Juremir Machado da Silva

Bloqueei Elon Musk no X

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Bloqueei Elon Musk no X

Acordei decidido a tudo. Era domingo. Tinha sol. Tudo parecia bem. Mas eu estava alterado. Precisava fazer algo à altura das minhas aspirações. Queria me sentir em paz comigo mesmo. Pretendia me olhar no espelho com dignidade. Não podia mais continuar ignorando os fatos, driblando as situações, andando no fio da navalha, me equilibrando em cima de um muro cheio de cacos de vidro. Então, sentei na frente do computador. Senti que algo estava para acontecer. A coisa veio do mais profundo de mim. Entrei no X, que ainda chamo de Twitter, vi uma postagem de Elon Musk. Não pensei duas vezes: bloqueei o dono da casa, da ferramenta, do negócio, daquela porra.

Bloqueei Musk e me senti por dez minutos o máximo. Fiz a barba só para me olhar no espelho com ar superior. Vi uma cara renovada. Medi a pressão: 11 por 7. Quase me cumprimentei pelo ato. Eu estava cansado de Musk e dos seus ataques ao STF. Se bem que ando cansado também de Alexandre de Moraes e do seu papel de xerife nacional. Ando cansado de tudo. Depois de saborear a minha coragem, comecei a sentir algo estranho. Não era sentimento de culpa. Era o que mesmo? Medo. E se Musk me derrubar no X? Se tirar todos os meus seguidores? Em três dias, perdi 550. É muito para quem tem pouco. Seria uma retaliação?

Fiquei preocupado. Sofro de certa mania de perseguição, moderada, mas persistente. Deveria desbloquear o Musk? Nem morto. Assina aqui tio. Finquei pé, disposto a ficar sem um só seguidor, mas firme, digno, livre. Então me veio outra inquietação: a turma do Musk me chamaria de censor? Diria que censurei o pobre do Elon? Que argumento eu usaria para rebater tamanha infâmia? Pensei, pensei, pensei e liguei o foda-se. Era o que me restava. Liguei e saí. Na volta, mais calmo, entrei no X. A perda de seguidores continuava. Uma sangria. O fofoqueiro do algoritmo teria contado ao patrão? Ou está programado para delatar todo os que bloqueiam o seu chefe?

Quando me perguntei isso, fiquei prostrado. Uma iluminação me percorreu o cérebro como um raio de desenho animado. Eu não era o único. Nem o primeiro. Quantos já terão bloqueado o Elon Musk e ficado em casa com uma cara de quem roubou chocolate? Meu gesto rebelde não passava de uma prática corriqueira. Além disso, Musk pode ignorar o meu bloqueio e continuar circulando na minha timeline? Pode se desbloquear e voltar a me perseguir com uma cara de safado? Fiquei no chão. O que se pode fazer quando o hater é o próprio dono da plataforma? A quem reclamar? Ao Alexandre de Moraes? Ao hacker de Araraquara, ao Banco Central, à ONU, ao Vladimir Putin? A quem?

Mantenho Elon Musk bloqueado. Se ele me tirar todos os seguidores, darei o troco sem dó nem piedade: abandonarei a sua plataforma mequetrefe. Talvez seja tarde. Mesmo assim eu não hesitarei. Estou em pé de guerra. Pronto para o que der e vier. Ficarei no Facebook, que tem mais a ver com a minha idade e com o meu estilo de vida, com suas festas de aniversário, batismos, formaturas, comunicados de óbito e convites para enterro. Enfim, estou de olho.

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