Juremir Machado da Silva

Expectativas eleitorais

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Expectativas eleitorais Foto: Ricardo Stuckert / PT

O que pode um eleitor de esquerda esperar de Lula como presidente da República? Imagino eu que o eleitor quererá que certas reformas sejam reformadas. O tal revogaço. Se não for para alterar a reforma trabalhista, tributária e da previdência, para que então? Não que tudo na reforma da previdência seja absurdo, mas uma parte substancial poderia ser revista, a começar pela idade mínima. Ficou alta para este Brasil em que se morre até de desencanto e se chega esgualepado aos 65. Já a reforma trabalhista é um atentado contra quem ganha a vida suando de verdade.

Mudar as principais reformas depende do parlamento. O atual só pensa em fazer o bem aos ricos e a si mesmo, caso se permita a redundância. Em consequência, para mudar será preciso alterar também a composição do Congresso Nacional. Sem uma boa bancada, o presidente terá de negociar com os velhos vendilhões do capitalismo de coalizão. Tem muita coisa, porém, que só depende da Mont Blanc de Lula. Bic é coisa de populista. O Brasil não precisa de agrotóxicos proibidos em agriculturas civilizadas. Militares podem ter menos privilégios. Lula terá de gastar muita tinta e cansar a mão anulando a passagem da boiada. A turma dos camarotes vai berrar. A direita Miami denunciará uma guinada para o comunismo. Lacerdinhas e olavetes chiarão no estilo que os caracteriza: “Comunismo avança sobre os ganhos da modernidade”.

A reforma trabalhista foi feita sob uma base falsa, a de que a CLT era uma velharia dos anos 1940. Foram centenas as adaptações, alterações e modernizações ao longo do tempo. A nova legislação dificultou, de quebra, o acesso à Justiça do Trabalho. Um enorme estrago. O golpe que derrubou Dilma Rousseff (o ministro do STF Luís Roberto Barroso disse que as tais pedaladas foram só pretexto) abriu caminho para a desregulamentação generalizada. Michel Temer, o breve, último usuário da mesóclise, estendeu a sua ponte para o passado. Jair Bolsonaro, o interminável, completou o serviço sujo. Muitos empregos foram criados? Era o prometido. Não rolou. Tem a pandemia para culpar.

O que pode esperar o eleitor de Jair Bolsonaro? Certamente que ele leve adiante algumas promessas de 2018: aprovar a educação em casa e o excludente de ilicitude, chamado pelos críticos de autorização para a polícia matar, e diminuir a maioridade penal. A pauta de comportamento, que ficou pelo caminho, será o ponto crucial. Bolsonaro tentará aprovar parte desse pacote ainda neste ano para melhorar as suas possibilidades eleitorais.

O eleitor de Sérgio Moro vai apostar tudo no combate à corrupção, preocupação recorrente do udenismo desde os tempos do brigadeiro Eduardo Gomes e, na sequência, do inflamado Carlos Lacerda.

Os demais candidatos patinam. João Dória Jr. encontra-se atolado. Ciro Gomes tem programa econômico. Faltam-lhe, pelas pesquisas, votos.

Velhos amigos

O que era o PSL? Um derivado tardio da velha ARENA. E o DEM? Um fruto direto do partido da ditadura, tendo sido PFL por algum tempo. O que é o União Brasil? O reencontro dos que nunca se separaram de fato ou só se afastaram para melhor preparar aliança renovadora. O que pode ser uma federação entre União Brasil, MDB e PSDB? Um monstrengo. Uma cruza da ditadura com seus opositores consentidos. Talvez o PSDB fique em cima do muro. O MDB parece mais disposto a dar o grande salto. Em política tudo é possível, salvo, em certos casos, a verossimilhança.

O PCO (Partido da Causa Operária) tem, segundo seu presidente Rui Costa Pimenta, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, uma visão ampla.

“O que o sr. acha de bolsonaristas elogiando o PCO em redes sociais? 

Acho natural, é um ponto de intersecção que existe. Assim como há setores de direita que são nacionalistas. Nós defendemos também, somos anti-imperalistas. Em alguns casos, você poderia atuar em conjunto com esses setores.

Não haveria problema então, em determinados pontos, trabalhar em conjunto com a direita? 

Não teria problema, porque nós consideramos que a implementação de qualquer um desses pontos será favorável ao povo brasileiro.”

O que pode ser um cruzamento, mesmo pontual, entre o PCO e bolsonarismo? Um lobisomem. Talvez.

Frase do Noites

Iluminista obscuro, Noites filosofa à luz de velas: “Tinha razão Marshall McLuhan, o meio é a mensagem. Não importa o que se diz, mas onde se diz. É por isso que o silêncio é sempre o melhor discurso”.

Passando em revista

Na Parêntese, Eron Duarte Fagundes resenha “Estevão” (editora Faria e Silva, 2021), de André Caramuru Aubert. Vale conferir.

Para ouvir na calada da noite

Mercedes Sosa, a voz da América Latina: “Todo cambia”:

Contato: [email protected]

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