Instituto Cultural Remanso abre as portas para artistas visuais de Porto Alegre

Um novo espaço cultural será inaugurado em Porto Alegre, no sábado (9/3), na rua Santo Antônio, 366. O Instituto Cultural Remanso abre suas portas no bairro Independência visando fomentar a produção artística da cidade e fornecer espaços de trabalho gratuitos com foco em artes visuais.

Além da concessão de ateliês, a Remanso pretende ofertar bolsas e residências artísticas, além de receber exposições, cursos e atividades educativas na área das artes e humanidades. 

Hoje inteiramente reformado, o antigo casarão dá lugar à instituição que abriga um ateliê compartilhado para dois artistas, duas salas de atividades práticas e teóricas, um espaço expositivo, um auditório que comporta 30 pessoas, jardim e copa. O nome da instituição – que remete à tranquilidade, descanso, sossego – inspirou o pintor e músico Guilherme Leon, diretor executivo do instituto, durante a pandemia, quando passou uma temporada na praia de Remanso, em Xangri-Lá.

Na semana de abertura, de 9 a 15 de março, o espaço contará com ampla programação cultural, incluindo feira de publicações, show, ciclo de palestras e exposições – confira detalhes no final da matéria.

A ideia de criar um espaço focado em artes visuais surgiu em meados de 2022, a partir de uma preocupação constante de Guilherme Leon e da artista e confeiteira Karina Nery, na época ainda colegas do Instituto de Artes da UFRGS, sobre as dificuldades enfrentadas, principalmente no início de carreira, no meio das artes. 

“É um campo desafiador, em que as pessoas demoram para alavancar suas trajetórias e desenvolver consistentemente suas poéticas, além de ser permeado por questões econômicas muito fortes. Eles pensaram ‘o que podemos fazer para mudar ou ajudar a mudar essa realidade?”, conta Guilherme Mautone, doutor em filosofia pela UFRGS, pesquisador e crítico de arte, que integra a direção do espaço e abre o leque de atividades oferecidas pelo instituto. A Remanso nasce com o sonho de abrir um lugar que permita aos artistas estudarem, pesquisarem e produzirem suas obras. 

À frente do instituto, Guilherme Leon e Guilherme Mautone atuam na direção ao lado da estudante de Artes Visuais Caroline Ferreira, que lidera o Educativo, e da pesquisadora e curadora Izis Abreu, que coordena o Comitê Curatorial. No total, a Remanso conta com sete associados fundadores: Dani Berno, Mauro Pippi da Rosa, Silvia Berno, Karina Nery, Guilherme Leon e Guilherme Mautone.

Formado por pessoas que circulam no meio das artes visuais, o conselho consultivo é formado por Alessandra Bochio, André Lima, Bruna Fetter, Caroline Ferreira, Camila Schenkel, Carmen Capra, Claudia Zanatta, Eduardo Veras, Elida Tessler, Estêvão da Fontoura, Jéssica Becker, Lilian Maus, Marina Polidoro e Sátira Machado. 

Mautone destaca que a Remanso segue a linhagem de outros dois espaços independentes, também geridos por artistas, que se destacaram na cena artística da cidade: o Torreão (1993-2009), liderado por Elida Tessler e Jailton Moreira, localizado em um casarão na avenida Venâncio Aires, e o Atelier Subterrânea (2006-2015), situado em um subsolo da avenida Independência e administrado pelos artistas Gabriel Netto, Guilherme Dable, James Zortéa, Lilian Maus e Túlio Pinto.

O artista-gestor explica que o instituto é dividido em quatro eixos principais – Ocupação, Exposição, Formação e Aproximação – e dois programas: de residências artísticas e concessão de ateliês: “Dentro do eixo de ocupação, executamos a nossa missão institucional, que é conceder esses espaços de trabalhos para artistas, durante seis meses, com uma bolsa de mil reais por mês”. 

