Juremir Machado da Silva

Ciro e Lula no Jornal Nacional

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Ciro e Lula no Jornal Nacional Foto: Marcos Serra Lima / g1

A semana foi das entrevistas com candidatos à presidência da República no Jornal Nacional. A Rede Globo fez a pauta. Jair Bolsonaro, o primeiro a ser entrevistado, jogou para a sua bolha. Não foi suficientemente desmentido pelos entrevistadores, que não têm o hábito da função. O capitão mentiu como sempre. O segundo entrevistado foi Ciro Gomes (PDT). Em conversa amena, sem picos de tensão, Ciro mostrou que poderia ser um bom presidente da República, mas dificilmente será desta vez. Lula, o terceiro entrevistado, deu show. Uma entrevista desse tipo tem um pouco de espetáculo, de malícia, de rapidez na resposta.

Lula admitiu corrupção na Petrobras, defendeu os governos de Dilma Rousseff, mas afirmou que ela errou na preficificação da gasolina. Aos poucos, o candidato foi ficando à vontade e aí jogou como gosta: brincando, fazendo piada, discursando, usando metáforas do futebol, seduzindo, prometendo picanha e cerveja para a massa, deitando e rolando. Chamou Jair Bolsonaro de “bobo da corte”, atacou o orçamento secreto do governo atual, ironizou os sigilos de cem anos, ao gosto do presidente da República, e prometeu diálogo, negociação com o Congresso Nacional e capacidade de escuta. Até Paulo Freire foi citado para justificar a chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin: aproximar-se dos divergentes para vencer os antagonistas. As redes sociais explodiram a favor e contra.

Lula deve ter saboreado o começo da entrevista, algo para colocar em quadro, quando William Bonner disse que o ex-presidente nada deve à justiça. Se Bolsonaro foi agressivo e Ciro Gomes argumentativo e racional, Lula, como destacou Caetano Veloso em rede social, arrebatou. O presidente que fora ao fundo do poço, passando mais de 500 dias preso, ressurgiu na bancada do mais importante telejornal do país falando em pacificação. Para ele, a polarização não é problema, sendo comum por toda parte do mundo, salvo em ditaduras, por exemplo, enfatizou, de partido comunista. O que não pode acontecer é o estímulo ao ódio.

A campanha eleitoral começou nesta sexta-feira. O eleitor tem várias opções, entre elas Lula, Ciro e Simone Tebet. Se preferir Jair Bolsonaro não poderá depois dizer que foi por exclusão. As entrevistas do JN poderão ajudar na definição do resultado eleitoral. Nelas, cada candidato se expôs mental e corporalmente. Lula fez a tão exigida autocrítica. Não deixou de apoiar Dilma Rousseff nem de marcar distância em relação a ela: “Rei morto, rei posto”, disse, brincando com o dia em que William Bonner deixar de apresentar o Jornal Nacional. Em alguns momentos, os entrevistadores encarnaram o padrão Jovem Pan e retomaram antigos espantalhos que assustam a classe média: as correntes do PT, o MST, os aliados internacionais do petismo que não primam pela democracia.

Mais uma vez Lula se saiu bem: defendeu a autodeterminação e, ao mesmo tempo, a alternância no poder, com esquerda, direita e centro.

O mais importante é reafirmar: o Brasil tem opções que aceitam jogar dentro das “quatro linhas da Constituição”. Só quem não costuma adotar essa postura é aquele que gosta de usar essa expressão.

A equipe de campanha deve estar dizendo ao capitão:

– O gato subiu no telhado…

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Terra Mátria com Edegar Pretto (PT): candidato ao governo do Rio Grande do Sul defende um programa amplo de combate à fome e conta que ideia de ter Olívio Dutra como candidato ao Senado partiu de Lula.

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