Entrevista | Reportagens

Catálogo apresenta trajetória experimental do Kino Beat

Change Size Text
Catálogo apresenta trajetória experimental do Kino Beat Intervenção urbana de Tuane Eggers no 6º Kino Beat, 2019. Foto: Fábio Alt

De um projeto de estágio a um evento que é realizado há mais de uma década, explorando diferentes formatos e linguagens – do audiovisual à música, passando pelas artes visuais. Desde 2009 o Kino Beat abre espaço para essa pluralidade de manifestações, liderado pelo produtor cultural Gabriel Cevallos – leia a entrevista a seguir e confira a lista de obras selecionadas por ele, ao final da matéria.

“Nunca imaginei que se tornaria um festival, tão longevo, e que fosse se expandir em suas temáticas e abordagens como aconteceu”, conta o idealizador do evento, cuja trajetória de 11 anos agora é contada em um catálogo, lançado no final de 2020 e viabilizado por edital emergencial da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, com recursos da Lei Aldir Blanc

Capa: Divulgação Kino Beat

Com 236 páginas, a publicação – disponível para download – resgata as origens do projeto, as transformações do Kino Beat ao longo dos anos – de mostra de cinema a festival – e os artistas e obras que passaram pelo evento. No texto de abertura do catálogo, Cevallos descreve o trabalho desenvolvido por ele como uma “curadoria mixagem”.

“[O conceito] representa uma amálgama da minha formação acadêmica e profissional: um DJ que vai estudar cinema, começa a fazer curadoria (nesta ordem) e tenta achar os pontos de convergência dessas práticas, como o conhecimento generalista, a pesquisa, a mediação e a capacidade de criar narrativas para propor ações artísticas”, explica o organizador do Kino Beat.

Cartaz da Mostra Kino Beat (2009)

Na entrevista a seguir, além de falar sobre o catálogo e o conceito de “curadoria mixagem”, Cevallos comenta os desafios enfrentados pelo Kino Beat e pelos produtores culturais do país, a importância de editais de apoio à atividade artística e as lições da pandemia para o contexto pós-vacina.

Gabriel Cevallos. Foto: Arquivo pessoal

Como surgiu a ideia de produzir esse vasto catálogo e quais são os objetivos da publicação?

A ideia estava sendo gestada para 2023, quando o Festival Kino Beat completaria 10 anos, se fosse realizada uma edição por ano, como vem acontecendo desde 2014. Mas aí chegou 2020, e mudou tudo, né? Então resolvi tirar a ideia antes da gaveta. Além de apresentar apenas a história das seis edições do festival, incluí as atividades pregressas que deram origem ao Kino Beat: a Mostra Kino Beat de filmes e o Kino Beat ao Vivo. 

Por isso os 11 anos e o tamanho do catálogo: são quatro anos pré-festival e seis de festival, sendo que o último começou em 2019 e terminou em 2020. O objetivo inicial foi o de documentar para preservar a memória, apresentar em um único documento tudo o que foi produzido com a marca Kino Beat. Pelo pioneirismo e particularidade das programações propostas, acho que tem o potencial também de ser um documento de pesquisa, para profissionais interessados no cruzamento entre arte, música, audiovisual e tecnologia. 

Ao longo de 11 anos, o Kino Beat explorou diferentes formatos de realização e linguagens artísticas. No texto de abertura do catálogo, você menciona a “curadoria mixagem”. Poderia nos falar mais sobre esse conceito e como ele norteia a concepção do evento?

Esse é um conceito que apresento em público pela primeira vez agora, no texto do catálogo, e que pretendo aprofundar como uma metodologia própria, mas ainda não escrevi muito mais a respeito além do que está na publicação. Mas ele representa uma amálgama da minha formação acadêmica e profissional: um DJ que vai estudar cinema, começa a fazer curadoria (nesta ordem) e tenta achar os pontos de convergência dessas práticas, como o conhecimento generalista, a pesquisa, a mediação e a capacidade de criar narrativas para propor ações artísticas. Esse conceito sintetiza a minha forma de criar associações, onde tudo pode estar relacionado a algo, basta achar e fazer a relação (mixagem) mais adequada para o momento e os elementos envolvidos. Acredito que essa amplitude me permite, no Kino Beat, experimentar e radicalizar, criando uma “curadoria mixagem”, por exemplo, onde um show de funk e uma exposição de artes visuais podem habitar a mesma programação e serem atravessadas pelo mesmo discurso, seja ele aparente ou cifrado. 

Reprodução: performance Musicircus

Quais transformações aconteceram no Kino Beat nesse período e quais foram as principais conquistas e dificuldades?

Foram muitas mudanças! Nunca imaginei que se tornaria um festival, tão longevo, e que fosse se expandir em suas temáticas e abordagens como aconteceu. O Kino Beat nasceu como um projeto de estágio em 2009. Acho que esse é um dado interessante para analisar a evolução até 2020, com destaque para alguns marcadores: a origem como Mostra Kino Beat de filmes relacionados à música (2009 a 2011); o projeto Kino Beat ao Vivo (2012-2013); e a criação do festival em 2014 até o momento. No texto de abertura do catálogo, eu conto toda essa história de forma cronológica, para quem quiser mais detalhes.

