Nando Gross

Desrespeito e impunidade: o drama das mulheres em uma sociedade dominada por homens

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Desrespeito e impunidade: o drama das mulheres em uma sociedade dominada por homens Durante muito tempo, Daniel Alves e Robinho atuaram juntos na seleção brasileira — Foto: Rafael Ribeiro/CBF/Divulgação

A desigualdade de gênero e o desrespeito às mulheres continuam sendo temas alarmantes em nossa sociedade. Recentemente, dois casos chocantes evidenciam a vulnerabilidade das mulheres e a impunidade que prevalece em casos de violência sexual. O primeiro envolve o jogador de futebol Daniel Alves, condenado por estupro após violentar uma mulher em um banheiro de uma boate em Barcelona. Apesar da condenação, choca-nos a notícia de que, mediante o pagamento de uma quantia exorbitante de 1 milhão de euros, ele será solto até o julgamento do recurso final. Enquanto isso, a jovem estuprada tenta seguir sua vida, enfrentando traumas profundos e uma batalha por justiça.

O segundo caso, não menos alarmante, é o de Robinho, envolvido em um estupro coletivo ocorrido em uma boate em Milão, na Itália, no dia 22 de janeiro de 2013. Após anos de impunidade e longe da Itália, foi condenado em última instância pela Justiça italiana. Entretanto, vivia solto no Brasil até recentemente, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que ele deverá cumprir a pena em território nacional. Coincidência ou não, foi somente após trocar o governo no país e depois de uma manifestação pública do então Ministro da Justiça, Flávio Dino, que a justiça colocou este caso em pauta. Ainda cabe recurso ao STF, que, infelizmente, tem apenas uma mulher na sua corte, sabe-se lá.

Esses casos escancaram a realidade brutal enfrentada pelas mulheres em uma sociedade que, infelizmente, ainda é dominada por homens. O desrespeito, a violência e a impunidade são apenas alguns dos elementos desse sistema injusto que perpetua o sofrimento e a marginalização das vítimas. Os homens se protegem, é uma espécie de rede organizada de proteção que funciona naturalmente, como se isto fosse a normalidade em uma sociedade civilizada.

É inaceitável que agressores, muitas vezes influentes e poderosos, possam comprar sua liberdade ou escapar da justiça por anos a fio. Enquanto isso, as vítimas são deixadas à própria sorte, lidando não só com as consequências físicas e psicológicas do trauma, mas também com a falta de apoio e proteção por parte das autoridades e da sociedade como um todo. É crucial que casos como esses não sejam apenas manchetes passageiras, mas sim catalisadores de mudanças reais e profundas em nossa cultura e sistema judiciário. Devemos exigir leis mais rigorosas e eficazes para punir os agressores, além de programas de apoio e proteção para as vítimas, garantindo que possam reconstruir suas vidas com dignidade e segurança.

No mundo do futebol, dominado pelos homens, é importante destacar o protagonismo de Leila Pereira, presidente do Palmeiras e principal dirigente esportiva hoje do país, uma mulher que surpreende a lógica machista que está enraizada no futebol. Leila está chefiando a delegação da seleção brasileira que está na Europa e, mesmo com o silêncio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) sobre os casos de Robinho e Daniel Alves, ela não ficou quieta:

“Ninguém fala nada, mas eu, como mulher aqui na chefia da delegação, tenho que me posicionar sobre os casos do Robinho e Daniel Alves. Isso é um tapa na cara de todas nós mulheres, especialmente o caso do Daniel Alves, que pagou pela liberdade. Acho importante eu me posicionar. Cada caso de impunidade é a semente do crime seguinte”, disse, Leila.

Importante também a manifestação do presidente Lula sobre a liberdade concedida a Daniel Alves:

“Eu aprendi em Pernambuco, quando era pequeno que as pessoas diziam: ‘Aqui no Nordeste quem tem 20 contos de réis não é preso’. E a gente tá vendo que essa máxima continua” … O dinheiro que o Daniel Alves tem ou o dinheiro que alguém possa emprestar pra ele, não pode comprar a ofensa que um homem faz a uma mulher participando de um estupro, quando o sexo é uma coisa feita a dois e tem que ser permitida e consentida por dois. Isso, na verdade, é crime. É contra essas injustiças que não podemos nos calar”, frisou Lula.

Enquanto a desigualdade de gênero persistir e o desrespeito às mulheres continuar sendo tolerado, nossa sociedade estará falhando em proteger aqueles que mais precisam de amparo. É hora de agir, de enfrentar essa realidade de frente e de lutar por um mundo onde todas as mulheres possam viver livres do medo e da violência. Um sujeito comprar a liberdade após cometer um estupro é algo nojento e mostra que, podendo pagar, tudo é permitido.

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