Juremir Machado da Silva

Reforma tributária, vitória de Lula

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Reforma tributária, vitória de Lula Sessão que votou destaques à PEC da reforma tributária | Foto Lula Marques/ Agência Brasil

A Câmara dos Deputados é uma caixinha de surpresas. Essa máxima de mínima originalidade era aplicada ao futebol. Certos assuntos, na Câmara dos Deputados, parecem não existir. De repente, entram na pauta e são votados. Os desatentos resmungam: “Não teve discussão”. Ouvem a desconcertante resposta: “Tramitava há cinco anos”. A reforma tributária, tão sonhada e pouco publicizada, foi aprovada pelos deputados. Seguirá seu curso. Vitória de Lula? De Arthur Lira, que não tardou a cantar de galo? Do Centrão? Por incrível que pareça, vitória de todos esses e de outros mais. Dos deputados gaúchos só a extrema direita votou contra. Tem política gaúcho de extrema direita em partido que se diz de centro ou até de centro esquerda.

Afinal, a reforma é boa para os pobres ou para os ricos? A resposta mais honesta só pode ser esta: para os dois. Então é perfeita? Não. É imperfeita. É boa para os pobres na medida em que zera os impostos dos produtos da cesta básica. É boa para os ricos pois não taxa grandes fortunas. O Centrão sai vitorioso por ter fornecido votos que exigirão recompensas robustas. A presidência da Caixa Federal faz brilhar esses olhos. Lula é o grande vencedor. Conseguiu aprovar uma reforma que simplifica o cipoal dos impostos brasileiros, um dos maiores emaranhados do universo, corrige algumas situações e “despiora” o terrível conjunto. Em seis meses de governo, Lula tirou o país da imagem de imenso atoleiro e já lhe deu a cara de lugar aprazível e em permanente melhora. O doente saiu do coma. Já tiraram o respirador artificial. Voltou para casa. Ri sozinho.

O bolsonarismo midiático e religioso corre para conversar com Lula. Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, continua o furor privatizador. O governador Eduardo Leite correu para vender a Corsan antes que uma nova liminar o impedisse. Otimistas dizem que há um ponto positivo nessa onda privatista gaúcha: tanto privatiza que, em breve, as privatizações acabarão por falta do que privatizar. Vendido o almoço para comprar o jantar, sobrará a nostalgia dos tempos em que se podia fazer caixa vendendo algo. Vende-se por ideologia, mais do que por necessidade. É uma questão de DNA. Conta-se que um privatista não resistiu à tentação de vender a boia pública na qual tentava não morrer afogado. A margem de lucro nem era grande. O importante para ele era morrer como tinha vivido: trabalhando para diminuir o Estado.

Lula comemora. Sabe que política é a arte de negociar com o Centrão sem dele se tornar refém. É possível? Parece que sim. Teremos a resposta definitiva nos próximos três anos e meio. No andar da carruagem, Fernando Haddad se consagra como grande ministro da Fazenda, alguns já dizem que ele é o melhor de todos os tempos, e emplaca como candidato a sucessor de Lula, que poderia voltar para casa sem medo do retorno do bolsonarismo ao poder. Neste momento, o inelegível Jair Bolsonaro chora em público e ri em casa. Sem o poder de que tanta gostava, resta-lhe curtir os bons rendimentos.

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