Juremir Machado da Silva

Migração de Ciro para Bolsonaro

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Migração de Ciro para Bolsonaro Foto: José Cruz/Agência Brasil

A eleição do último domingo deixou um rastro de ilusões perdidas. Ciro Gomes afundou e talvez tenha de mudar de sonho. As pesquisas naufragaram em vários Estados. Jair Bolsonaro está deitando e rolando contra o Datafolha, seu inimigo de estimação. Executivos tentam diminuir o estrago agarrando-se ao que aparece para justificar tantas inversões, com muito segundo chegando em primeiro. Teve até terceiro furando a fila. Se pesquisam não fazem previsão, como dizem especialistas, induzem resultados. O eleitor analisa o que tem à mão e muda o voto na última hora. Faz sentido. Ou as pesquisas seriam mera curiosidade para preencher espaço ou ajudar campanhas a corrigir rumo. Elas não são neutras. Servem para a tomada de decisão.

Institutos de pesquisa buscam explicações para seus erros no primeiro turno. É possível que eleitores bolsonaristas tenham mentido para os pesquisadores só para colocá-los em saia justa. Essa é uma hipótese sempre interessante: a astúcia do homem comum. O principal erro, porém, não foi um. O escore de Jair Bolsonaro derivou da transferência de votos de Ciro Gomes para o capitão. Ciro tinha de cinco a nove pontos de expectativa. Fez três. Simone Tebet tinha cinco; fez quatro. Bolsonaro tinha 37. Fez 43. A diferença coincide com a queda do candidato do PDT. Por que Ciro caiu? Vamos às razões.

Em primeiro lugar, porque se perdeu na reta final da competição e mostrou-se desesperado e derrotado. Em segundo lugar, por ter sinalizado maior tendência a atacar Lula, por ressentimento em relação a 2018, do que Bolsonaro. Em terceiro lugar, o que mais conta, pelo voto útil. Ciro era o escolhido por eleitores que não queriam Lula nem Jair Bolsonaro e buscavam uma alternativa consistente. Mas, quando viram que o voto em Ciro não o levaria ao segundo turno, fizeram seus cálculos, temendo vitória de Lula já no primeiro turno, e migraram para o candidato do PL. Arrependeram-se do arrependimento e voltaram para a escolha de origem. Ciro Gomes, como o PDT, tem sua ala de direita e sua ala de esquerda. Simples assim.

O leitor lógico reage dizendo-se: daria no mesmo se o eleitor votasse em Bolsonaro ou Ciro desde que Lula não fizesse 50% mais um dos votos para poder ganhar no primeiro turno. O cálculo do eleitor assustado é um pouco mais ousado: ele tentou levar Bolsonaro a ganhar no primeiro turno. O salto precisaria ser maior do que as pernas para dar certo. Isso, porém, são outros quinhentos. Ao pensar, vai dar Lula, o eleitor que estava com Ciro sem paixão, pensou: preciso fazer alguma coisa. Fez. Liquidou Ciro, armou Bolsonaro e trancou Lula.

Pode-se estimar, no entanto, que os eleitores bolsonaristas de Ciro já partiram. Aqueles que restaram devem apoiar Lula no segundo turno. Institutos de pesquisa não fazem previsões, mas fotografias de momento, salvo quando acertam. Aí se gabam, comemoram, deitam falação e ganham novos clientes. O eleitor segue a vida: calcula, delira, troca de candidato, faz voto útil, afunda esperanças. Não gosta de votar em cavalo perdedor. Quanto mais Ciro atacava Lula, mais sinalizava que Bolsonaro podia ser a única possibilidade viável para um eleitor anti-Lula e em busca de um candidato competitivo.

Lula está a um passo da vitória.

Só perde se não sair do lugar.

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