Nathallia Protazio
Nathallia Protazio, escritora
Agora Vai

A crise de fim de ano

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A crise de fim de ano Arquivo pessoal
Há algum tempo eu percebi que o fim de ano me jogava numa crise medonha. Uma vontade de ir embora, um desejo de viajar, uma loucura para sair correndo com uma mochila nas costas. Aos poucos o encontro com pessoas sábias foi me mostrando que isso é até normal, somos animais e, como tal, temos ciclos, somos migratórios. Cambia, todo cambia! Aceite o chamado do movimento… Este ano eu aceitei. A viagem começou em São Paulo e, por improvável que fosse, encontrei uma amiga gaúcha, que usou esta porto-alegrense postiça aqui para matar as saudades sulistas. Amélia! Alguém lembra dela? Amélia, a solteira em quarentena que deu o que falar dando dicas de receita de pão e vibradores, lá em 2020. Isso mesmo, ela voltou e adivinhem: solteira de novo. A gente marcou na Augusta porque eu tinha pouco tempo, então o rolê já começaria forte. Chopp artesanal, “pra molhar a palavra”, e sinuca, “pra gente fingir que tá fazendo alguma coisa, aqui em Sampa todo mundo tem de estar fazendo alguma coisa” – ela foi me dizendo –, “e quando eu quero fazer nada, finjo fazer algo que não sei fazer de verdade, tipo jogar sinuca”. Faladora. Acho que Amélia anda querendo fazer nada demais, porque me deu uma surra na sinuca, mal sobrava tempo pra me atualizar sua vida. Resumindo ela anda mais ou menos assim: Olha, não vou reclamar muito, afinal de contas meu ex-atual é menos louco que o ex-ex. O ex-ex era aquele, o Stalker, lembra? Aaaaaan-han. A coisa foi feia, tive que pedir ajuda pra polícia, dramão, enfim. Passou. Não. Nunca mais ouvi falar no Stalker, quer dizer, ano passado vi uma publicação sobre um trabalho em Brasília, espero que ele tenha encontrado a quadrilha dele lá e não volte nunca. O que mais me impressionou na história toda com o Stalker é como nosso namoro – meu deus, aquilo foi um namoro? –, o nosso lance foi tão meia boca, a emoção começou mesmo depois que a gente terminou. Águas passadas. Poucas semanas depois eu já tava com o ex-atual, o Jogador. Amiga, ele primeiro se apresentou como economista, trabalhava com finanças de uns clientes da Faria Lima. Fui meio desconfiada acreditando, e como não iria? Carrão. Festão. Nomão. Ele parecia ter tudo. Tu sabe, eu não sou pelo dinheiro. Eu gosto da pessoa. Homem, isso. Você tem razão. Eu gosto do homem pelo que ele é, o que ele tem, digamos, é consequência para,  das duas, uma: ele vai pagar tudo ou vamos dividir a conta? Com o Jogador a gente nunca dividia. O que aconteceu, amiga? Depois de meses de love, descobri que as finanças dele, na Faria Lima, era na verdade jogo de poker na internet. E como? Da pior forma possível, ele apostou meu notebook, meu split, minha air fryer, meu cachorro. Sim! Ele apostou meu cachorro! O Billy Idol!!! Foi uma vergonha atrás da outra, explicar pra síndica que ele não estava trocando minhas coisas por droga, que […]

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