Juremir Machado da Silva

Kathrin Holzermayr Rosenfield: Gasômetro, homenagem ao arquiteto Otto Wagner

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Kathrin Holzermayr Rosenfield: Gasômetro, homenagem ao arquiteto Otto Wagner Otto Wagner: Parada Stadtbahn Westbahnhof, 1894, Museu de Viena. Imagens cedidas pelo Museu da cidade de Viena

Professora da UFRGS e cônsul honorária da Áustria em Porto Alegre apresenta exposição e simpósio sobre vienense

O evento

A exposição e o Simpósio apresentarão o percurso desse arquiteto que marcou Viena com edificações como a Caixa Econômica Postal, as estações do Metrô Stadtbahn ou a Igreja do Steinhof. 

Otto Wagner: Parada Stadtbahn na Karlsplatz e Gumpendorferstrasse, 1898, Museu de Viena

Otto Wagner criou obras-chave da arquitetura moderna no início do século XX. São construções cuja linguagem formal deriva logicamente da sua função, da sua finalidade e que renunciam a qualquer ornamento tradicional. Ao mesmo tempo, é inconfundivelmente claro que elas respeitam e dão continuidade à tradição da arquitetura europeia clássica. Nesse sentido, Otto Wagner exerceu também grande influência sobre o ecletismo na arquitetura porto-alegrense que faz a transição para o Movimento Moderno.

Sobre Otto Wagner

Otto Wagner (Viena, 13 de julho de 1841 – Viena, 11 de abril de 1918) é o pai da modernidade na arquitetura e um visionário do urbanismo da revolução industrial, com respostas às necessidades do mundo contemporâneo. Ele brilha não apenas pela ousadia do design, mas concebeu novas perspectivas de planejamento urbano para metrópoles em constante expansão, de transporte público e privado mais rápido e inclusivo, para a infraestrutura que integra a cidade no meio natural.

“Artibus”, vista aérea, 1880, Museu de Viena

Suas propostas foram instigantes não apenas no século XX, mas ainda colocam questões relevantes para os problemas de democratização e sustentabilidade da arquitetura na época atual. Suas soluções para as moradias, o negocio e o transporte coletivo das grandes metrópoles lhe valeram a admiração de seus alunos, muitos deles nomes marcantes da arquitetura, do design e da arte do século XX – de suas ideias emergem nomes com Joseph Hoffmann a Le Corbusier, elas inspiram os fundadores da Bauhaus e se afirmam também para além do Atlântico: no Brasil cidades contam com um urbanismo e prédios construídos por influência dessas novas ideias.

O símbolo de Porto Alegre – a usina do Gasômetro – foi construído por um aluno de Otto Wagner, Anton Benjamin Floderer (1884-1972), e vários dos arquitetos-imigrantes da Áustria e da Alemanha deixaram em Porto Alegre um legado que tem alguma relação com Otto Wagner e sua escola.

Vale a pena evocar o legado de Otto Wagner na obra de Floderer, arquiteto nascido em Brünn, ou Brno, que foi também a cidade natal de Adolf Loos, na parte tcheca do antigo Império Austro-Húngaro. Antes de emigrar para as Américas, Floderer esteve envolvido com movimentos e matrizes arquitetônicas protomodernas ainda não propriamente rastreadas no Brasil: foi discípulo do eminente arquiteto vienense Otto Wagner, associou-se a diversos arquitetos do neo-historicismo berlinense e, ao emigrar para o Brasil, desenvolveu uma dicção arquitetônica muito própria e diversa, que oscilava entre os historicismos, o Expressionismo Alemão e o Art Deco Marajoara. Suas obras no Brasil incluem o Instituto do Cacau na Bahia, o Edifício Topic Nigri Rua da Alfandega, 100, o Banco Britânico, 1926, Rua General Câmara, já demolido, e a Usina do Gasômetro.

No contexto de formação do modernismo nos países de língua alemã no início do século XX, as capitais Viena e Berlim se destacaram claramente como centralidades. Viena fornece as matrizes protomodernas de Otto Wagner e da Wiener Secession, atuantes desde 1897 e, posteriormente, pela radicalidade da teoria crítica de Adolf Loos.