A seleção é feita a partir de edital público, com inscrição gratuita, e entrevistas para avaliação da comissão responsável. Reforçando a proposta da casa, o processo seletivo conta com programa de cotas, em que são priorizadas pessoas negras, indígenas, LGBTQIAP+, com deficiência e em situação de vulnerabilidade social. 

O eixo expositivo é voltado à galeria da Remanso, que deve ser ocupada no futuro, também via editais. “A ideia é que os próprios artistas que participam da concessão de ateliês ocupem esse espaço expositivo”, comenta Mautone. 

Associação privada sem fins lucrativos, a instituição estabeleceu o eixo formativo para contribuir financeiramente na concessão dos espaços de trabalho e promover cursos de curta e longa duração, seminários, laboratórios, grupos de pesquisa, ateliês e oficinas para crianças e adolescentes.

Os cursos voltados às escolas buscam dialogar com os vizinhos e as comunidades do entorno, como o assentamento Santa Terezinha, também chamado de Vila dos Papeleiros, e futuramente, com o resto da cidade. “No eixo de Aproximação, trabalhamos com o programa de Arte e Escola, em que articulamos arte contemporânea com as instituições, sobretudo com as da rede pública, e abrimos o programa Arte e Comunidade, onde a Remanso estabelece relações com o seu redor”, ressalta Mautone.

Os próximos passos do instituto incluem, além de encher a Remanso de arte, reformar a casa ao lado, adquirida via doação de um dos fundadores, para abrir uma cafeteria e salas comerciais. 

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Programação de abertura 

Feira Garganta
9 e 10 de março, sábado e domingo, das 14h às 20h

Organizada pelos artistas visuais Mitti Mendonça e Wagner Mello, a feira contará com 41 expositores, entre artistas e publicadores independentes, que vão apresentar e comercializar os seus trabalhos.

No sábado, às 18h30, a cantora e compositora Jessie Jazz apresenta um show solo de guitarra e voz, trazendo canções próprias com influências de jazz, soul e música black. No domingo, às 16h30, o instituto recebe o bate-papo Narrativas em cruzo: processos de escrita de Lilian Rocha, Michele Zgiet e Anderson Coelho. A atividade tem mediação de Wagner Mello. 

Ciclo Artes Visuais & Espaços Independentes 
11 e 12 de março, segunda e terça-feira, das 19h às 21h

O ciclo de palestras reúne artistas, curadores, críticos e agentes que coordenaram ou ainda coordenam espaços culturais do segmento das artes visuais. Participam dos debates Elida Tessler, Lilian Maus, Adauany Zimovski, Leandro Machado, Estevão da Fontoura, Silvana Rodrigues e Diego Groisman.

Mostra de arte contemporânea Canteiro de obras
13 e 14 de março, quarta e quinta-feira, das 8h30 às 20h

A minimostra Canteiro de obras foi pensada para ocupar e ativar os jardins do instituto cultural. A ação conta com obras, atividades e propostas do Coletivo No Coração da Agulha, Coletivo Infraordinaries, Beirada, Ecomuseu Urbano (Cláudia Zanatta e Vado Vergara), Marina Rombaldi e Janaína Ferrari.

Exposição coletiva Mão de Obra?, com curadoria de Izis Abreu e Guilherme Mautone
Abertura em 15 de março, sexta-feira, a partir das 19h 

A exposição é focada em arte contemporânea e nas relações que a produção visual estabelece com a noção de trabalho, seu mundo e seus contextos. A mostra propõe uma reflexão sobre as noções de “força de trabalho”, “força produtiva” e, por outro, sobre como elas aparecem nas visualidades contemporâneas a partir da singularidade poética de cada artista. Participam Leandro Machado, Virginia di Lauro, zarro, Henrique Pasqual Santos, Lia Braga, Silvana Rodrigues, Frente 3 de Fevereiro, Biblioteca da Vila, A Minha Empregada, entre outros.

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Instituto Cultural Remanso 
Rua Santo Antônio, 366, Independência – Porto Alegre
Entrada franca