Juremir Machado da Silva

Sensações estéticas na Bienal do Mercosul

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Sensações estéticas na Bienal do Mercosul Foto: Juremir Machado da Silva

A 13ª Bienal do Mercosul está na área. Em mais de dez lugares de Porto Alegre, do galpão 6 do Cais do Porto à Fundação Iberê Camargo, passando por Santander Cultural, Memorial do RS, MARGS e Casa de Cultura Mário Quintana. Fui conferir. Experimentei sensações estéticas de vários tipos, formas, cores, provocações e até vertigens. Demais.

O tema geral da Bienal é Traumas, Sonhos, Fugas. Quem não se vê nessas linhas, ainda mais em tempos pandêmicos? Traumas vivido em doses homeopáticas ou em perdas abruptas e sem volta. Sonho sonhado a cada dia: a volta ao normal, andar na rua, esquecer a máscara, abraçar como antes, como nunca, como sempre, de corpo inteiro. Fugas que se tornaram cotidianas, corriqueiras, permanentes, imperativas. Sonho de fugir do trauma, de brincar de roda, de voltar no tempo, eliminar o vírus, acordar do pesadelo, estender o braço não só para a vacina, mas para a tatuagem, para o traço, o rastro, a aragem da vida inteira.

No MARGS, o espaço destinado a Lígia Clark é show.

Foto: Juremir Machado da Silva

No Santander, as obras do mexicano Rafael Lozano-Hemmer sacodem o torpor da alma e a letargia do corpo. “Pulse”, instalação interativa, permite misturar batimentos, pulsações que se irradiam. A arte contemporânea não busca a mera contemplação. Não se contenta com o olhar apático do espectador. Quer a participação do público. Reclama braços, pernas, mente, corpo, espírito. Há quem se intimide. As crianças adoram e se esbaldam. O reino da arte requer o desarmamento dos controles sociais que domesticam e asseguram a ordem linear.

Na Casa de Cultura Mário Quintana é possível enredar-se numa travessia que agarra aquele que se aventura. A sensação é deliciosa e, ao mesmo tempo, inquietante: consigo, não consigo, devo voltar para trás. Cada um que descubra as obras das quais estou falando: pulmão, colchões, camas, imagens, bandeiras coloridas, arte na rua. Há quem se espante, quem se choque, quem repita, como sempre, mas isso não é arte, e depois se pergunte: por que não? Se os rabugentos balançam a cabeça, os insurgentes balançam o corpo e consomem arte com os dentes.

Foto: Juremir Machado da Silva

Foi um domingo ensolarado, família na rua, no parque, no museu, atrás da arte, essa arte que não se contenta em ser vista, pega pelo pé, pelas mãos, pelos olhos, tudo, enfim, e devora, mostrando, em imagens distorcidas, espelhos provocadores, a imagem de quem só pensava ver, não ser visto, espiar, não se entregar, capturar a obra, não ser capturado por ela, digerido, absorvido, deglutido e devolvido como uma instalação que anda por aí julgando e distribuindo pontos.

A Bienal do Mercosul não pode ser vista numa única incursão. Demanda mais tempo, condição física e abertura de espírito. Depois dessa primeira abordagem, dormi esgotado e feliz. Sonhei que era uma instalação. Diante de mim espectadores perplexos respondiam a questões que eu não havia feito. Então, subitamente, eu me desintegrava, passando de esfinge a eleitor. Uma grande viagem. Arte na veia.

Depois de dois anos, andei alegre pelo Centro Histórico.

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Terra Mátria com Alex Saratt, presidente do CPERS:

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