Juremir Machado da Silva

Porto Alegre faz anos

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Porto Alegre faz anos Porto Alegre completou 251 anos neste domingo | Leonardo Lopes/CMPA

A capital gaúcha chegou ontem aos seus 251 anos bem ou mal vividos. O título desta crônica joga com uma velha maneira de se referir a aniversário e com a sugestão de que a cidade anda meio parada no tempo. Na verdade, pois um cronista deve ser muito sincero, sinto Porto Alegre meio cabisbaixa. A orla, claro, está um luxo. O centro continua sorumbático. Os bairros seguem a vidinha de sempre. A linda Usina do Gasômetro patina para ter suas obras concluídas. O majestoso Instituto de Educação ainda não foi reaberto. O parque da Redenção passa dias sem quaisquer cuidados, talvez por não ter sido possível entregá-lo aos interesses da voraz e sempre otimista iniciativa privada, como pretendia a atual gestão municipal.

A Câmara de Vereadores dá seus pinotes e aprova moções de apoio ao impeachment precoce do presidente da República ou medidas para favorecer os ganhos dos pobres banqueiros, como tirar as portas giratórias das agências bancárias. Aquela velha e republicana ideia de bem público, aos cuidados dos cidadãos e dos seus representes eleitos, parece fora de moda. O projeto mais badalado é o das novas paradas de ônibus e da contrapartida em painéis para publicidade. Em alguns lugares, as paradas atravancam as calçadas ou ficam coladas nas janelas do primeiro andar dos edifícios. Para levar energia aos monstrengos iluminados, nos canteiros centrais, atravessa-se um fio elétrico à meia altura, o que dá aos lugares um bucólico ar de festa junina extemporânea. Na Ramiro Barcelos alguns até já planejam encher o fio de bandeirinhas de São João. Isso, obviamente, se ele não for arrastado antes por um veículo mais alto. A maçaroca de fios, de resto, continua a embelezar a capital. Há dias em que se precisa prestar atenção para não ser degolado por um deles. Em outros, o perigo é tomar uma rasteira. Coisas de cidade grande, sem dúvida. Como contestar?

Os mais velhos esclarecem: sempre foi assim. Os mais jovens são pragmáticos: foda-se. A situação dá de ombros para as críticas, que debita na conta da oposição, que faz seus cálculos para o ano eleitoral. O cronista acha que é uma questão de filosofia, o pensamento desta era em que parque não pode ser deficitário e bem público deve ser gerido por empresa privada. Ao dizer isso, reforço a ideia de que sou um terrível comunista, o que me faz ter acesso de riso. Sou quase tão comunista quanto o atual modelo chinês. Porto Alegre brilha e balança ao sol das ilusões. O Pontal do Estaleiro não ficou uma beleza? Pode ser. Uma beleza estranha de elefante branco. O Embarcadero está ótimo. Para quem tem grana.

Não gosto de nada? Sou rabugento? Que fazer? Acho que morei tempo demais na França. Quero sempre mais e não me constranjo em reclamar. Os franceses estão furiosos com a mudança da idade da aposentadoria por decreto. Aqui, passou sem muita dor nem manifestações. Quero parques para caminhantes, árvores, gramados, pássaros e gambás (não etílicos). A Redenção clama por nova vegetação. Estacionamento, obrigado.

De qualquer maneira, parabéns, Porto Alegre. Felicidade para nós.

Faz anos que Porto Alegre anda meio de lado.

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