A promessa
Não farei uma resenha. Perdi a fé nesse tipo de comentário com a chegada do GPT. Direi apenas que Galgut conta a história contemporânea da África do Sul nas entrelinhas da derrocada de uma família. A narração é acelerada. Não há tempo morto nessa história pontuada por mortes. É uma obra triste. Quase toda obra-prima é triste. Neurologistas discutem a razão de gostarmos de música triste. Talvez isso explique meu horror ao sertanejo universitário, com sua alegria barata. Dizer isso também não conta pontos. Um coach diria que para viver bem é preciso aprender a mentir ou, ao menos, a omitir. Como pode alguém ter um coach? Opa! Outro assunto proibido. Há dois tipos de coach: o que infantiliza seu cliente; e o que “seniliza”. Uau!
Há passagens duras, dignas de um Houellebecq, no livro de Galgut, que ganhou o prestigioso Booker Prize, embora os prêmios dependam muito da força das editoras, como esta: “Mas Anton, afinal, é fácil de descartar. Ele está magro a ponto de parecer consumido, e logo se transforma em cinzas. Embora seja mais adequado dizer que ele se torna um montinho de pedrisco com pedaços e lascas de ossos misturados. Uma quantidade surpreendente, na verdade. De novo é Clarence quem recolhe Anton depois que ele esfria e peneira tudo em busca de pedaços de metal, obturações de prata ou pinos ortopédicos e coisas assim, antes de colocá-lo no cremulador, que mói tudo e transforma basicamente em pó”. Tomara que a inteligência artificial substitua Clarence nesse tipo de serviço. Seria bastante humano.
Continua...