Pode isso, Arnaldo?
Durante muitos anos, Galvão Bueno e Arnaldo César Coelho sustentaram uma espécie de quadro Tom e Jerry no jornalismo esportivo. Galvão ganhava todas, nem sempre de maneira muita limpa. Como era o chefão, se pressentia a derrota, encerrava o papo com um carteiraço, uma patada, uma ironia pesada ou uma fala de mau perdedor. Esse jogo lembrava, às vezes, outro clássico da televisão, a corrida maluca. Enfim, era um desenho animado esculpido em Carrara, ou cuspido e escarrado. Havia quem acompanhasse só pelo humor, não pelo futebol.
Saudades do Arnaldo, que fazia rir com o seu simplismo caipira e, repentinamente, um lampejo que tirava Galvão do sério. Arnaldo parou. Galvão diz que vai parar, mas só pode ser pegadinha. Ficou o principal da longa relação entre esses dois personagens únicos, o bordão:
– Pode isso, Arnaldo?
Dez perguntas para Arnaldo que nem Galvão responderia:
- Pacote de bondades a menos de três meses das eleições, com fartura de dinheiro público, pode isso, Arnaldo?
- Não é compra de votos descarada? Pode isso, Arnaldo?
- Aumentar benefício social três meses antes da eleição e com data de expiração dois meses depois do pleito não é estelionato eleitoral, manobra ilegal, algo assim? Pode isso, Arnaldo?
- Inflação a mais de dez por cento ao ano, gasolina a dez reais, salário encolhendo, pode isso, Arnaldo?
- Chamar a corrupção dos outros de corrupção e a nossa de apenas tráfico de influência, pode isso, Arnaldo?
- Os que criticavam, na mídia, a suposta compra de votos com benefícios sociais agora silenciam. Pode isso, Arnaldo?
- Colocar a lisura do processo eleitoral em questão como habeas corpus preventivo, sugerindo fraude e não reconhecimento do resultado, se não ganhar o jogo, pode isso, Arnaldo?
- Prometer mudar tudo e nada mudar, pode isso, Arnaldo?
- Esquerda votar em projeto da direita que tem cara, cor, jeito e cheiro de compra de votos, pode isso, Arnaldo?
- Acreditar em virada a três meses da eleição, pode isso, Arnaldo?
Por favor, Arnaldo, pelo amor de Deus, responde.
Aproveita agora que o Galvão está fora do ar.