Nathallia Protazio
Nathallia Protazio, escritora
Agora Vai

As borboletas amarelas

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As borboletas amarelas A borboleta amarela - divulgação
Achei a borboleta amarela amiga do Braga. Tudo bem que fica meio difícil de acreditar pelo período que ela se ausentou – eu ia dizer se escondeu, mas ela garante que não fugiu, ele que não soube acompanhar seu voo – mas é ela. Eu garanto! Todas as borboletas amarelas do país estão reunidas em Paulista, na Paraíba, neste mês de fevereiro. Isso mesmo, não digo todas as borboletas do país, vi muitas brancas, pouquíssimas azuis, mas as amarelas, garanto, estão todas lá. Não tá entendendo nem acreditando? Não se aperreie, explico. Estava eu, sexta-feira de Carnaval, entre o estudo e a agonia de não ter onde ir pular folia, enfurnada na casa de vó, e na dissertação – em Pernambuco, não na Paraíba. Num dado horário, já avançado da tarde, eu desisti de tentar me concentrar e resolvi ir pra João Pessoa. Oras, por que João Pessoa? Porque Recife é uma loucura e em João Pessoa eu tinha estadia. Na verdade eu queria ir pra qualquer lugar onde houvesse alguma coisa. Achava eu. Deixa que pra economizar e fazer algo diferente, me ofereci para vir com meu primo que descia para sua casa no sertão da Paraíba. Ele avisou, é contramão, mas eu insisti, tenho pressa não. Assunto resolvido, fui beber, que sexta-feira é sempre sexta-feira e nessa, quase perco a última dignidade que ainda tinha e o horário da saída. Peguei dois reais, minha bolsa misteriosa e, não sei em que estado, entrei no carro do motorista mais pontual do agreste. 4 da manhã. O álcool quando não mata, humilha. Eu tava tão ruim que nós vamos pular direto pras 8h, quando a gente chegou em São José do Egito. Uma garrafa de água me tirou do lugar frio e luminoso onde eu me encontrava, proporcionando um fôlego de vida. Ressaca a gente até encara. Mas queimar a largada daquele jeito, fazia vergonha. Conversa vai, conversa vem. Descobri que eu estava adentrando um recôndito literário. São José do Egito, terra de poetas. Paraíba, terra de cordelistas e repentistas. Mais poetas. Os escondidos das letras vivendo em harmonia real. Escondidos dos olhos do Sul, mas não da natureza. Já na descida da serra do Teixeira me apaixonei comendo com os olhos todo aquele mundo verde e pedregoso. O sertão é um encontro com a vastidão. Meu peito vagabundo, já abatido pelo álcool da noite anterior, não emitiu sinal de resistência, a paixão crescendo. Cheguei em Paulista embutida em dúvida. Quem eu pensava que era pra querer descansar, pular Carnaval, escrever dissertação e passear pelos cantos literários da minha nação nordeste num só dia? Ou dois. Me perguntava e refletia sobre minha finitude, indo e vindo por ruas rurais urbanas, quando encontro, sem prever ou imaginar, todas as borboletas amarelas do Brasil. Tranquilas, viu. Juntas cada uma no seu voo, escrevendo poesias efêmeras no ar e rindo da existência. Não precisei de mais que três averiguadas e numa pergunta aqui, outra acolá, eis que ela mais me encontrou do que […]

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