inauguração. No evento de abertura, ela olhava atentamente aos detalhes dos objetos que contavam parte da história do avô. “A mostra está linda, com uma curadoria impecável. Os quadros exibidos aqui são extraordinários, e as fotografias são lindíssimas. Tudo bem muito bem embasado e com uma riqueza de detalhes muito bonitos”, contou à reportagem.  

O trajeto inicia mostrando o lado dramaturgo de Vinicius de Moraes, focando em seu primeiro projeto teatral, a peça Orfeu da Conceição, que se tornou um marco na história do teatro brasileiro. A montagem – que estreou em 1956 – é uma adaptação do mito grego de Orfeu, transportado ao cotidiano suburbano do Rio de Janeiro. Na ala, estão presentes estudos originais para confecção dos cartazes de divulgação da peça, feitos por Carlos Scliar, Luiz Ventura e Djanira da Motta e Silva, além de fotografias de José Medeiros captadas durante os ensaios. Orfeu da Conceição também marcou o início da parceria entre Vinicius e Tom Jobim, que concebeu a trilha sonora do espetáculo. A trajetória da amizade entre eles é destacada em todo o percurso da exposição. 

Mesmo se tratando de um artista múltiplo, quando se fala em Vinicius de Moraes é difícil não destacar a música e a escrita. Espinha dorsal de sua produção, a poesia integra todos os núcleos, com originais do poeta ou frases e trechos nas paredes, dialogando com os itens à mostra. Um dos destaques exibidos são as primeiras edições dos livros de Vinicius, incluindo de Orfeu da Conceição, com ilustrações de Carlos Scliar.

Já na vasta seção que evidencia sua relação com a música, é possível conferir manuscritos com versões preliminares de canções que se tornaram ícones da cultura brasileira, como Chega de Saudade – marco inicial da bossa nova – e a famosa Garota de Ipanema. 

Ao longo de sua vasta carreira musical, Vinicius compôs centenas de canções, sozinho ou ao lado de grandes nomes da música, como Tom Jobim, João Gilberto, Toquinho, Pixinguinha e Dorival Caymmi, cujas fotografias cobrem as paredes do Farol Santander. 

Por Toda a Minha Vida ainda exibe uma série de fonogramas com poemas narrados pelo próprio Vinicius, como Soneto da Separação, Poética I e Pátria Minha. Nas bancadas recheadas de documentos, é possível acompanhar vídeos do programa MPB Especial Vinicius de Moraes e Toquinho, da TV Cultura, gravado em 1973. Chega de Saudade, Eu Sei que Vou te Amar, A Felicidade e Garota de Ipanema, incluem os sucessos exibidos.

As grandes amizades de Vinicius com nomes importantes do cenário artístico brasileiro foram marcantes na sua trajetória, seja nas parcerias musicais ou nas suas relações com grandes artistas visuais, como Portinari, Carlos Scliar, Carybé e Di Cavalcanti, que têm obras exibidas na exposição.

“Talvez a questão das artes plásticas seja a mais inusitada, o núcleo mais inesperado da exposição, já que o Vinicius não se dedicou às artes plásticas, mas se relacionou com esses artistas e com suas obras de modo muito intenso”, conta Eucanaã. “Eu recorri a pinturas, esculturas, cartazes dos filmes e também às capas dos discos, que são de artistas importantes. Afinal, é uma exposição de arte, não é uma exposição estritamente bibliográfica documental”, conta o curador, que disponibilizou diversos itens de seu acervo pessoal para serem exibidos na mostra.

A parte mais interativa do percurso é A Arca de Noé, voltada ao público infantil, que traz um ambiente com uma reprodução da arca e instalações de animais, além da ambientação com músicas e desenhos. A homenagem é feita para a obra musical e literária homônima, lançada por Vinicius em 1980, com ilustrações de Elifas Andreato. A curadoria recuperou desenhos e estudos de Vinicius para a ilustração do disco.

Na seção intitulada Cidades, as paredes recebem documentos relativos aos diversos locais em que Vinicius esteve como poeta e cantor, destacando ainda sua atuação como diplomata. Rio de Janeiro – sua cidade natal –, Paris, Londres e Salvador são alguns dos lugares destacados, sempre acompanhados com fragmentos de textos de Vinicius. No setor, há também correspondências que ele trocava principalmente com Tom Jobim. 

A exposição termina com uma linha do tempo onde o público pode acompanhar em detalhes toda a trajetória de Vinicius. 

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Serviço 

Exposição Vinicius de Moraes – Por Toda a Minha Vida
Quando: de 20 de março a 19 de maio de 2024
Onde: Farol Santander (rua Sete de Setembro, 1028 – Centro Histórico, Porto Alegre)
Visitação: de terça a sábado, das 10h às 19h, e domingos e feriados, das 11h às 18h (último acesso para visitação 1h antes de fechar o espaço) 
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) – na Sympla e na bilheteria do local
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