Juremir Machado da Silva

Triunfo paradoxal da direita

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Triunfo paradoxal da direita Votação no Centro de Porto Alegre (Foto: Joana Berwanger)

Uma eleição de paradoxos. Lula fez mais votos. Jair Bolsonaro saiu com a sensação de vitória. Candidatos de centro a governos de Estado, como Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul encolheram. Candidatos de pegada ideológica forte triunfaram. Cinquenta e um milhão de eleitores querem Bolsonaro bis. O rendimento de Lula no Sudeste ficou aquém do esperado. Os institutos de pesquisa erraram muito e também acertaram. O escore total de Lula ficou praticamente no previsto, 48,43%. A expectativa era de 50%. O de Jair Bolsonaro transbordou a fotografia. Terminou em 43,20%. Sete pontos acima do estimado. Na reta final, eleitores de Ciro Gomes, que ficou ainda mais nanico, com 3,04%, migraram para o capitão. É só fazer as contas. Ciro caiu de 4 a 6 pontos. Simone Tebet ficou no esperado, 4,16%.

O triunfo da direita é esmagador na Câmara dos Deputados: o Partido de Liberal, de Bolsonaro, fez 99 cadeiras. O União Brasil, uma das mutações da ARENA, pilar da ditadura, ganhou 59 deputados federais. O Progressistas, outro braço da velha ARENA, caiu de 58 eleitos para 47, mais segue com uma bancada robusta. O Republicanos, partido da Igreja Universal do Reino de Deus, ficou com 42 vagas na câmara federal, perdendo duas. O MDB, que foi oposição à ditadura e atualmente se divide em bolsonaristas e lulistas, cresceu de 37 para 42. Somando estes e os partidos pequenos, a direita domina. A Federação Partido dos Trabalhadores/Partido Verde/Partido Comunista do Brasil ficou com 79 cadeiras. O Brasil mostrou ser de direita.

Os ministros de Jair Bolsonaro que concorreram se deram bem. Foram eleitos para o Senado, que teve renovação de mais de 80%, Damares Alves, aquela do “menina veste rosa, menino veste azul”, Tereza Cristina (ex-ministra da Agricultura), o astronauta Marcos Pontes (da Ciência Tecnologia), Rogério Marinho e o vice-presidente, general Hamilton Mourão, que, sem morar no Rio Grande do Sul, virou senador gaúcho. Bolsonaristas de primeira ordem também se deram bem na disputa por governos de Estado. Tarciso de Freitas chegou em primeiro lugar em São Paulo e disputará o segundo turno contra o petista Fernando Haddad em posição de força. Onyx Lorenzoni terminou na liderança no Rio Grande do Sul e parte soberano contra o ex-favorito Eduardo Leite, que terá de fazer uma escolha de Sofia: ele, que já apoiou Bolsonaro, terá de abrir apoio para Lula se quiser ter os votos dos petistas e alguma chance de vencer. Se ficar neutro, morre.

Lula parece bem perto da vitória. Mas é uma posição delicada. Para vencer terá de herdar parte dos votos dos 3% que morreram abraços com Ciro Gomes e dos 4% que deram posição de destaque a Simone Tebet. O primeiro passo seria conseguir que Ciro e Simone aderissem formalmente à sua candidatura. O segundo, sair melhor nos debates, onde não foi tão bem, mesmo que tenha melhorado no da Globo. Há quem espere um segundo turno de propostas. Mais fácil imaginar que será uma carnificina. Jair Bolsonaro deu entrevista depois dos resultados com ar de homem razoável. Um novo figurino? Metamorfose? Estratégia? Vai ser comedido para ganhar o centro? Mais fácil esperar que se torne ainda mais violento. É da sua natureza. Vai certamente explorar dois temas: a corrupção e o Auxílio Brasil de seiscentos reais. Outubro será um mês de calafrios.

Venceu a polarização. Não teve para mais ninguém.

O Brasil divide-se entre direita e esquerda sem espaço para terceira via.

A pandemia não diminui o encantamento de quase metade dos eleitores com Bolsonaro.

O ex-juiz Sérgio Moro e sua esposa, Rosângela, foram eleitos. Ele, para o Senado, pelo Paraná. Ela, para a Câmara dos Deputados, por São Paulo. Deltan Dallagnol, chefe dos procuradores da Lava Jato, foi o candidato mais votado do Paraná para deputado federal. A Lava Jato está bem viva e dando frutos. Enganou-se quem já a havia sepultado.

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