Editorial | Revista Parêntese

Parêntese #214: Genocídio

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Parêntese #214: Genocídio Yerevan, capital da Armênia. Foto: Serouj Ourishian

O racismo contra Éverton Goandate da Silva, o motoboy atacado com uma faca esses dias, aqui na Mui Leal e Valerosa, é mais um item da longa folha de horrores perpetrados por gente branca, socialmente confortável e direitista contra negros e pobres. A suplementar o evento, ao que tudo indica a Brigada se prestou a contestar a agressão, prendendo o agredido e deixando airoso e faceiro o agressor.

Isso aqui perto; longe daqui, a escala é outra.

Quem tem coração anda há semanas assustado, sofrendo sem saber o que fazer, com o que acontece em Gaza, em que 30 mil pessoas morreram (talvez um terço delas crianças), 70 mil foram feridas e umas 600 mil crianças palestinas passam fome, segundo o site poder360.com.br, num processo disciplinado de guerra do governo direitista de Israel (não do estado de Israel em si, muito menos dos judeus como etnia) para vingar as 1200 e tantas vidas (mesma fonte) ceifadas pelo terrorismo do Hamas, a quem o atual primeiro-ministro jurou destruir a qualquer preço.

Esses fatos correm o mundo instantaneamente, dada a atual velocidade de circulação de informações.

Agora imagine o leitor um massacre – reconhecido como genocídio pela maioria dos países europeus apenas em 2015 – ocorrido cem anos antes, em 1915, no contexto da Primeira Guerra Mundial. Nada de informação rápida, num mundo muito mais lento do que o nosso.

Isso ocorreu na Armênia, a remotíssima Armênia.

Corte.

Faz um mês e pouco, recebo email de um ex-colega, a quem não via e com quem não falava há quase 50 anos. Estudamos juntos por alguns semestres no curso de Geologia, na UFRGS, e chegamos a compor grupos de trabalho. Jaime Scandolara é seu nome. Ao ver o email assinado assim, me vieram aquelas lembranças.

O Jaime virou geólogo (eu desisti logo do curso), agora aposentado, trabalhou pelo Brasil afora e voltou ao Rio Grande. Falamos da vida, dos caminhos distintos, das famílias; ele me falou de seu filho, Daniel, atualmente doutorando em História na UFRGS.

Claro que eu queria saber dele. E soube: fez um mestrado na Armênia. Onde? Na Armênia, a própria.

E foi assim que nasceu o convite que fiz a ele para escrever sua história: como é que um brasileiro se interessa por aquele remoto país a ponto de ir lá cursar mestrado, aprendendo a língua e penetrando nos insondáveis mistérios daquele povo e região?

Eis que sai hoje o primeiro de cinco textos do Daniel Scandolara. Uma viagem a um genocídio de cem anos atrás, um périplo a um país, a uma cultura, a uma região inesperados.

Para além disso, ainda no rastro do carnaval, a edição de hoje traz um ensaio de Jackson Raymundo sobre a presença da literatura nas escolas de samba e nos sambas-enredo. Jandiro Koch apresenta mais uma figura LGBT notória: Juarez Soares de Lima. 
A temporada de veraneio está chegando ao fim e o texto de Tiago Medina relata umas memórias de praia, sobre o mercadinho da avenida que ganhou novos ares. Completando nossa seção de crônicas temos um humorado texto do esquivo e sempre instigante Moisés Mendes, um tipo de fábula sobre robôs e inteligência artificial. Maria Silvia Camargo escreve sobre o cotidiano que nos rodeia e tudo aquilo que é maior do que nós. E Juremir Machado da Silva nos brinda com um humorado diálogo entre Joe e Jill Biden, de madrugada, na cozinha da Casa Branca.  

P.S.: A estupidez anda de mãos dadas com a cretinice, e agora ambas aparecem de corpo inteiro na rejeição ao nome do Boca Migotto, cineasta e escritor, para ser o patrono da Feira do Livro de sua cidade, Carlos Barbosa. Ele divulgou uma carta aberta que diz o que precisa ser dito, com elegância. Confira.

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