Juremir Machado da Silva

Ameaça ao NEEJA Paulo Freire

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Ameaça ao NEEJA Paulo Freire Reprodução/Facebook

NEEJAs são Núcleos Estaduais de Educação de Jovens Adultos. O NEEJA Paulo Freire está há 38 anos na rua Coronel Bordini, 190, numa das áreas residenciais mais prezadas da capital gaúcha. Recebe, em maioria, alunos da zona norte de Porto Alegre, que usam um ônibus para chegar à escola ou se deslocam a pé depois de um dia de trabalho em bairros como Moinhos de Vento. O prédio, uma bela casa, porém, está com problemas no telhado. O custo da arrumação varia de R$ 13 mil a R$ 50 mil, segundo informações de professores do estabelecimento. A Secretaria de Educação, contudo, prefere transferir temporariamente tudo para o espaço da antiga escola Felipe de Oliveira, perto do falecido Ginásio da Brigada Militar, hoje bastião da Melnick, a uma distância de cinco quilômetros da atual sede.

Qual é o problema? Os alunos terão de pegar dois ônibus. Ficará mais longe e mais caro, o que não é pouco para quem trabalha muito, ganha pouco e mora longe. Por que não consertar logo o telhado da escola? Por que não usar, como sugerem professores, espaços ociosos de colégios próximos do NEEJA Paulo Freire? Se é para mudar, por que não levar o NEEJA para mais perto do seu público, na zona norte da capital? O professor Sílvio Alexandre tem uma lista de escolas que poderiam receber o NEEJA Paulo Freire por algum tempo sem o deslocamento que está sendo proposto. Segundo ele, os prejudicados serão, em maioria negros, mulheres pobres, base do corpo discente do Paulo Freire, que, em 2023, teve quase 2 mil alunos. Por que isso?

Os NEEJA não elegem seus diretores, que são indicados pelas instâncias superiores da Educação. Sílvio Alexandre lembra que o estrago no telhado foi provocado inicialmente por ladrões que tentaram roubar aparelhos de ar-condicionado. As chuvas de janeiro fizeram o resto. Só se pode imaginar que tudo não passe de uma enrolação da burocracia. Ninguém ousaria acreditar em algum interesse da especulação imobiliária. Muito menos em preconceito com Paulo Freire.

Não é fácil ser estudante carente e noturno diante das desrazões da burocracia, que, muitas vezes, de salas acarpetadas e refrigeradas, toma decisões sem levar em conta o cotidiano dos principais interessados. Explicações nunca faltam e costumam ter a coerência dos argumentos abstratos, pretensamente universais ou marcados pelas lógicas econômicas. Não faz muito, surgiu um projeto de compra de livros pela Secretaria Estadual da Educação do Rio Grande do Sul sem o menor contato com editoras gaúchas e sem os grandes autores do Estado. O Clube dos Editores protestou. O plano naufragou. Agora, o NEEJA Paulo Freire pede socorro. Os argumentos apresentados são consistentes. Esperamos para ver que coelho sairá desse rolo.

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