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Arthur de Faria: série As Origens, Parte XVIII

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Arthur de Faria: série As Origens, Parte XVIII No mundo lá fora, dia 23 de outubro de 1906, Santos Dumont decola do Campo de Bagatelle, em Paris, a bordo de seu 14-Bis. Estava inventada a aviação. Apenas dezenove anos depois, 1927, a VARIG – Viação Aérea Rio-Grandense – seria a primeira empresa aérea brasileira e uma das primeiras do mundo. Seu voo inaugural, em três de fevereiro, criou a linha Porto Alegre-Rio Grande. Logo, com apoio do presidente da província, Getúlio Vargas, que isentou a empresa de impostos por 15 anos, seus hidroaviões (sim, eram hidroaviões) sedimentariam a rota Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande como uma das primeiras do planeta. No ano seguinte ao feito de Santos Dumont, em cinco de março de 1907, Lee D. Forrest faz, em Nova York, a primeira transmissão experimental de um programa de rádio. Doze meses depois, em 16 de março de 1908, era inaugurada em San Diego, Califórnia, a primeira emissora do planeta. Em sete de setembro de 1922, na Exposição do Centenário da Independência, no Rio, aconteceria a primeira transmissão radiofônica nacional. Dois anos depois, 1924, nascia a Rádio Sociedade Rio-Grandense, de Rio Grande (principal cidade portuária gaúcha, 317 km ao sul de Porto Alegre), seguida pela Rádio Pelotense (de Pelotas, cidade ao lado). Finalmente, em 1927, é inaugurada a primeira emissora da Capital: a Rádio Sociedade Gaúcha (desse novo mundo falaremos no capítulo seguinte). Porto Alegre era uma cidade em ebulição, com a segunda maior frota de automóveis do Brasil: três mil, perdendo só pra São Paulo. Mas como as pessoas ouviam rádio? Ora, muita gente correu para comprar seus aparelhos logo que se começou a falar no assunto. Muitos, na verdade, é exagero. Nesse primeiro momento, poucos. Depois é que a novidade foi se popularizando. Afinal, não tinha havido um Savério Leonetti para fazer uma fábrica local de receptores bons e baratos. * * * Desde o final do século XIX o Carnaval mudava rapidamente. Agora havia desfiles de grupos mascarados das mais variadas classes sociais, acompanhados por orquestrinhas ou estudantinas com as mais improváveis formações instrumentais. O Club dos Pierrots, por exemplo, era descrito no Correio do Povo de 24 de fevereiro de 1903 como um conjunto seleto formado por sete violões, um violão espanhol, duas flautas, três violinos, uma bandurra e um cavaquinho. Carnavalizando polcas, valsas, marchas, dobrados, mazurkas, havaneiras, schottischs e até seleções de óperas. Achou a formação curiosa? Então que tal a Orquestra Mista de um grupo anônimo registrado pelo mesmo Correio do Povo três anos antes? Concertina, ocarina, trombone e instrumentos de papelão. O jornal do governo, A Federação, neste mesmo carnaval de 1900, descreve no detalhe outra dessas formações populares e nunca muito bem organizadas: E lá se foi o bando onde figuravam dominós de metim de cores desbotadas, os tradicionais macacos de barba de pau, alguns tipos com casaco virado do avesso e pedaços de pelego nos rostos; tudo isso ao ruído de uma canglorosa corneta, um bombo com a pele frouxa, uma caixa de rufo no mesmo estado, pandeiros, violas, violões, chocalhos, etc.Um, talvez o mais abastado do grupo, trajava calça e jaqueta de Zuavo, feitas de belbutina e já […]

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No mundo lá fora, dia 23 de outubro de 1906, Santos Dumont decola do Campo de Bagatelle, em Paris, a bordo de seu 14-Bis. Estava inventada a aviação. Apenas dezenove anos depois, 1927, a VARIG – Viação Aérea Rio-Grandense – seria a primeira empresa aérea brasileira e uma das primeiras do mundo. Seu voo inaugural, em três de fevereiro, criou a linha Porto Alegre-Rio Grande. Logo, com apoio do presidente da província, Getúlio Vargas, que isentou a empresa de impostos por 15 anos, seus hidroaviões (sim, eram hidroaviões) sedimentariam a rota Porto Alegre-Pelotas-Rio Grande como uma das primeiras do planeta. No ano seguinte ao feito de Santos Dumont, em cinco de março de 1907, Lee D. Forrest faz, em Nova York, a primeira transmissão experimental de um programa de rádio. Doze meses depois, em 16 de março de 1908, era inaugurada em San Diego, Califórnia, a primeira emissora do planeta. Em sete de setembro de 1922, na Exposição do Centenário da Independência, no Rio, aconteceria a primeira transmissão radiofônica nacional. Dois anos depois, 1924, nascia a Rádio Sociedade Rio-Grandense, de Rio Grande (principal cidade portuária gaúcha, 317 km ao sul de Porto Alegre), seguida pela Rádio Pelotense (de Pelotas, cidade ao lado). Finalmente, em 1927, é inaugurada a primeira emissora da Capital: a Rádio Sociedade Gaúcha (desse novo mundo falaremos no capítulo seguinte). Porto Alegre era uma cidade em ebulição, com a segunda maior frota de automóveis do Brasil: três mil, perdendo só pra São Paulo. Mas como as pessoas ouviam rádio? Ora, muita gente correu para comprar seus aparelhos logo que se começou a falar no assunto. Muitos, na verdade, é exagero. Nesse primeiro momento, poucos. Depois é que a novidade foi se popularizando. Afinal, não tinha havido um Savério Leonetti para fazer uma fábrica local de receptores bons e baratos. * * * Desde o final do século XIX o Carnaval mudava rapidamente. Agora havia desfiles de grupos mascarados das mais variadas classes sociais, acompanhados por orquestrinhas ou estudantinas com as mais improváveis formações instrumentais. O Club dos Pierrots, por exemplo, era descrito no Correio do Povo de 24 de fevereiro de 1903 como um conjunto seleto formado por sete violões, um violão espanhol, duas flautas, três violinos, uma bandurra e um cavaquinho. Carnavalizando polcas, valsas, marchas, dobrados, mazurkas, havaneiras, schottischs e até seleções de óperas. Achou a formação curiosa? Então que tal a Orquestra Mista de um grupo anônimo registrado pelo mesmo Correio do Povo três anos antes? Concertina, ocarina, trombone e instrumentos de papelão. O jornal do governo, A Federação, neste mesmo carnaval de 1900, descreve no detalhe outra dessas formações populares e nunca muito bem organizadas: E lá se foi o bando onde figuravam dominós de metim de cores desbotadas, os tradicionais macacos de barba de pau, alguns tipos com casaco virado do avesso e pedaços de pelego nos rostos; tudo isso ao ruído de uma canglorosa corneta, um bombo com a pele frouxa, uma caixa de rufo no mesmo estado, pandeiros, violas, violões, chocalhos, etc.Um, talvez o mais abastado do grupo, trajava calça e jaqueta de Zuavo, feitas de belbutina e já […]

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