Gal no cinema e Jornada do Contemporâneo
Cinebiografias estão na moda. Quem não quer ver a vida de Gal Costa em imagens? Estivemos entre os primeiros da fila para ver Meu nome é Gal, filme dirigido por Dandara Ferreira e Lô Politi, com Sophie Charlotte no papel da cantora. Como se sabe, Gal se chamava Maria da Graça. O empresário Guilherme Araújo decretaria que Maria da Graça era nome de freira. A turma baiana lembraria que em Salvador Gracinha era Gau. Testa daqui, testa dali, deu Gal. Caetano Veloso faria objeções: soaria general Costa (e Silva). Errou. Costa e Silva é uma triste nota de rodapé na história de Gal Costa e seus amigos.
O filme está levando pau da crítica por seu fim abrupto. De repente, salta uns 50 anos e termina. Mas também por falhas técnicas como o desencontro entre os movimentos dos lábios de Sophie Charlotte e a voz de Gal por trás. Nesse tipo de filme a gente fica tentando adivinhar quem é quem nos diferentes papéis e nem sempre dá para identificar. Outra crítica é que tudo passa rápido, atropelado, sem aprofundamento. Algo, porém, fica nítido: a personalidade de Gal. Ela sabia o que queria e não se dobrava para mãe, Caetano, produtor, exigências do espetáculo, jornalistas, público. Alguns ficam surpresos com a importância que ela tinha desde o começo para a turma da tropicália. Ela aparece como o centro vocal da grande aventura.
Não é um filme, na verdade, sobre a vida de Gal, mas sobre uma parte da vida dela, os primeiros anos, da chegada ao sudeste até a explosão em meio à ditadura militar. Vê-se outro mundo. Gal e seu bando eram libertários, liberados, livres, a sexualidade de cada um não era problema. Guilherme Araújo se apresenta a Gal dizendo “não estou paquerando você, sou viado”. Gal, que não conheceu o pai, despacha a mãe de volta para casa por não querer roupas engomadas nem intromissão em sua vida de sexo com meninos e com meninas. Quem diria que aquela turma disposta a acabar com a caretice da música e da vida no Brasil mudaria tudo e acabaria na Academia Brasileira de Letras!
Caetano e Gil foram presos. Viveram no exílio. Gal ficou carregando a flâmula do tropicalismo, deprimida, saudosa, em mutação radical, da menina tímida que não se mexia no palco, a ponto de rodar num primeiro teste, ao vulcão de divinas tetas e da postura categórica, ao mesmo tempo, discreta e transparente. O Brasil moderno passa por esses baianos que tomaram São Paulo e o Rio de Janeiro e fizeram dessas cidades uma extensão de suas antenas pós-tudo.
Gal e Elis em cartaz nos cinemas. Duas vozes inigualáveis, duas potências artísticas, duas personalidades incontroláveis e lindas.
O sul e o nordeste tomaram o sudeste e mudaram o país. Se um dia modernos brasileiros fizeram passeata contra a guitarra elétrica, no outro misturam tudo e tropicalizaram a música internacional. Tudo ficou mais barroco, mestiço, baiano, caudaloso, universal.
Se o filme Meu nome é Gal não passa de médio, a história de Gal Costa puxa para cima qualquer obra e vale a pena até ver de novo.
Jornada Anual do Contemporâneo
A Jornada Anual do Instituto Contemporâneo tem como propósito promover um espaço de reflexão e engajamento para aqueles que são inquisitivos e interessados na temática da violência. O evento busca criar um ambiente propício para que a violência seja pensada e enfrentada em seus múltiplos matizes.
É imprescindível que nos dediquemos a estudar e decifrar as complexidades da violência humana. Pensar nas violências institucionais, de gênero, doméstica, racial e outras na perspectiva da psicanálise na atualidade é crucial para compreender as dinâmicas complexas e multifacetadas envolvidas nessas questões.
Programação
19 de outubro (quinta-feira) – Noite – Evento online
19:50 – 20:00 – Abertura da Jornada
Com: Ângela Piva, César Bastos e Carlos M. N. Machado.
20:00 – 21:30 – Conferência de abertura da Jornada.
Título: “Violência na linguagem”.
Apresentador: Daniel Kupermann.
20 de outubro (sexta-feira) – manhã e tarde – Evento online
Manhã
8:00 – 10:00 – Apresentação de trabalhos científicos.
10:30 – 12:30 – Mesa: Violências baseadas em Gênero
Irene Fridman, Rochele Fachinetto e Diana Marcela Rodriguez Clavijo.
Comentarista: Andréia Ponsi.
Tarde
14:00 – 15:15 – Apresentação: “Psicopatia/sociopatia. Origens do sujeito ético”.
Apresentadora: Alicia Leone.
Comentarista: Rafael Lisboa dos Santos.
15:30 – 16:45 – Apresentação: “Violências institucionais: o trabalho em cena”.
Apresentadora: Fabiane Machado.
Comentarista: Maria Alice Targa.
16:45 – 17:45 – “As diversas faces da violação e os desafios na intervenção”.
Apresentação do Instituto Contemporâneo na sua atuação junto à comunidade – Grupo de Estudos e Intervenção em Situações Extremas.
21 de outubro (sábado) – Manhã e tarde – Evento presencial
Local: Hotel Plaza São Rafael(Av. Alberto Bins, 514 – Centro, Porto Alegre – RS)
Manhã
8:30 – 9:30 – Apresentação: “Violência racial”.
Apresentador: Ignácio Paim Filho.
Comentarista: Eliane Nogueira.
9:45 – 12:00 – Mesa: “Vinganças narcísicas e ressignificações traumáticas”.
Marina Calvo, José Carlos Calich e Carlos M. N. Machado.
Tarde
13:30 – 14:30 – Conferência: “Violências, ressignificações, intervenções simbolizantes”.
Marina Calvo.
14:45 – 15:45 – Apresentação: “Psicologia Forense: desconstrução da subjetividade”.
Apresentador: Jorge Trindade.
Comentarista: Elisabeth Mazeron Machado.
16:00 – 17:00 – Mesa: “Violência, sarcasmo e crueldade na literatura contemporânea”.
José Vicente Tavares dos Santos, Juremir Machado da Silva e Ariane Severo.
17:00 – Sessão de autógrafos coletiva, show musical e encerramento.
Informações e inscrições: [email protected]