A principal conquista e dificuldade são paradoxais: continuar existindo. Esse é o tamanho do desafio de trabalhar com cultura neste país – especialmente agora – existir, resistir e seguir criando. Mas apesar deste cenário de obscurantismo e dos parcos recursos, tenho orgulho do desenvolvimento e de toda a trajetória do Kino Beat, e continuo entusiasmado.

Qual a importância de parcerias e editais para a viabilização de projetos como o Kino Beat?

É vital. A própria produção do catálogo foi através feita através de um edital – o edital emergencial de auxílio à cultura da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre, com verba proveniente da Lei Aldir Blanc. A maior parte da produção cultural brasileira é alicerçada e dependente do estado, seja via editais públicos ou renúncia fiscal, então temos que lutar para que esses mecanismos funcionem e se aprimorem, ao mesmo tempo em que se tenta desenvolver outras formas de financiamento.

O Kino Beat teve três parcerias fundamentais em sua história: a primeira com a Prefeitura, onde o projeto foi incubado na Coordenação de Cinema, Vídeo e Fotografia; o segundo com o Sesc RS durante quatro anos e que resultou na criação do festival; e os últimos dois anos com a Oi Futuro.  

Por fim, a pandemia afetou de forma brutal o setor cultural. Por outro lado, longe de amenizar os efeitos dessa crise, artistas e eventos buscaram alternativas online. Como produtor cultural, que aprendizados você tira desse momento? E quais são as perspectivas do Kino Beat para 2021?

Talvez o aprendizado principal seja o de buscar, de forma mais intensa, diversificar a atuação. É o que estou planejando com o Kino Beat, até porque essa abertura está no DNA da marca. E a necessidade de trabalhar com o digital de forma profunda, explorar as possibilidades que são específicas do meio, e não tentar replicar o presencial no virtual. Claro que isso é complicado e envolve custos, mas esse é o grande diferencial que vejo daqui para adiante, e não tem volta.  

A perspectiva para 2021 é de melhora, mesmo que ainda incerta. Acredito que, para o segundo semestre, com a vacinação avançando, as atividades presenciais possam crescer e com isso a cultura se beneficiar. Com o Kino Beat, tenho muitas ideias represadas e uma sétima edição do festival para tentar realizar, visto que em 2020 não foi possível. O projeto já está pronto, e estou na busca de financiamento. O movimento de transformação do festival seguirá, sempre aberto para explorar novas linguagens, formatos e possibilidades de imaginar o mundo.

Convidamos Gabriel Cevallos a selecionar trabalhos, disponíveis online, de artistas que participaram do Kino Beat:

Selecionei uma atração por ano de festival, apresentando um panorama da diversidade de artistas e propostas que passaram pelas seis edições. 

1º Festival Kino Beat
Especial Orquestra Vermelha, um músico e uma banda de sombras:

2º Festival Kino Beat
Laptop Coral, de Giuliano Obici, simulacro de um coral feito por 12 laptops que cantam:

3º Festival Kino Beat

Exposição “The Dance Party”. Foto: Igor Sperotto / Fundação Ecarta

4º Festival Kino Beat
Martin Messier apresenta a performance Field:

5º Festival Kino Beat
Edgar, rapper que versa sobre mudanças climáticas:

6º Festival Kino Beat
A Poética dos Fungos, de Tuane Eggers – intervenção urbana de fotos em outdoors pela cidade:

Intervenção urbana “A Poética dos Fungos”, de Tuane Eggers. Foto: Fábio Alt

Gostou desta reportagem? Garanta que outros assuntos importantes para o interesse público da nossa cidade sejam abordados: apoie-nos financeiramente!

O que nos permite produzir reportagens investigativas e de denúncia, cumprindo nosso papel de fiscalizar o poder, é a nossa independência editorial.

Essa independência só existe porque somos financiados majoritariamente por leitoras e leitores que nos apoiam financeiramente.

Quem nos apoia também recebe todo o nosso conteúdo exclusivo: a versão completa da Matinal News, de segunda a sexta, e as newsletters do Juremir Machado, às terças, do Roger Lerina, às quintas, e da revista Parêntese, aos sábados.

Apoie-nos! O investimento equivale ao valor de dois cafés por mês.
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
Se você já nos apoia, agradecemos por fazer parte da rede Matinal! e tenha acesso a todo o nosso conteúdo.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Gostou desta reportagem? Ela é possível graças a sua assinatura.

O dinheiro investido por nossos assinantes premium é o que garante que possamos fazer um jornalismo independente de qualidade e relevância para a sociedade e para a democracia. Você pode contribuir ainda mais com um apoio extra ou compartilhando este conteúdo nas suas redes sociais.
Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email

Se você já é assinante, obrigada por estar conosco no Grupo Matinal Jornalismo! Faça login e tenha acesso a todos os nossos conteúdos.

Compartilhe esta reportagem em suas redes sociais!

Share on whatsapp
Share on twitter
Share on facebook
Share on email
PUBLICIDADE

Esqueceu sua senha?