Juremir Machado da Silva

Caco e Eliane Brum, em nome da reportagem

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Caco e Eliane Brum, em nome da reportagem Premiados no Alumni PUCRS 2023 Fotos de Juremir Machado da Silva

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) realizou mais um evento em homenagem a ex-alunos. Na última quinta-feira, com apresentação da jornalista Alice Bastos Neves, também ex-aluna da casa, foi entregue o Prêmio Alumni 2023. Nove profissionais foram destacados, entre os quais a médica Maira Caleffi e três protagonistas da área da comunicação, formados na Famecos, a atual Escola de Comunicação, Artes e Design: Caco Barcellos, Eliane Brum e Israel Mendes.

Caco Barcellos, apresentador do Profissão Repórter da Rede Globo, e Eliane Brum, colunista do jornal espanhol El País e fundadora do site Sumaúma, têm muitos pontos em comum, o principal deles é a paixão pela reportagem. Eliane se especializou na cobertura da Amazônia, onde vive, recebendo contínuas ameaças, até de morte, por causa das denúncias que faz. Eliane, multipremiada, começou a carreira na Zero Hora de Porto Alegre, onde fomos colegas, cada um, na época, desenhando o estilo de texto que adotaria.

Caco iniciou na Folha da Manhã, do antigo grupo Caldas Júnior, então proprietário do Correio do Povo, de onde saiu, depois de um rolo típico do jornalismo de combate, tendo os colegas se demitido em solidariedade a ele. A sua trajetória é a de um contador de histórias das pessoas mais simples, do verdadeiro andar de baixo da sociedade, de “craqueiros” a excluídos de todos os tipos, buscando sempre o ponto de vista suprimido, esquecido, desprezado.

Em palestra na Famecos, antes da cerimônia de entrega do prêmio, para qual levou a mãe, a quem ofereceu o troféu como o símbolo de uma promessa de 50 anos antes, a de um dia voltar. Profissão de fé na busca pela verdade dos fatos, compromisso com os que não têm voz, paixão pela reportagem. É o que se vê nos seus livros, como por exemplo, em Abusado.

Caco Barcellos com Ricardo Barberena e Rosângela Florczak na Famecos

Aos estudantes, Caco deu um conselho de velho jornalista: perseverar, perseverar, perseverar.

Na Zero Hora, Eliane já praticava um texto mais literário em suas reportagens dominicais. Na época, ainda causava alguma estranheza. Os mais conservadores torciam o nariz. Hoje, é autora de livros publicados em várias línguas.

Caco e Eliane enfatizam um ponto capital: o jornalismo está vivo. É mais necessário do que nunca.

Jornalismo não é entretenimento, ainda que nas prateleiras de um jornal (impresso ou eletrônico) também seja possível encontrar diversão. O Correio do Povo, lançado em 1º de outubro de 1895, queria ser noticioso, literário e comercial. Ou seja, venderia notícias e entretenimento, sem submissão a partido ou causa, salvo a de servir bem aos interesses do seu público.

Perseverante, Caco vem resistindo à dizimação dos velhos jornalistas feita pela Rede Globo.

Mudam as tecnologias, os suportes, os meios de difusão, o jornalismo persevera.

Continua, na essência, sendo o que Orwell teria dito: contar o que alguém gostaria de esconder.

O resto, parafraseando Millor Fernandes, é armazém de secos e molhados.

Gourmetizado.

Mas isso não significa que se deve odiar o entretenimento ou recusar novas tecnologias. De resto, de uso simples, ao alcance de qualquer um e hiperdimensionadas na dificuldade ou no alcance pelos que ganham espaço com essa estratégia.

Há lugar para tudo e todos na grande fábrica de notícias e no grande shopping da comunicação.

Na sua bela fala, o reitor da PUCRS, Evilázio Teixeira, citou o escritor Milan Kundera, falecido dois dias antes, e destacou a importância do conhecimento. O saber abre as portas da percepção. Em tempos de fake news, reportagem é vida.

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