Juremir Machado da Silva

Transporte público gratuito

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Transporte público gratuito Garopaba (SC) já adotou tarifa zero no transporte | Foto: Prefeitura de Garopaba/Divulgação

O futuro vem de ônibus grátis. Talvez até de metrô. O leitor duvida e faz pouco dessa notícia? Cuidado. O Brasil já tem dezenas de cidades que não cobram passagem pelo transporte público e tudo continua funcionando. Seis capitais brasileiras, entre as quais São Paulo, pretendem adotar essa solução que põe em desespero os prefeitos privatizadores. A chamada do jornal O Estado de São Paulo dá um choque inclusive nos uberistas mais apaixonados: “Tarifa zero no transporte público promete dominar eleições de 2024 após chegar a 72 cidades do País”. Quando se pensou em algo próximo disso em Porto Alegre até a esquerda foi contra. Mas é o melhor caminho para resolver um problema que afeta milhões de pessoas com pouco recursos. Quem vai pagar a conta? Os nossos impostos e contribuições de certos setores.

A direita nunca vai aceitar? Ledo engano, se o leitor me permite recorrer a uma expressão tão original. O presidente da Câmara dos Vereadores de São Paulo, Milton Leite, integrante do União Brasil, última versão da ARENA, é ardoroso defensor da ideia: “Estamos acompanhando os estudos, acho altamente viável. Sempre tem um burocrata criando uma dificuldade ou outra, mas acho que a mudança virá. Ou vem a tarifa zero, ou no futuro embate político, o (Guilherme) Boulos vai dizer que vai fazer isso e ganhar a eleição”. Se Boulos não prometer passagem gratuita, perde a eleição. Em entrevista à revista Veja, Leite foi enfático: “Sou a favor da tarifa zero de qualquer forma. Talvez com alguma tarifa verde, ou pegar o vale-transporte como suplemento. Mas aplicaria já em novembro”. Vai então?

Ainda não dá para cravar. Interessante é pensar que o impossível de repente se torna viável. Aquilo que sempre foi apresentado como utópico se transforma subitamente em solução. O Movimento Passe Livre, de 2013, continua dando frutos. O que pensa o prefeito de Porto Alegre sobre isso? Cidades europeias aplicam esse modelo. A circulação sem custo pode dinamizar atividades. O perigo é o Uber se sentir prejudicado e ameaçar ir embora do país. A Califórnia resolveu fazer as Big Techs pagarem pelo uso de conteúdos jornalísticos que distribuem. O grupo Meta botou a boca no trombone. Ameaça retirar das suas páginas tudo o que for jornalístico se a lei for confirmada. Fez o mesmo na Austrália e acabou recuando. O que tem isso a ver com ônibus gratuito? Talvez nada. Talvez tudo. Haverá, enfim, almoço grátis? Não. A conta será dividida com a sociedade inteira pelo seu próprio bem.

São Paulo poderá ser o grande teste mundial. O transporte coletivo na França, mesmo com pagamento de passagem, é altamente subsidiado. Os privatistas não precisam cortar os pulsos. Sempre se poderá terceirizar o serviço. O leitor poderá se abastecer de informações com este ótimo texto da BBC News Brasil.

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