Juremir Machado da Silva

Que cidade queremos?

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Que cidade queremos? “Porto Alegre era moderna na época dos bondes” | Foto; Filipe Karam / PMPA

A modernidade, na definição de pós-modernos como Michel Maffesoli, tem três pilares: razão, progresso e emancipação. Uma escadinha: alcançar a emancipação (ficar livre de todas as crenças, dogmas, superstições, amarras e atrasos) graças ao uso progressivo da racionalidade, avançando sempre a passos longos do suposto menor para o maior, do pretensamente inferior para o superior, da dependência à autonomia, da inação à ação. Os pós-modernos veem nessa ideologia, pois se trata de uma, a marca do antropoceno: ilusão humana de dominar a natureza, de ser dela senhor absoluto, destruindo-a, fé cega no progresso tecnológico como libertador e encobrimento da dimensão emocional do ser humano e da interdependência entre todos no mundo.

Que cidade queremos para Porto Alegre? A modernidade de Dubai ou, mais perto, de Camboriú? Edifícios tentando alcançar as nuvens e fazendo sombra às margens do rio, que essa história de lago ainda não convenceu? Parques e praças administrados por empresas privadas e só sendo considerados vivos se dominados pela lógica da mercadoria? Essa modernidade da razão – progresso – emancipação ainda é moderna? Ou já pode ser considerada um atraso nos lugares onde nasceu? Será mais uma modernidade que chega tarde neste sul do mundo em outros ritmos?

Porto Alegre era moderna quando tinha bondes. Tornou-se antiga ao preferir os ônibus movidos a combustíveis fósseis. Terá coragem de voltar atrás para saltar à frente e ter novamente transporte elétrico? O Rio Grande do Sul era moderno com uma malha ferroviária, desmantelada pelo atraso dos caminhões. Nesse sentido, a velha Europa nunca foi plenamente moderna. Preserva seus trens e bondes. Há cada vez mais vontade de recriar condições de vida próximas da natureza, numa escala dita humana, fora das enormes caixas de vidro e aço. Os gestores deste canto do mundo parecem não saber disso. Ainda se acham modernos por apostar em modernidades do longínquo século XX. Ou XIX?

Grite modernidade e levantarão a mão todos os conservadores do lugar. O que eles querem conservar? A liberdade de tratar a natureza como um depósito de onde se poderia tirar matéria-prima indefinidamente, um saco sem fundo capaz de prover riqueza para os que não preveem o seu esgotamento. Talvez pudessem ler o livro de Bruno Latour, “Nunca fomos modernos”. Veriam, numa leitura heterodoxa, que talvez sempre tenham sido antigos. Mas arrogantes e donos da razão.

O positivismo de Auguste Comte preconizava “viver às claras”, como se pode ver na Capela Positivista da João Pessoa, em Porto Alegre, joia arquitetônica e histórica de uma época ambiciosa. Os positivistas gaúchos gostavam dessa clareza, mas fraudavam eleições pelo bem da pátria e das suas luzes. Comte acreditava na ciência e na paz de espírito. Os nossos positivistas incorporaram a essa filosofia o método ecológico de eliminar adversários, sem gastar pólvora com chimango ou maragato, a degola. E assim modernizamos a modernidade, sempre com algum tempo de atraso e privilégios para alguns grupos.

Avante, gaúchos, para trás!


Tambor tribal (Bombando em podcast)

Há quem pense ser fácil bombar em podcast. A galera da internet, porém, curte coisas com uma pegada, digamos original. Como concorrer com Sabrina Sato e Marcelo Adnet entrevistando Deborah Secco e seu marido Hugo Moura? Principal assunto: o tamanho do pau (isso mesmo) do entrevistado, que Deborah, depois de descrever todas as características do membro, definiu assim: “Parece um copo”. A repercussão na mídia foi enorme. E gente só querendo falar de livros.


Parêntese da semana

“Parêntese #188: O amor não tem receita”. Luisa Kiefer: “A edição de hoje traz textos em homenagem ao cientista político José Murilo de Carvalho e ao pintor Fernando Baril, falecidos recentemente. Também temos a primeira colaboração do escritor e poeta Bruno Negrão por aqui, com uma crônica sobre as diferentes formas do amor. Outra novidade é que agora o Luís Augusto Fischer é nosso correspondente lá de Princeton, New Jersey, Estados Unidos – onde foi passar um semestre como professor visitante – e inaugura hoje a coluna Aqui na gringa”.


Frase do Noites

Filosofia de bolso: “Seja moderno. Saiba permanecer antigo”.


Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ao ar todo sábado na FM Cultura, 107,7, numa parceria da Cubo Play com Matinal e revista Parêntese, Nando Gross, Luís Augusto Fischer e eu conversamos com o músico Ian Ramil. Em pauta, a sua carreira, a família Ramil, as dificuldades de um músico num Estado periférico para encontrar o seu espaço, influências e, claro, duas canções durante o programa para a gente degustar.


Escuta essa

Tinha show do Caetano Veloso no Araújo Vianna. Gripado, o artista cancelou. Fiquei em casa escutando as dez melhores do mestre. Como se diz, uma melhor do que a outra. Coloque na ordem do seu gosto.

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