Juremir Machado da Silva

Quem vai fazer a guerra parar?

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Quem vai fazer a guerra parar? Foto: Ted Eytan

O conflito entre israelenses e palestinos parece não ter fim. Esse é um clichê ouvido desde muitas décadas. A intervalos mais ou menos regulares, uma nova tragédia. Qual a saída? O aparentemente impossível: dois Estados, uma vontade de compreensão. Enquanto organizações como o Hamas pregarem a extinção do Estado de Israel e praticarem atentados terroristas contra inocentes não haverá paz. Enquanto Israel não aceitar um Estado palestino e não parar de implantar colônias em terras palestinas a paz será uma miragem. A vitória não será dos sionistas nem dos fundamentalistas islâmicos. Não será do passado sobre o futuro. Nem dos ressentimentos acumulados.

O Hamas não pode matar a esmo judeus para criar acontecimentos que chamem a atenção para a opressão dos palestinos por Israel. Isso se chama terrorismo. Israel não pode praticar uma punição coletiva, atirando sobre palestinos encurralados em Gaza, matando civis, em grande parte mulheres e crianças. Se o Hamas mata sem escolher as vítimas, condenando-as pelo simples fato de serem judias, Israel pouco se preocupa com os efeitos secundários de suas ações militares contra membros do Hamas. Se o terrorismo atira para matar sem se preocupar com a individualidade e a singularidade dos alvos, a reação militar israelense mata por atirar sobre lugares congestionados de pessoas. Inocentes morrem porque o ataque errou o alvo ou produziu estragos inesperados. Cada criança que morre atesta o fracasso da operação.

A mortandade em Gaza não tem a dimensão nem a natureza do Holocausto. Nem por isso deve ser minimizada ou normalizada. É horrenda, injusta, inaceitável, condenável. Israel tem direito de se defender. O direito de defesa não pode se amparar em qualquer tipo de ataque. Israel precisa se livrar dos seus extremistas que só pensam em avançar sobre terras palestinas. Os palestinos têm de se desembaraçar do Hamas e de outros dispositivos desse tipo. Enquanto um lado disser que o outro não tem legitimidade para estar lá, a paz será utopia. O Ocidente compensou judeus com um Estado na Palestina para se purgar dos crimes do nazismo. Pagou-se uma dívida e criou-se outro problema.

A paz tem nome: dois Estados. Como convencer, porém, cada lado a aceitar o outro? Enquanto um lado disser que tudo ali lhe pertence por um legado de 2 mil anos atrás e outro lado alegar que há 700 anos aquelas terras passam de geração em geração pelas suas famílias, o impasse continuará. Os direitos do passado longínquo não conseguem regular o entendimento no presente nem dar sustentação a uma paz no futuro imediato. As dores, perdas e violências das últimas décadas são mais fortes do que qualquer fundamento anterior. Europa e Estados Unidos poderiam bancar dois Estados ali e assegurar a paz entre eles?

Nada mais duvidoso. Certo é que como está não pode ficar. Há uma carnificina em curso. Os métodos e argumentos até agora usados para frear o derramamento de sangue se mostraram ineptos. A cada dia, a cada ato, a cada operação, de lado a lado, só o ódio cresce. Quem vai fazer a guerra parar? Não sei. Parece que se está trabalhando para que ela permaneça no imaginário pelos próximos séculos. Que tristeza!

Tambor tribal

Foto: Ricardo Duarte / Internacional

Teve Grenal. O Inter ganhou por 3 a 2. Torcedores do Grêmio garantem que o árbitro sonegou um pênalti para o tricolor e marcou um inexistente para o colorado. Torcedores de Inter ironizam: o Grêmio não perde: ganha, empata ou é roubado. Adoradores da técnica asseguram que com o VAR não haveria polêmica, embora pudesse até haver mais, como acontece muitas vezes. No futebol a paixão comanda tudo e sempre se traduz em certezas. Essa é a magia e a cegueira da coisa. Delicioso paradoxo. Títulos provocativos: clubismo, a doença infantil do torcedor; fanatismo, a doença óbvia do fã; especialismo, a crença do comentador. O maravilhoso do futebol é que todo mundo entende e isso não é depreciativo, mas inclusivo. Aqueles que se julgam os entendidos acertam e erram como os que são acusados de não entender. Pelé errava em análises. Alguns confundem entender com ter mais informações pontuais sobre o estado do esporte. Por exemplo, qual o lateral direito do time X ou Y da Ásia. Feito de julgamentos apressados, passionais, provocativos e definitivos, o comentário do torcedor delicia, encanta, consegue adeptos ou esborracha-se contra fatos.

Outros confundem entender com se apaixonar pela última novidade. Afinal, o capitalismo de consumo é dominado pela lógica do sempre novo. Uma dose de informação, duas de opinião, três de convicção, quatro de retórica e cinco de vontade de ganhar uma discussão. Eis a receita. Entre o torcedor e o analista as doses costumam ser diferentes. Na busca por audiência, emissoras apostam cada vez mais na lógica passional do torcedor. A ideia de um comentarista neutro, imparcial, objetivo, frio e distanciado, interpretando dados como um cientista positivista impermeável ao erro e à paixão, está em crise.

Deu Inter. Podia ter dado Grêmio. O futebol é feito de estratégias, qualidades individuais e coletivas e muito acaso. O melhor comentarista de futebol do país sabe disso. Chama-se Tostão. Um discípulo de Edgar Morin. Futebol exige um olhar complexo, capaz de englobar as suas contradições, paradoxos e paixões. Eis (quase) tudo.

Parêntese da semana

“Parêntese #214: Genocídio”. Luís Augusto Fischer: “Quem tem coração anda há semanas assustado, sofrendo sem saber o que fazer, com o que acontece em Gaza, em que 30 mil pessoas morreram (talvez um terço delas crianças), 70 mil foram feridas e umas 600 mil crianças palestinas passam fome, segundo o site Poder360, num processo disciplinado de guerra do governo direitista de Israel (não do estado de Israel em si, muito menos dos judeus como etnia) para vingar as 1200 e tantas vidas (mesma fonte) ceifadas pelo terrorismo do Hamas, a quem o atual primeiro-ministro jurou destruir a qualquer preço”.

Frase do Noites

Profissão de fé: “Erro, logo existo para me corrigir”.

Imagens e imaginários

No Pensando Bem, que vai ar todo sábado, 9 horas, na FM Cultura, 107,7, em parceria com a Matinal, a revista Parêntese e a Cubo Play, e apoio da Adufrgs Sindical, Nando Gross e eu entrevistamos o mitológico produtor musical gaúcho Ayrton dos Santos, mais conhecido como Patineti, apelido que lhe foi dado pela jovem Elis Regina. Daí já se vê tudo. Patineti faz parte da história da música do Rio Grande do Sul. Lançou grande parte dos melhores músicos do Estado.

Escuta essa

Feito um picolé no sol, do saudoso Nico Nicolaiewski, música mostrada, assim que ficou pronta, ao insone Patineti, que havia passado a noite numa gravação. O produtor escolheu o título da canção.

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