Janelas abertas de Berlim a Uruguaiana
Com a 14ª edição do Cine Esquema Novo – Arte Audiovisual Brasileira adiada para 2021 devido à pandemia, a organização do festival decidiu não deixar 2020 passar em branco. Nesta sexta (11/12), às 20h30 (horários locais), será realizado o Cine Esquema Novo de Janelas Abertas, que promove projeções de sete obras, criadas por nove artistas, tendo como tela espaços externos de 16 cidades das Américas e da Europa.
Os trabalhos serão exibidos em Belém, Porto Alegre, Porto Velho, Rio de Janeiro, São Paulo e Uruguaiana; no exterior, as projeções acontecem em Amsterdã (Holanda), Assunção (Paraguai), Barcelona (Espanha), Berlim (Alemanha), Bogotá (Colômbia), Brno (República Tcheca), Buenos Aires (Argentina), Cachipay (Colômbia), Lisboa (Portugal) e Portland (Estados Unidos).
O evento exibe obras dos artistas Anne Magalhães, Denilson Baniwa, Gustavo Jahn, Luiz Roque e Renato Heuser e dos duos Rubiane Maia e Manuel Vason, Welket Bungué e Daniel Santos. Dezenas de projecionistas foram articuladas para viabilizar as exibições. O público será formado por quem estiver ao redor dos locais, evitando aglomerações.
Conversamos com a equipe responsável pela curadoria e organização do evento, formada por Gustavo Spolidoro e Jaqueline Beltrame, curadores do Cine Esquema Novo, e pelas artistas Janaína Castoldi e Kamyla Claudino Belli.
Leia a entrevista.
Como surgiu a ideia desse evento especial do Cine Esquema Novo (CEN) e como ele dialoga com outras edições do festival?
Esperamos algum tempo para definir se faríamos a 14ª edição do Cine Esquema Novo em 2020, em razão da pandemia. Gostaríamos de fazer o festival presencial, e quando vimos que não seria possível, pensamos em uma programação que não precisasse de reunião de pessoas. Já fizemos projeções urbanas em edições passadas, como o ano em que exibimos filmes do Cao Guimarães; já fizemos um cine drive-in em parceria e com curadoria do Atelier Subterrânea (importante espaço de arte independente de Porto Alegre que encerrou suas atividades em 2015); realizamos projeções do terraço da Osso (estúdio de animação localizado em um terraço com vista para o Guaíba e o Centro Histórico, em plena Esquina Democrática) como evento de lançamento do festival; e já tivemos uma vinheta do festival, naquele ano realizada pelos artistas Cristiano Lenhardt e Luiz Roque, projetada em muitos pontos da cidade. Então retomamos esta vontade de projetar nas ruas, que nesse momento vai além de uma vontade, é uma necessidade.
Nos contem um pouco sobre o processo de seleção dos artistas e obras. Como foi feita a curadoria?
Primeiro, pensamos em qual seria o grupo a fazer essa curadoria. Chegamos no nome da Janaína Castoldi, que é VJ e trabalha muito com projeções, e da Kamyla Belli, que é artista e vem trabalhando no CEN nas últimas edições, trazendo novos nomes ao festival. Além das duas, Jaqueline Beltrame e Gustavo Spolidoro, que já são curadores do festival, formaram o time de curadores. Partimos então de um sentimento que gostaríamos de ver e transmitir nas obras: liberdade. Isso porque muito do que temos assistido fala de pandemia, de prisão, de angústias internas nossas e de onde vivemos. Então optamos por abrir as janelas e nos devolver ao mundo do qual pertencemos. Claro que a interpretação do que é liberdade, além daquela que é senso comum, pode ser algo individual.
Então com essa ideia, fomos individualmente atrás de obras novas para compartilhar com o grupo de curadores, sem preocupação com ineditismo ou de serem recentes, inclusive revisitando edições anteriores do CEN. Tivemos algumas conversas até chegar nesta curadoria final, pois como todo processo curatorial, tem o olhar de todos nós, nossas referências, e como as obras podem dialogar entre si.
Como foram escolhidas as cidades onde serão realizadas as projeções?
O grupo de curadores fez esse exercício de buscar amigos do Cine Esquema Novo, sondando individualmente mais de uma centena de pessoas em busca daquelas que tem projetor e que se empolgassem com a ideia de projetar, seja em Porto Alegre, outros estados e também fora do Brasil. Encontramos também novas pessoas que conhecemos durante a pandemia, através da cultura de projetar de nossas casas sobre pautas sociais e arte.
Por fim, gostaria de um comentário da Janaína Castoldi sobre a trajetória dela com projeções e como isso se reflete na atuação dela na equipe curatorial do Janelas Abertas.
Janaína Castoldi: Acompanho como espectadora o CEN desde que descobri sua existência e sempre admirei a abertura para experiências fora das salas de cinema. Trabalho com arte e entretenimento, usando projeções e videomapping há anos em peças teatrais, festas, performances e eventos culturais. Com a chegada da pandemia, todas essas atividades foram interrompidas e, no lugar, surgiram questões sociais e econômicas, incertezas, e a necessidade de expressar a revolta com a falta de ações dos governos. Isso fez muitas pessoas começaram a projetar das janelas de casa tudo que estavam querendo dizer/manifestar, e eu entrei nessa onda.
Acho que essa experiência trouxe um aprendizado técnico, de entender que tipo de linguagem funciona em projeções de rua, considerando que há uma variedade de “telas”, com interferências das janelas e texturas dos prédios, por exemplo, e outro aprendizado desse contato intenso com pautas sociais, aumentando a percepção sobre meus privilégios enquanto pessoa branca, por exemplo. Eu já participava de um grupo de estudos feministas, antirracista, mas isolada em casa, lendo e acompanhando notícias sobre crimes ambientais, violências contra mulheres, pessoas negras, povos indígenas e falta de preocupação com a pandemia. A sensibilidade e o conhecimento sobre a importância de debater e resolver tudo isso aumentou. E isso se reflete nos filmes que escolhemos mostrar. A liberdade que falamos no texto curatorial parte dessa noção de que, de fato, todes precisam estar incluídos nela.
Para mais informações sobre o Cine Esquema Novo de Janelas Abertas – Arte Audiovisual Brasileira, acesse o site e perfis nas redes sociais do festival:
www.cineesquemanovo.org
www.facebook.com/cineesquemanovocen
@cineesquemanovo
Obras e artistas que integram as projeções:
Alvorada (2014), de Luiz Roque
Intervenção Jah (2019), de Welket Bungué e Daniel Santos
Me Gritaram Negra (2019), de Anne Magalhães
O Sol Nascerá (2020), de Denilson Baniwa
Preparação para Exercício Aéreo, a Montanha (2016), de Rubiane Maia e Manuel Vason
Prólogo/Monolito (2003), de Renato Heuser
Tapete Mágico (2006), de Gustavo Jahn
sexta-feira, 11 a 11 de dezembro de 2020 | 20h30