Nathallia Protazio
Nathallia Protazio, escritora
Agora Vai

Amélia II

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Amélia II Arquivo pessoal
Amélia tá pirando. Assim como eu, ela tem traços de paranóia e depressão na sua personalidade ansiosa. Anda dizendo que tem de ir embora num dia, e no outro quer comprar um apartamento. Loucura total. Devo dizer que esta coluna deveria ser sobre mim e servir como trampolim para me transformar num produto vendável e rentável: Nathallia Protazio. Eu fiz mesmo os textos do piloto, o argumento e release, coisas tal. Mas agora, completando 22 semanas juntas, a Editora-chefe me disse o número de caras leitoras e queridos leitores que alcançamos e pensei no meu egoísmo, calculei as dívidas e resolvi, não serei mais protagonista.  Calma, minha gente. Toda mudança é para o bem. A questão é só uma perspectiva. Eu estava fabricando um projeto de ficção no qual pudéssemos acompanhar a minha rotina de idas e vindas nas cidades. João Pessoa, Jupi, São Paulo, Porto Alegre. Idas e vindas em busca de um lar, de pertencimento. Em busca de mim mesma. O recorte de vida narrado tem sido meu. Mas convenhamos, mulher escrevendo em primeira pessoa se auto ficcionando não vende. Não é ficção, dirão. Tá só contando uma coisas da tua vida, diriam. E meu trabalho de escolhas técnicas, leituras, escritas e reescritas vai para o mesmo limbo dos diários da Carolina Maria de Jesus, das autobiografias da Maya Angelou, da teoria social da bell hooks. Eu não quero estar ao lado destas mulheres? Óbvio que sim. De uma certa forma, minha alma tiete já está lá, no Panteão das Grandes Escritoras Subjugadas. Olha como ando humilde. Porém, além do fato de que fazer ficção escrevendo sobre mim às vezes cansa, porque eu sou uma pessoa cansativa, este projeto tem dinheiro envolvido. Quando o dinheiro entra na roda, o sonho e o amor são valores mensuráveis em cotação diária. Estávamos neste conflito, Nathallia Protazio escritora e Nathallia Protazio narradora-protagonista, quando fomos tomar um litrão com uma amiga e a solução apareceu fácil. – Não quer mais contar a tua história porque tão ridicularizar o teu trabalho? Conta a minha! – Como assim? – Conta a minha busca por apartamento. Tu já ia falar de pertencimento e os paranauê… quer mais pertencimento do que pagar parcela da Caixa? – É sério isso, Amélia? – Bem que tu tá me devendo uma, quem sabe tuas leitoras lêem minha história e me ajudam a decidir o que fazer. – Tu é muito safada mesmo, quer transformar minha coluna num grupo de auto-ajuda teu. – Não, longe de mim, mas pensa, o que pode vender mais do que a vida alheia e a oportunidade de dar pitaco? – Não sei não, é pra ser ficção, literatura. – Olha, a escritora é tu. Se tu é boa mesmo, pode contar a história de qualquer um. Por que não a minha? Nathallia Protazio é escritora e farmacêutica. Autora de Aqui dentro (Venas Abiertas, 2020) e Pela hora da morte (Jandaíra. 2022). Clique aqui e adquira seu exemplar direto com a autora.

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