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“Meretrizes” encena vivências de profissionais do sexo em teatro documental

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“Meretrizes” encena vivências de profissionais do sexo em teatro documental Foto: Laura Testa

Fragmentos das vivências de profissionais do sexo chegam ao Teatro Oficina Olga Reverbel com o espetáculo Meretrizes, que estreia nos dias 1°, 2 e 3 de setembro, sempre às 19h, com entrada franca. Explorando o teatro documental, a montagem do coletivo gaúcho Projeto Gompa transforma relatos de mulheres em uma narrativa que une performance, vídeos e áudios, com sonorização ao vivo feita pela pianista Catarina Domenicci

A curiosidade acerca da profissão uniu a diretora Camila Bauer e a atriz Liane Venturella, que, em parceria com a historiadora Juliana Wolkmer, buscaram ouvir o que as profissionais do sexo poderiam compartilhar sobre suas vidas. Durante quase um ano, a pesquisa foi realizada através do Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP), ONG de Porto Alegre fundada em 1989. A partir daí, Camila e Liane conversaram com mulheres de várias idades, classes sociais e etnias e utilizaram o material para construir o roteiro e a dramaturgia de Meretrizes

“Tudo que está no texto da peça foi dito por essas mulheres, tanto por mulheres que a gente entrevistou diretamente, quanto algumas que a gente teve acesso a entrevistas feitas por outras pessoas. É tudo baseado no real”, conta a diretora. Camila ressalta que a ideia não é romantizar a prostituição, mas sim incentivar a reflexão sobre estereótipos e preconceitos em torno da escolha das mulheres. “Às vezes, falamos da prostituição como uma coisa à margem, periférica, e não é verdade. Quando começamos a conhecer essas mulheres, vemos que elas estão nas universidades, são professoras, alunas, têm uma família. Elas têm vidas comuns como qualquer pessoa”, afirma.

Os depoimentos inseridos na trama do espetáculo permeiam as diferentes fases de uma das primeiras profissões do mundo. Os relatos abordam a prostituição na região portuária de Porto Alegre, os cafetões da Praça da Alfândega, os ataques da polícia contra a “vadiagem” e a exposição online de corpos como objetos de desejo. “Entrevistamos profissionais que trabalham há 40 anos na rua, no Centro. É uma realidade bem diferente da mulher que está na internet e que nunca foi para a rua. São outras circunstâncias com tipos de clientes também diferentes – e tudo isso é abordado no espetáculo”, comenta a diretora. 

Foto: Laura Testa

Além das projeções de vídeos e áudios com partes dos depoimentos, a diversidade de vozes em Meretrizes está presente, sobretudo, na interpretação de Liane Venturella, que observou as características das entrevistadas para compor diferentes personagens baseadas nessas mulheres reais, ecoando vivências da forma mais verídica possível. 

Antes do espetáculo, a atriz havia interpretado duas únicas prostitutas ao longo da carreira: em Doroteia, montagem gaúcha com direção de Fernando Kike Barbosa para o clássico de Nelson Rodrigues, e no papel de Geni, na peça Toda Nudez Será Castigada, dirigida por Ramiro Silveira – ambas entre 1999 e 2001. Em Meretrizes, Liane encena dezenas de mulheres, com idades e realidades diversas. “É tão distinto ter interpretado prostitutas como personagem escrito, através do olhar de um homem – claro, o fantástico Nelson Rodrigues –, e, agora, vivê-las com a voz delas, de verdade. É completamente diferente”, reflete. 

Liane conta que as trocas com as profissionais colaboraram para um maior conhecimento em relação ao que ela sabia sobre as vivências das prostitutas. “Foi ficando cada vez mais interessante. Fomos conhecendo mulheres maravilhosas, de lugares muito diferentes, desde as prostitutas de rua até as que frequentam cabarés de Porto Alegre. Cada mulher era um universo tão diferente, tão distinto e, ao mesmo tempo, mulheres práticas, do dia a dia”, relembra a atriz. 

Como forma de conectar esses diferentes universos, as histórias das prostitutas são entrelaçadas pela sonorização ao vivo da pianista Catarina Domenicci, que compôs a trilha da montagem a partir dos sentimentos de alegria, tristeza e dor provocados pelos depoimentos.

“Foi um processo muito bonito de ver. Tem uma canção que a Catarina  compôs a partir da primeira entrevista que fizemos juntas. Terminamos a conversa, e a Catarina disse: ‘essa parte da história dela é uma música’”, lembra Camila. 

O espetáculo terá ainda participação especial de duas profissionais do sexo: a jovem Paula Assunção e Soila Mar, que atua há mais de 40 anos nas ruas da cidade. O caráter performático busca fazer o público perceber como estamos próximos dessas realidades cotidianamente silenciadas.

Liane Venturella, Paula Assunção, Soila Mar e Catarina Domenicci. Foto: Laura Testa

“É uma das profissões mais antigas do mundo. No dia em que alguém olhar com respeito para uma prostituta, as demais mulheres estarão sendo muito mais respeitadas. Não interessa o que a mulher faz, todas as profissões são dignas”, diz Liane. “Queremos sensibilizar o espectador para um entendimento de que elas são mulheres reais com vidas. A liberdade de escolha vem em primeiro lugar”, completa.

O espetáculo terá ainda duas sessões gratuitas na Região Metropolitana de Porto Alegre: no dia 4 de setembro, às 19h, no Espaço de Artes Viandantes, em Viamão; e em 11 de setembro, também às 19h, na Sociedade Italiana de Alvorada. Nos dias 12 e 13 do mesmo mês, às 21h, o espetáculo estará em cartaz no Café Fon Fon, na capital, com ingressos custando R$ 40.  

Estreia de Meretrizes, do Projeto Gompa
Data: 1°, 2 e 3 de setembro
Horário: 19h
Local: Teatro Oficina Olga Reverbel no Multipalco do Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº)
Classificação: 14 anos
Duração: 60 minutos
Ingressos: distribuição gratuita a partir das 18h nos dias das apresentações

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sexta-feira, 01 a 03 de setembro de 2023 | 19h00

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