Juremir Machado da Silva

Tudo em todo lugar ao mesmo tempo

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Tudo em todo lugar ao mesmo tempo Imagem: Divulgação
Eu sou um menino bem-comportado. Procuro realizar minhas tarefas sem ninguém me mandar. Se não for assim, sinto culpa. Sou ansioso. Parece que a ansiedade exacerba o sentimento de culpa. Calma, leitor, não farei desta coluna uma sessão de terapia, ainda que pudesse valer a pena, pois minha alma, vampirizando o poeta em pessoa, garanto, não é pequena, o que permite pensar em grandes traumas e vastos segredos para analisar. Fica para outra oportunidade. Vamos ao que interessa: todo ano, antes da cerimônia do Oscar, que acho tão emocionante quanto um discurso do Arthur Lira em defesa da ética na política, eu vejo ao menos alguns dos filmes favoritos a arrebatar as estatuetas. Li que, em 2023, “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, filme asiático produzido nos Estados Unidos, recebeu o maior número de indicações ao Oscar.

Corri para o streaming e aluguei o filme, que é dirigido por Dan Kwan e Daniel Scheinert, com interpretações de Michelle Yeoh, Jamie Lee Curtis, Stephanie Hsu e Ke Huy Qua. Custei a achar o horário ideal para a sessão. Não troco minhas rotinas tão facilmente. Acabei, diante do lamentável desempenho do Internacional em Santa Cruz, fugindo para o cinema em casa. Confesso que a minha expectativa era quase tão grande quanto a que cheguei a ter com o time de Mano Menezes na primeira rodada do Gauchão. A decepção não se fez esperar. O filme conta a história de uma senhora chinesa, dona de uma lavanderia nos Estados Unidos, às voltas com papéis para não ser devorada por impostos. Ao mesmo tempo, ela frequenta mundos paralelos com o marido. Sim, mundos paralelos, multiversos, realidades simultâneas, saca?

Aviso: sou persistente. Ainda verei esse filme até o fim. Tudo dependerá da performance do Internacional nas próximas semanas. Tenho 30 dias para terminar de ver sem precisar alugar de novo. Consta que é uma comédia sobre conservadorismo, imigração, choque de culturas e burocracia. Nos quase trinta minutos que vi, com o mesmo entusiasmo antes dedicado ao futebol do centroavante colorado Alemão, não ri. Tenho certeza de que, como ainda faltam quase duas horas, darei boas gargalhadas. As gargalhadas são sempre boas no jornalismo. Por enquanto, só uma conclusão chegou ao meu cérebro desmilinguido: que troço confuso. Sou chato e quadradinho? A hipótese é promissora. De que tipo de filme eu gosto? “Argentina, 1985” me arrancou lágrimas. Confesso: eu tenho implicância com comédias. Em geral, acho besteirol. Humor para mim sempre foi de Woody Allen para cima. Os franceses, por exemplo, fazem uma comédia pior do que a outra. Os brasileiros conseguem ser piores ainda, é de Danilo Gentili para baixo.

Tem alguém menos engraçado do que Danilo Gentili? Tem. Não falarei do Paulo Vieira para não comprar briga, além de que ele é melhor do que Gentili sem mexer um músculo da face. Sou alienado. Só tomei conhecimento da história de Paulo Gustavo quando ele morreu. Não digo isso para bancar o intelectual nem me fazer de bonzão. Falo a verdade. Vivo num mundo paralelo. Os livros de Michel Houellebecq me fazem rir muito. Marcelo Adnet já me fez rir duas vezes. Luis Fernando Verissimo, com quem briguei quando era jovem, me fazia rir. Jô Soares e Chico Anysio também. Pronto, entreguei: sou nostálgico, tiozinho apegado ao seu tempo. O pior é que não acho aquele tempo melhor. Os indicadores atuais são, em geral, melhores, salvo em humor. Enfim, verei “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” e darei minha opinião.

Continua...

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