Maxwell Alexandre finaliza gravura e exposição na Fundação Iberê
Nascido e criado na Rocinha, no Rio de Janeiro — e residente da comunidade até hoje —, Maxwell Alexandre vem ganhando o mundo com suas pinturas de grandes dimensões que afirmam a presença e resistência de corpos negros no cotidiano carioca. Na Fundação Iberê, o artista apresenta desde outubro a mostra Pardo É Papel, que se encerra neste domingo (14/2), e há poucos dias concluiu, no Ateliê de Gravura da instituição, uma obra iniciada em 2020.
“Foi um processo um pouco demorado, muito por conta da maneira como eu trabalho. Fico tentando ir achando os caminhos”, contou Maxwell, que utilizou papel pardo como suporte da gravura em metal de 1,20 m x 80 cm que produziu — dimensões que demandaram um corte do papel em duas partes, incorporado na obra pelo artista.
“Não lembrava tanto dos processos”, explicou Maxwell, que já havia trabalhado com diferentes técnicas de gravura na faculdade de Design da PUC-RJ, onde estudou, “mas tendo o Eduardo comigo não foi um problema”, completou, referindo-se ao auxílio do artista e coordenador do ateliê, Eduardo Haesbaert, no uso da prensa que pertenceu a Iberê Camargo.
A gravura de Maxwell apresenta uma corrente de ouro que carrega um pingente em forma de revólver — imagem que faz parte do léxico visual do artista.
“Pardo É Papel” debate questões raciais e explora características dos espaços expositivos
“O desígnio pardo encontrado nas certidões de nascimento, em currículos e carteiras de identidades de negros do passado, foi necessário para o processo de redenção, em outras palavras, de clareamento da nossa raça”, afirma Maxwell no texto que apresenta a exposição Pardo É Papel.
“Porém, nos dias de hoje, com a internet, os debates e tomada de consciência e reivindicações das minorias, os negros passaram a exercer sua voz, a se entender e se orgulhar como negro, assumindo seu nariz, seu cabelo, e construindo sua autoestima por enaltecimento do que é, de si mesmo”, segue o artista. “Este fenômeno é tão forte e relevante, que o conceito de pardo hoje ganhou uma sonoridade pejorativa dentro dos coletivos negros. Dizer a um negro que ele é moreno ou pardo pode ser um grande problema, afinal, Pardo É Papel”, completa.
No que diz respeito aos aspectos formais da exposição, Maxwell destaca o interesse em explorar as características do espaço onde suas pinturas são montadas: “São obras monumentais suspensas, com um caráter instalativo que valoriza certa tridimensionalidade”.
“Isso me permite criar circuitos, uma das coisas que mais me interessa. Toda vez que vou desenhar a expografia de um lugar, fico interessado em como manipulo o circuito dos visitantes pela exposição. Tem obras em que eu vou criar um corredor ou não vou oferecer recuo. Algumas valorizam mais o verso – você pode ver fitas, a junção do papel, transparências, cada rasgo… Todas essas características de fragilidade que são tão poderosas em termos poéticos”, descreve. “A Fundação Iberê, por ter essa arquitetura tão particular, trouxe uma potência para a exposição”, completa.
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A exposição Pardo é Papel, de Maxwell Alexandre, segue em cartaz na Fundação Iberê até domingo (14/2). A mostra é promovida pelo Instituto Inclusartiz e tem patrocínio do grupo PetraGold.
Visitação: sexta a domingo, das 14h às 19h (último acesso às 18h) Agendamento pelo Sympla.
Visita mediada individual: R$ 20,00
Visita mediada dupla: R$ 30,00
Visita mediada em dupla + catálogo: R$ 40,00
Visita mediada em dupla + catálogo + estacionamento: R$ 70,00
Assista ao vídeo gravado por Maxwell Alexandre para a inauguração da mostra Pardo É Papel: