Juremir Machado da Silva

Obrinha do príncipe Harry

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Obrinha do príncipe Harry Reprodução

O livro do príncipe Harry está bombando. Vendeu 400 mil exemplares no primeiro dia de publicação. Não há livro bom que possa concorrer. Guerra perdida. Jamais pude aceitar que qualquer cargo público possa ser transmitido hereditariamente. A monarquia é uma excrescência. A família real inglesa só serve para fofocas e tretas. Chego a pensar que a família real inglesa seja dona dos tabloides que a perseguem ou que existe um contrato entre as partes: uma fornece a lama, a outra divulga. Ao publicar o livro, Harry resolveu assumir o controle da divulgação das fofocas. O lucro será gigantesco.

O que mantém uma instituição inútil e anacrônica como essa? Talvez a necessidade que a maioria de nós tem de curtir a ideia de uma vida privilegiada. Deve ser uma maneira de dizer: eu gostaria de ser assim. Harry é um chato. Bundão mesmo. Já se vestiu de nazista. Deu uma entrevista sobre o livro contando que teve brigas com o irmão. Levou uns tapas. Não reagiu por estar fazendo terapia. Tanto tempo livre deve ser usado para alguma coisa. As imagens da família real inglesa são, em geral, deprimentes. Mostram um grupo de gente esnobe vivendo de modo irreal. Uma espécie de show de Truman real. Lembram do filme “Show de Truman”? A realeza britânica é menos verossímil.

Harry contou que, como militar, matou 25 adversários no Afeganistão. A guerra para ele deve ser como uma caçada. Aí pisou feio na bola. Os muçulmanos estão indignados. Como é que os britânicos não abolem essa aberração? São governados por um rei que sonhou em ser o absorvente da amante. Dizem que foi a maior utopia da sua vida. Certo, sou mal-humorado, ranzinza, incapaz de compreender o conto de fadas da realeza. Sou mesmo. O que atrai tanto nessa lengalenga real? Um país como o nosso, que está no BBB 23, tem tudo para amar o literalmente reality show de Harry e sua patota. Como sofre esse pobre Harry!

A família é racista. Harry e sua esposa Meghan já falaram disso. Com toda razão. Mas o príncipe não quer enfiar o pé na jaca. Inventou uma teoria: não seria racismo, mas viés racista, algo assim, um racismo inconsciente, grave, of course, mas menos grave que o racismo explícito, blábláblá. Harry não é trouxa. Compreendeu o funcionamento da engrenagem da qual faz parte. Primeiro é preciso viver coisas escabrosas, ou nem tanto, enfim, que possam render uma boa fofoca, algo, digamos, com viés de revelação. Depois, deixa-se passar certo tempo. Por fim, empacota-se e vende-se o produto. Não tem erro. Além da grana, tem visibilidade e espaço na mídia para falar mal da mídia.

Não li o livro e, como diria Oswald de Andrade, não gostei. Além disso, jornais noticiam que fatos não foram checados e que há erros. No problem. Corrige nos próximos 400 mil exemplares. Creio que Harry deveria ser condenado por impingir ao mundo sua sopa biográfica a autografar um por um os exemplares vendidos. A Inglaterra bem que podia nos fazer um favor: mandar essa família cair na real. Demissão. Imaginem quanto livros isso daria! Pensando bem, melhor não dar ideia.

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