Otto Wagner: Ponte Stadtbahn sobre o Wienzeile, 1896, Museu de Viena 

Berlim, por sua vez, se destaca por condensar as matrizes modernistas do país, acolhendo exposições e projetos do Deutscher Werkbund em 1924 e, em seguida, como sede do Bauhaus, em seus últimos suspiros. Anton Floderer teve a oportunidade de passar seus anos formativos em ambos os contextos modernistas, primeiro como aluno da Wagnerschule – nome que se refere à Akademie der Bildenden Künste, Spezialeschule für Architektur, Wien (Escola Especial de Arquitetura da Academia de Artes Visuais de Viena) dirigida por Otto Wagner, em Viena, depois como jovem arquiteto em escritórios berlinenses.

Desde muito cedo, Floderer teve sua formação voltada para a construção e para as artes e ofícios: frequentou a Staatsgewerbeschule (1898-1903) e a Technische Hochschule (1904-1905), ambas em Viena.

Otto Wagner: Praça da Imperatriz Elisabeth com parada de trem, 1893, Museu de Viena

Gasômetro

O projeto do Gasômetro segue de perto o espírito que Otto Wagner legou aos seus seguidores vienenses, berlinenses e aos imigrantes como Floderer que começaram a construir no Brasil e em Porto Alegre. O atual símbolo da nossa cidade surgiu para oferecer soluções integradas para a cidade que crescia e se modernizava rapidamente nos anos 1926. Forneceu, numa linguagem arquitetônica ainda bastante neoclássica, um prédio funcional que preenchia bem a finalidade visada quando o prefeito de Alberto Bins assinou então um contrato com a Companhia Brasileira de Força Elétrica (subsidiária brasileira de Bond and Share americana). Análogo ao projeto Stadtbahn (o Metrô de Viena, construído por Wagner), Floderer forneceu um projeto que cumpria o plano de integrar as Usinas de geração de energia, com o Gasômetro e o sistema de transporte por bondes elétricos.

“A metrópole ilimitada”

Unlimited City: Otto Wagner (1841-1918)

O desenho artístico da cidade sempre foi o foco do interesse de Wagner. Seus projetos sempre se referiram ao ambiente espacial e muitas vezes tentaram resolver problemas de planejamento urbano. Quando a construção da Wiener Stadtbahn começou em 1894, Wagner assumiu o projeto artístico da estrutura de transporte de 40 quilômetros, com 34 paradas. Nunca antes um arquiteto havia sido incumbido de tal tarefa. Até ao último detalhe, concebeu uma grande estrutura funcional e inconfundível, adaptada à fluidez do trânsito, que até hoje influencia decisivamente o espaço urbano.

Em 1911, Wagner resumiu seus pensamentos sobre planejamento urbano no estudo “A Grande Cidade”. Com base numa densa rede de transportes públicos, desenhou a imagem ideal de uma metrópole do século XX que pode crescer indefinidamente, mas de forma controlada, regida por uma forte administração municipal e cujo desenho foi determinado pela mão ordenada do arquiteto. Ruas retas orientam a agitação da vida da cidade em uma direção ordenada, jardins espaçosos oferecem espaço para relaxamento. O prédio com apartamentos de aluguel era um elemento central do projeto. Ao contrário de muitos de seus contemporâneos, Wagner não era cético em relação à cidade grande, mas entusiasmado com ela. Sua visão monumental da cidade grande expressa esse otimismo.

Exposição

A exposição Unlimited City: Otto Wagner (1841-1918), assim como o Simpósio sobre o arquiteto vienense abordará, além da obra de Wagner, também sua influência sobre arquitetos ativos em Porto Alegre e no Brasil no início do século XX, período de transição de linguagens arquitetônicas. Ambos eventos são iniciativas oferecidas pela Embaixada da Áustria e pelo Museu da Cidade de Viena, pelo Centro de Estudos Europeus e Alemães (CDEA) e pela Pinacoteca Aldo Locatelli da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.



Abertura 29/07/2023, sábado, 11 horas

Simpósio: 31/07/2023, segunda feira, 18 horas
Local: Pinacoteca Aldo Locatelli – Praça Montevidéu, 10 – Porto Alegre
Horários de visitação: segunda a sexta, das 9 horas às 17 horas
Curadores: Andreas Nierhaus, Golmar Kempinger-Khatibi
Produção no Brasil: Kathrin Rosenfield e Ester Meyer

• Agradeço a G. Weimer, cujos livros e artigos sobre a arquitetura porto-alegrense me fizeram descobrir o elo entre Floderer e Otto Wagner. As informações que seguem foram colhidas na obre de G. Weimer (KHR).

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